"Orbias - O Demónio Branco (Orbias 2)", de Fábio Ventura (Casa das Letras)
Sinopse:
As coisas mudaram desde a derradeira separação entre a Terra e Orbias há um ano atrás. Noemi é agora uma estagiária na redacção de uma revista em Grand City. Leva uma vida solitária e mantém pouco contacto com Adam e Lorelei. Mas enquanto se esforça para esquecer todos os trágicos acontecimentos do passado, o inesperado acontece: os seus poderes de Omnisciência regressam e volta a transformar-se em Guerreira. Para piorar a situação, está constantemente a ver o rosto de Sebastian e a sentir o seu perfume.
Será que afinal os mundos não foram definitivamente separados? Será possível o regresso a Orbias, para junto das outras Guerreiras? Na sua loucura obsessiva, Noemi convence-se a si própria de uma coisa: Sebastian está vivo!
Opinião:
Depois de ler o "
As Guerreiras da Deusa", era inevitável que acabasse a ler a sequela.
A primeira parte do livro foi algo semelhante a uma decepção. não tanto em termos de escrita, nem sequer em termos de desenvolvimento das personagens (que neste livro cresceram bastante), mas pela forma como a personagem principal (Noemi) decidiu lidar com a perda do seu amado, Sebastian.
Diferentes pessoas reagem de forma distinta à perda de alguém amado, mas a obsessão dela era doentia, e embora tenha amainado a partir do meio do livro, não desapareceu completamente e estava sempre lá, como um fantasma a conduzir todas as suas decisões. Por isso, foi absolutamente impossível sentir simpatia por esta personagem, e consequentemente ameaçou em muito o meu gosto pela leitura.
Ainda na primeira metade, pecou porque o autor, desejoso de nos explicar o que ficou por dizer no primeiro livro, engendrou formas de nos dar lições sobre os mundos e sobre as personagens, mas por vezes eram tão forçadas que perdiam o impacto. Não é que fossem chatas, mas simplesmente poderiam ter sido mostradas de uma outra forma.
Já a segunda parte foi mais interessante, tanto porque a Noemi deixou de ser tão irritante (embora o que ela fez com o corpo da Mia, não tenha desculpa), como porque o autor conseguiu fazer o que na primeira metade falhou em alcançar. Explicou, expôs e ensinou, sobre o mundo, sobre as personagens e sobre as suas emoções, de forma muito mais interessante e fluída.
Quanto às personagens, estas foram muito mais bem exploradas neste livro. Principalmente a Noemi e o Sebastian, mas também a Belladona (que adorei), o Adam e a Riddel. Já as restantes também tiveram direito a mais algum desenvolvimento (menos a Rouge, que foi muito negligenciada.) mas, pelo menos no caso das outras guerreiras, esperava um pouco mais.
*Atenção, spoilers*
Aliás, a minha personagem favorita foi mesmo o Sebastian, pois manteve-se "fiél" a si mesmo durante todo o livro. Era um vilão e não o tentava esconder, mas ao mesmo tempo tinha uma veia bondosa. Não vou dizer que acho ou não que ele merecia redenção, mas gostei muito de como esta personagem foi apresentada neste livro. Bem mais do que no primeiro, porque me pareceu mais complexo.
Gostei muito de ver um pouco mais de interacção com os entes padroeiros, que continuo a achar muito interessantes, mas também achei que, nas instâncias em que a Noemi entrava nas mentes alheias, os "guias" falavam demais. Seria muito mais intuitivo e enriquecedor para o leitor, se as cenas apenas nos fossem descritas e não explicadas. Especialmente quando a "narração do guia" era absolutamente dispensável. Por exemplo, quando foi a vez da mente do Sebastian, o "guia" não falou e percebeu-se muito bem o que se passava lá dentro.
*Fim dos spoilers*
Algo que o autor fez muito bem neste livro, foi a resolução do mistério. Durante todo o livro (e até no anterior) deixava-nos antever um pouco do que viria no final, mas conseguiu surpreender com o desfecho. Neste campo ele soube jogar com precisão e o desfecho da situação com a Riddel, não pareceu forçada ou "vinda do nada". Fez sentido e apanhou-me de surpresa, o que é sempre bom .
*Atenção, spoilers*
Já o final propriamente dito, não posso dizer que tenha gostado. Mais uma vez, a obsessão da Noemi veio ao de cima, e logo quando ela tinha dado provas de já ter amadurecido. O sacrifício é muito bonito, mas não daquela forma. O que se nota é que ela, apesar de ter crescido com tudo o que se passou, foi mais uma vez incapaz de aceitar o fim destiiado ao Sebastian.
Pessoalmente, odeio extremismos, e a Noemi vive, não para ela ou por ela mesma, mas somente para o Sebastian. E, repito, isso é doentio, e seria uma lufada de ar fresco, se não estivessem a tentar fazer-nos crer que o amor é mesmo assim e que o sacrifício total e o abandono de tudo o resto (amigos, família e vida) é normal pelo amor de um homem (ou mulher). Talvez seja por estar a tentar lançar-nos moralismos, não de forma propositada, mas sempre presente.
*Fim dos spoilers*
A escrita do autor está muito mais madura e séria, e a forma como ele descreve
Orbias continuam muito bem conseguidas, transportando o leitor para esse outro mundo. Mas também senti a falta dessas descrições a Terra, onde claramente estas pecavam pela inexistência.
No entanto, acho que o ponto fraco do autor continua a ser nas cenas de acção. Previsíveis, bidimensionais e algo repetitivas. E, se em alguns casos conseguia inovar, na maior parte das vezes acabava por ser monótona a leitura dos combates, especialmente no último confronto com a Riddel, quando as guerreiras foram sendo raptadas uma a uma. Foi tão pouco dinâmico, que aborreceu, e apenas a cena com a Lorelei lhe deu alguma valência.
Em suma, foi uma sequela interessante, que pecou pela primeira parte mais fraca e pela personagem principal 'doentia', mas que conseguiu recuperar na segunda metade e terminou com alguma intensidade, embora a meu ver fosse mais interessante se ela simplesmente não fizesse aquele último 'sacrifício' (a minha opinião claro).
Quem leu o primeiro livro, não deve passar ao lado deste, porque se há algo que faz bem, é atar as pontas soltas, não deixando o leitor com uma sensação de 'vazio', mas antes preenchendo todos os buracos de forma interessante.
Capa, Design e e Edição:
Gosto bastante da capa, especialmente porque está em sintonia com o volume anterior, mas tenho de apontar que a senhora da capa não se parece nada coma Riddel (e é suposto ser uma representação desta vilã). Por isso, acho que deviam ter apostado na estética, sim, mas bem que se poderiam ter esforçado um pouco mais para conseguir uma modelo parecida com a descrição da senhora do gelo.
Agora em termos de edição, não posso deixar de apontar o facto de ter encontrado alguns erros no meio da leitura. Um ou dois seria desculpável, mas foram um pouco mais que isso. Não o suficiente para irritar, mas chegaram para que questionasse a edição. Um pouco mais de atenção teria evitado isto.
Nota: Se quiserem ver o
booktrailer, o vídeo-resumo do
1º Orbias e os links para os capítulos extra (cronologicamente passados entre o 1º e 2º volumes),
vão ao outro post.
Visitem também o
blog oficial da Saga Orbias.