quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Ódio

"Ódio (Ódio 1)", de David Moody (Editorial Presença)

Sinopse:
Todos os dias, Danny McCoyne sai de casa para um emprego que apenas tolera por ter de assegurar a sua sobrevivência e a da sua família. Mas em breve este homem vai descobrir o que verdadeiramente significa sobreviver. De um momento para o outro, começam a ocorrer um pouco por toda a parte cenas de violência extrema. Sem que ninguém saiba explicar porquê, qualquer transeunte normal pode tornar-se de repente um assassino impiedoso que ataca aleatoriamente. À medida que esta estranha epidemia vai alastrando, Danny sente-se na obrigação de proteger a família - mas como quando já não pode confiar em ninguém, incluindo em si próprio…?

Opinião:
Quem me conhece, sabe que eu adoro o género do horror. Estranhamente poucos livros li neste género, muito por culpa dos poucos que li não terem sido muito compensadores.
Quando pego num livro de horror espero apanhar sustos e ser surpreendida. Não me importo que tenha violência (desde que não seja extrema), e dependendo da história, esta até é aconselhável, mas claro, uma história de horror que se baseie quase exclusivamente em cenas nojentas, não vai ter grande sucesso comigo. É tudo uma questão de equilíbrio.

Este "Ódio" usou bastante da violência, embora não de forma desproporcional. Infelizmente pouco uso fez do susto e da surpresa, o que fez com que o meu "grau de divertimento" fosse menor.

Dividido por dias da semana, no início de cada "parte" temos a descrição de uma cena de violência extrema que parece não ter explicação para os que a elas assistem. Aos poucos vamos percebendo que os "odiosos" agem por medo pois são assolados por um sentido extremo de auto-preservação, sem distinção entre quem antes era seu amigo ou inimigo. Só poupam aqueles que são como eles. os que mudaram. Todos os outros são uma ameaça e por isso devem ser eliminados, nem que sejam esposos/as, filhos/as, pais, amigos/as.
Esta vertente acabará por nos ser contada na primeira pessoa, e o que poderia ter sido uma viagem elucidativa e potente à mente destes "odiosos" acaba por ser apenas ... algo amena.
Infelizmente não acho que a história, neste ponto, tenha ganho com a perspectiva na primeira pessoa, pois chegamos ao fim do livro sem saber o que se passa na realidade.
Certo é que percebemos o que lhes passa pela cabeça, e isso sim está bem conseguido, mas nada nos é explicado sobre como realmente as coisas chegaram ao ponto em que estão. Temos apenas um político a dizer que "deve ter a ver com a genética e coisa e tal" (é mesmo isso que ele diz. não nestas palavras, mas com o mesmo significado).
Percebo que o autor queira deixar o terreno aberto para os livros seguintes, mas é frustrante para o leitor chegar ao fim do livro a saber pouco mais do que sabia no início.

O que mais gostei nesta narrativa foi a vida quotidiana do Danny. A sua vida profissional, igual à de tantas outras pessoas aborrecidas e descontentes com os seus empregos. A sua vida amorosa, ainda apaixonada mas encurralada pelos três filhos. A vida familiar, sufocada pelos filhos, que ele parece amar tanto quanto, por vezes, parece querer ver-se livre deles. Este sem dúvida foi um ponto alto do livro. Muito real e no qual, acredito, quase todos se poderão rever nem que por um só momento.
Mas também aqui há momentos algo aborrecidos. No início do livro, a exaustiva descrição do local do trabalho e dos seus colegas pareceu-me desnecessária. Uma visão mais curta teria sido suficiente pois nada do que poderia ter surgido lá, chegou a acontecer. Por exemplo, estava a contar que ele e a chefe se metessem numa luta, já que o autor lhe deu tanta importância no texto, mas ela quase deixou de ser mencionada depois das primeiras páginas. Ou seja, perda de tempo narrativo (ou estaria a tentar desviar a atenção do leitor?).

Uma coisa que me fez muita impressão nesta história foi o facto de nem por uma vez alguém ter levantado um dedo para ajudar quem estava a ser atacado. Uma vez!
Gosto de acreditar que a humanidade nunca agiria dessa maneira, mas quem sabe?

Em suma, foi uma leitura interessante, que tinha potencial para muito mais, e que sem dúvida deixa expectativas quanto à continuação, embora possa ser lido como um volume único sem quaisquer problemas. Infelizmente, sem a continuação o mistério dos "odiosos" permanece por desvendar, o que é uma decepção.
Achei que poderia ter recorrido mais ao susto e menos ao gore. A voz na primeira pessoa podia e devia ter sido mais bem aproveitada, de forma a que o leitor realmente conseguisse entrar na pele do narrador, coisa que não aconteceu.
Ainda assim vale a pena, pela ideia, pela forma como é contada e pelas personagens, que são muito "nossas conhecidas". Todos nós conhecemos um Danny, ou mais ainda, somos um Danny. Aqui as pessoas parecem genuínas, o que torna tudo isto ainda mais "real" e consequentemente assustador.

Tradução (Saul Barata):
Antes de mais, pareceu-me que um título mais adequado teria sido "Odiosos" (nome dado aos que começam a agir de forma estranha) e não ódio, pois quanto muito o sentimento mais presente neste livro é o "medo". Mas claro, essa é a minha opinião pessoal.

Não posso dizer que há erros na tradução, porque poucos há (um ou dois, que tenha reparado). O problema é que as palavras escolhidas para os primeiros capítulos não são as melhores. Tive oportunidade de ler o primeiro capítulo em Inglês (língua original) e notei logo a diferença. Mas mesmo antes disso dei por mim a "torcer o nariz" ao texto em português.
Felizmente esta estranheza durou +/- até à página 100, porque a partir dai, ou eu me adaptei à escolha das palavras ou elas começaram a ser mais naturais.
Por isso cheguei ao fim sem voltar a "torcer o nariz" e só acho que a primeira parte precisava de uma nova revisão, pequena, mas que ajudaria muito a deixar o texto fluir.

Edição:
Gostei muito do design interior do livro, embora fizesse uso das "famosas" gotas de sangue, não deixou de fazer "vista" ao livro e à edição. Foi bem escolhido e deu um toque mais único ao volume.
A capa (de David Moody), embora em concordância com a original, não se distingue muito de outras duas que a Presença publicou nos últimos meses e cuja capa é branca com esguichos de sangue a vermelho.
Acho que um pouco mais de individualismo teria feito muito bem a este livro, até porque corre o risco de confundir os leitores dos outros dois livros ("A sociedade de sangue" e "O ano dos desaparecimentos") e induzir em erro sobre uma possível continuação.
Gostei da citação na contracapa: "O inferno são os outros", de Sartre. Uma frase que diz muito, mas se calhar teria sido mais interessante colocar algo que o próprio autor tivesse escrito.

Nota: Recebi este livro num passatempo do Refúgio dos Livros, cortesia da Editorial Presença.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Lançamentos 4

E este post serve única e exclusivamente para informar que, finalmente(!), a Presença vai publicar o segundo livro da Saga "Os Jogos da Fome".
Já pensava que ia ter de ter um livro em português e os outros em inglês. É que foi há mais de 1 anos atrás que publicaram o primeiro volume. 1 ano!
Ainda bem que li em inglês, mas estava à espera disto porque quero fazer a colecção em português, já que tenho o primeiro volume na nossa língua.

Título: "Em Chamas", de Suzanne Collins
Editora: Editorial Presença
Lançamento:
6 de Outubro 2010


Sinopse: «Pela primeira vez na história dos Jogos da Fome dois tributos conseguiram sair da arena com vida. Mas o que para Katniss e Peeta não passou de uma estratégia desesperada para não terem de escolher entre matar ou morrer, para os espectadores de todos os distritos foi um acto de desafio ao poder opressivo do Capitólio. Agora, Katniss e Peeta tornaram-se os rostos de uma rebelião que nunca esteve nos seus planos. E o Capitólio não olhará a meios para se vingar…»


E posso ser sincera? Não gosto nada quando colocam opiniões na capa. A contracapa serve para isso mesmo. Mas fora isso, está fiel à capa original e o título está bem adaptado do original "Catching Fire".

Podem ler as minhas opiniões: Livro 1, Livro 2 e Livro 3.

Compras e Ofertas - Setembro 2010

Já há uns tempos que não mostrava aqui o que compro, talvez porque ao contrário do que advoquei anteriormente, não tenho conseguido deixar de comprar livros.
Este mês esta é foi lista (nem todos estão na foto):
- O Jardim Encantado, de Sarah Addison Alle;
- Jornal Conto Fantástico;
- Frankenstein, de Mary Shelley;
- A Verdadeira Invasão dos Marcianos, de João Barreiros;
- Orbias - O Demónio Branco, de Fábio Ventura;
- Avatar - Destino do Universo, de Frederico Duarte;
- A Coroa de Sangue, de Madalena Santos
- As Tribos do Sul, de Madalena Santos
- Os Doze Reinois, de Madalena Santos

E ainda recebi num passatempo do Refúgio dos Livros, o livro Ódio, de David Moody.

sábado, 25 de setembro de 2010

::Conto:: O Herói

"O Herói" de Dora Gago

Opinião:
Apesar de gostar bastante da prosa da autora, pareceu-me que divagou e o enredo se perdeu. Se tivesse sido ainda mais simplificado, teria ganho no pequeno formato em que foi apresentado. Mas o que menos satisfez foi a cena central, em que tudo o que aconteceu foi perceptível, mas não entusiasta.
Acho que havia lugar para muito mais, em termos de carga emocional.


Nota: Este conto venceu o 2º lugar do Prémio Hernâni Cidade. Podem ler o conto aqui.

::Conto:: O Carrossel

"O Carrossel" de João Rogaciano

Opinião:
No princípio este conto parecia ter um tema, a meio já parecia ser outro, mas somente no final percebemos realmente o seu propósito. Em poucas palavras o autor transmitiu uma imagem, uma ideia, uma mensagem. E não é algo a que fiquemos indiferente, pois eu própria sinto o pequeno planeta azul a tentar gritar por cima do barulho da campainha do carrossel.


Nota: Este conto venceu o 3º lugar do Prémio Hernâni Cidade. Podem ler o conto aqui.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os Jogos da Fome (trilogia)

(editado em 2011-04-26)
Terminada a leitura da Saga "Os Jogos da Fome", não podia deixar de fazer um balanço final da leitura.

Os Jogos da Fome é uma trilogia distópica, cuja ideia inicial muito faz lembra o Battle Royale (de Koushun Takami). No entanto as semelhanças ficam-se só na premissa, sendo que cedo a saga se destaca, não só pela escrita acessível e crua da autora, como pelas muitas personagens que desfilam pelas páginas.

Em The Hunger Games (Os Jogos da Fome), conhecemos Katniss, uma rapariga que se oferece para os mortais jogos em troca da liberdade da sua irmã. Logo com este acto heróico, Katniss prende o leitor.
Ao longo deste primeiro livro aprendemos a amar Katniss, e graças À escrita da autora, duvidamos de toda a gente, mesmo dos que a ajudam no meio da crueldade dos jogos. O fim chega como um alívio, mas deixa no ar a promessa de muito mais.

Com Catching Fire (Em Chamas), todas as esperanças que tínhamos de um futuro mais risonho, se dispersam aos poucos, e ainda assim uma nova chama de esperança se acende quando a arena é de novo o centro das atenções. Todas as acções têm consequências, e neste livro, tanto Katniss como os seus amigos, irão perceber até que ponto isso é verdade.

Finalizando com Mockingjay, a autora seguiu por um livro mais de guerra e política, onde todos manipulam e poucos dizem a verdade. Terminando com um fio de esperança, acompanhado de muito sofrimento.

Como deixei bastante assente nas minhas opiniões individuais (podem consultar abaixo), adorei o primeiro livro, gostei muito do segundo, mas fiquei bastante insatisfeita com o terceiro e último livro da saga. Ainda assim é uma saga que recomendo sem problemas, pois proporcionou-me leituras muito intensas e interessantes.

À saga completa dou a seguinte classificação: 7/10 (Bom)

Para verem as opiniões individuais, aqui fica a lista:
- The Hunger Games;
- Catching Fire;
- Mockingjay.

Mockingjay

"Mockingjay (Os Jogos da Fome 3)", de Suzanne Collins (ainda não publicado em Portugal)

Sinopse:
Contra todas as expectativas, Katniss Everdeen sobreviveu Os Jogos da Fome duas vezes. Mas agora que ela está fora da sangrenta arena, ela ainda não está a salvo. A Capitol está furiosa. A Capitol quer vingança. E quem é que eles pensam que deve pagar o preço pela rebelião?
Katniss. 
Mas pior do que isso é que o Presidente Snow tornou bem claro que mais ninguém está a salvo. Certamente não a família da Katniss, ou os seus amigos, e muito menos as pessoas do Distrito 12.

Opinião:
Não há palavras para descrever o quão decepcionada fiquei com este livro. Nunca pensei que depois de dois livros que amei, encontrasse um terceiro que me deixou mais que insatisfeita.

O que mais pesou nesta minha "decepção" foi o desenvolvimento das personagens. Não a falta dele, mas o que este implicou:
- A Katniss deixou de ser uma rapariga dura e inteligente, para passar a ser uma marioneta, incompetente, choramingas, que se achava com o peso do mundo nas costas.
- O Gale, bem ... o Gale nem se fala.  Completamente díspar do que tinha conhecido dele nos livros anteriores (que em verdade tinha sido muito pouco). A felicidade de ter um livro em que ele aparecia em todos os capítulos, foi de pouca dura, pois ele mostrou ser um "soldadinho" sem escrúpulos, capaz de uma frieza em combate, que me deixou mal disposta e que não condisse com o que nós conhecíamos dele.
- O Peeta ainda foi o que se manteve mais fiel a si mesmo, pois mesmo depois do tudo pelo que passou, ele manteve-se coerente (se bem que um pouco mais louco).
- Das restantes personagens, só o Finnick e a Primm ficaram na memória, pois os restantes eram tantos mas tantos novos nomes, que eu acabava confundida.

Outro ponto bem negativo foi a escolha da autora em falar constantemente nos sonhos e pesadelos. Que eu me lembre ela nunca foi tão insistente nisto nos livros anteriores, e neste chegou a ser cansativo pois de cada vez que a Katniss dormia, lá íamos nós para uma descrição do sonho que na maioria nem tinha grande significado. Falta de imaginação? Quem sabe ...
Mais outra coisa que me incomodou foi o final da guerra. A autora contou-nos tudo numa monotonia que quase chegou a parecer surreal. Estava a ler, mas era como se não estivesse. Aborreceu-me! Parece que estavam com pressa em despejar informação, de tal forma que não transmitiram emoção nenhuma, mesmo depois da morte tão “emotiva” de uma certa personagem.
Felizmente as cenas entre a Katniss e o Snow foi bem entregue e surpreendente, o que deu alguma dinâmica a um capítulo insípido e sem força.

Uma coisa que até apreciei foi o facto de, de forma ainda mais intensa que nos livros anteriores, Mockingjay fazer-me pensar no poder e influência que a televisão tem sobre as pessoas.A maneira como a autora usou esta verdade durante os três livros, foi muito bem conseguida. Mas em contrapartida, a constante menção das gravações e das roupas e das preparações, etc., chegou a ser irritante.

Outro ponto a favor, foi a perspectiva sobre a guerra e como esta é feia, cruel. Um jogo onde todos usam de todos, em que ninguém é verdadeiramente "bom" e nunca se sabe quem nos vai apunhalar pelas costas. Também o facto de a guerra alterar de forma significativa a maneira como as personagens encaram a vida, foi bem arquitectada, mas no caso da Katniss, foi puro exagero. Ela perdeu-se totalmente enquanto personagem com carisma, como anteriormente tinha mostrado ser.


* Daqui para baixo há spoilers, por isso quem ainda não leu este terceiro e último livro, é aconselhável não prosseguir. *

A Katniss irritou-me bastante neste livro, especialmente no facto de achar que tudo era culpa dela, que toda a gente que morria era por ela. Que nervos! Ela perdeu toda a “força” que a caracterizara nos livros anteriores, tornando-se uma “coitadinha” irritante.
Eu nem consigo acreditar que ela, que estava sempre a queixar-se que todas as mortes da guerra eram todas culpa sua, teria a frieza de matar o Peeta, depois de tudo o que ele fez por ela. Não foi uma, nem duas, mas muitas vezes que ela pensou e quase matou o rapaz e o mais irritante era que ponderava fazê-lo para salvar a própria pele! E depois ainda teve o desplante de dizer ao Peeta que eles se defendiam um ao outro. Pois sim ...

A decisão final da Katniss em relação ao Snow, foi de certa forma surpreendente, mas o que se seguiu foi de certa forma ridículo. Quem ficaria meses e meses enfiado numa cozinha, sem tomar banho, pensando no suicídio mas sem nunca o chegar a fazer? Se ao menos ela tivesse a coragem para se matar, teria sido mais convincente.
E por falar em mortes, quase nem acredito que os três tenham sobrevivido. Pareceu tão ... forçado. (E o pobre do Finnick foi desta para melhor, e a coitada da Primm.)

*Fim dos spoilers. *


Em suma, este livro não me encheu as medidas e só lhe dou os pontos que dou, porque não aborreceu e porque teve uma perspectiva bem fria e realista da guerra, mas enquanto final de uma saga que adorei, falhou em todos os aspectos. Infelizmente não posso dar-lhe o valor que não merece, pois sei que havia lugar para muito mais.
Pareceu-me que este livro foi apressado e não pensado como merecia. Havia tanto potencial!
Já o final foi ... fofo. E acreditem, isso não é um ponto a favor.

Capa (Tim O'Brien):
Não sou uma fã das capas da saga, mas na senda das anteriores, esta consegue sem dúvida ser a melhor. E o azul também ajuda (adoro azul).
Infelizmente, não tem muito a ver com o livro, conseguindo este ser o mais "negro" de todos três. O Azul dá uma sensação de paz e serenidade que este livro, no seu interior, não tem.
Contudo não posso deixar de dizer que as três capas têm uma lógica e significado irrevogáveis, o que resulta numa sequência e consistência excepcionais para a saga.


Assistam abaixo o vídeo em que a autora lê um excerto do primeiro capítulo do livro (quem ainda não leu o "Catching Fire (Livro 2)" é desaconselhado a assistir a este vídeo):

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Conto Fantástico 1/2

"Conto Fantástico", revista/jornal com contribuições de vários autores (Antagonista Editora)

Sinopse:
Uma publicação que pretende apostar na divulgação da escrita de fantasia e ficção científica em Portugal, escrita por portugueses.

Opinião:
Este jornal, que mais parece uma revista, inclui os números 1 e 2 da publicação.
E depois de a ler de uma ponta à outra, posso dizer que vale bem a pena comprar e que é um projecto a seguir com interesse. De louvar a decisão de dedicá-lo exclusivamente à literatura fantástica portuguesa.
Seguem opiniões separadas de cada artigo/conto:

"Mutação Final", conto de João Rogaciano
Quando falamos em ficção científica, o que vem logo à cabeça da maioria das pessoas é: Viagens espaciais.
Achei que o conto tinha potencial, a história teve uma reviravolta interessante, embora não totalmente inesperada. O problema foi a forma como o conto foi mostrado. A narrativa não era aborrecida, e os pormenores, na sua maioria, não estavam despropositados, mas a sequência de acções estava mal aplicada e não houve lugar para o frenesim que um conto desta natureza poderia gerar no leitor.

"Memórias da Ficção Científica", coluna de Álvaro de Sousa Holstein
Foi bem divertido ler sobre como se faziam fanzines há uns anos atrás (A Nebulosa é mais velha que eu dois meses). E pensava eu que os anos 80 e 90 tinham sido bons anos para a ficção científica, mas parece que nem tanto. Realmente, temos a vida muito facilitada com as novas tecnologias (acho que se elas desaparecessem amanhã, me dava um "treco").

"Thalormis Zeta", conto de Carla Ribeiro
Numa escrita cativante, com pormenores que não aborrecem e numa narrativa que incita o leitor a continuar. este conto conseguiu ser mais que satisfatório, dando-nos um final, mas um final que deixa no ar a ideia de que há mais (não necessariamente noutro conto, mas não dá um fim definitivo, que é sempre bom).

"Space Oddity", conto de Regina Catarino
Curto! Muito curto mesmo, mas ainda assim conseguiu transmitir algo. Não é extremamente original, e sinceramente a menção ao David Bowie pareceu-me algo irrelevante pois duvido que quando as viagens no espaço se tornarem tão comuns as pessoas ainda oiçam David Bowie, mas bem, até isso pode ser perdoado.
A verdade é que este conto funcionou bem, sem no entanto poder ser algo mais que uma leitura agradável.

Entrevista a João Barreiros
Tendo já lido dois contos do autor, posso dizer que gosto do estilo dele. Ao ler esta entrevista, até me senti um pouco mal por não conhecer metade dos nomes mencionados. Mas eu sou apologista de que os "clássicos" não são tudo, o que não quer dizer que não goste de ler de tudo um pouco, porque gosto.
Gostei da entrevista, embora tivesse achado que falou pouco do autor, e muito mais do panorama português no campo da fantasia, e especialmente da ficção científica (que todos sabem estar pela hora da morte).

"Memórias da Ficção Científica", coluna sem autor (não é mencionado no artigo)
Nunca tinha ouvido falar do escritor Romeu de Melo, mas neste artigo ficamos a saber um resumo da vida daquele que é, na voz do colunista, o "pai" da ficção científica em Portugal.
Fiquei com vontade de saber mais sobre o autor, e não vale de muito meter o nome no google, pois segundo o artigo, nada de relevante surge. O esquecimento é muito penoso!

"Cometas Extintos", conto de Pedro Pedroso
Por alguma razão este conto recordou-me um certo jogo que o meu irmão muito adora, mas à parte disso, gostei da prosa (a escrita do autor é bastante boa) e das personagens: soldados que só pensam na missão e que se vêm perdidos sem a tecnologia a que tanto estão habituados.
O final ficou muito bem na história, chegando até a ser algo inesperado no entanto pareceu-me que faltou "algo" à história. Algo mais significativo e cativante. Não é um mau conto, de todo, mas também não conseguiu ficar na memória.

"Aleninan", conto de Marcelina Gama
A história não está nada mal, fazendo lembrar-me as ruelas mais negras das cidades futuristas. Gostei da prosa da autora e os diálogos estavam convincentes, mas aquele final estragou-me a festa toda. É como se cortasse a festa a meio.
Há finais em aberto que me deixam satisfeita, mas este não é um deles. Fica-se com uma sensação de vazio, de "onde está o resto?", que não é bom. Fiquei frustrada!
Outra coisa que não achei lógica foi a acção dos "polícias". Numa situação "normal" eles nunca deixariam a Aleninan ir sozinha.Não faz sentido e pareceu apenas um engendro para que ela ficasse só. Esta parte não convenceu.

Entrevista a Afonso Cruz
Soube a pouco, esta entrevista, mas foi mais focalizada que a anterior e conseguiu falar mais do multi-facetado autor e da sua obra.

Capa e Edição:
Para um "suposto" jornal, isto mais parece uma revista. Com papel de excelente qualidade e encadernação no patamar das boas revistas, justifica-se o preço (3,50€), se bem que  como era um jornal, bem poderiam ter feito no formato comum, que ninguém levaria a mal e ficaria, com certeza, muito mais em conta.
Ainda assim, dou o dinheiro por bem empregue e tenho de dar os meus parabéns ao projecto.

Notas: O "Conto Fantástico" irá ser fundido com a "Dagon", a partir do próximo número. Podem ler tudo aqui.
Vistem o site oficial da revista/jornal Conto Fantástico.

*actualização 2012/01/24
O nº 1/2 do Jornal Conto Fantástica está disponível para download AQUI.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

On Writing Horror

"On Writing Horror", de Horror Writers Association (ainda não publicado em Portugal)

Sinopse:
Um livro com dicas sobre como escrever dentro do género HORROR, contendo conselhos de muitos e grandes autores que ficaram conhecidos pelas suas histórias capazes de arrepiar os leitores mais incautos.

Opinião:
Como amante dos filmes de terror, e curiosa dos livros do género (infelizmente ainda li poucos), decidi comprar este livro (ainda não publicado no nosso país).
E se ao principio fiquei algo decepcionada, pois nas primeiras páginas nada me parecia promissor, à medida que fui lendo, fui conhecendo melhor o tema, as suas condições e o quão subestimado e menosprezado este é. Aliás, basta olhar para Portugal! (se bem que no nosso país poucos são os géneros que "vendem") Quantos escritores de horror temos nós? Não muitos, e menos ainda aqueles que têm alguma "fama". O mesmo parece acontecer no resto do mundo, onde o horror (faz-me lembrar a ficção científica, e até a fantasia há dois anos atrás) é considerado um género menor. E para muitos, nem chega a ser um género.
Confesso, sou das que gosta de catalogar o Horror como um género, se bem que por um lado me parece melhor caracterizá-lo como um sentimento, ou uma "forma" de contar uma história.


Nesta publicação pude ler opiniões e conselhos de muitos autores, vários consagrados, outros menos conhecidos mas (acredito que) não menos talentosos.
Gostei muito do facto de abranger várias áreas da escrita, desde a novela, ao conto, passando pelo teatro, cinema, banda desenhada e até peças áudio (para rádio). Muito multi-facetado.
E posso mesmo dizer que acho que este livro tem boas dicas até para quem não escreve dentro do Horror, pois a maioria dos conselhos pode ser aplicado a qualquer tipo de escrita.

Houve uma entrevista no livro que me fez sorrir, e não porque era cómica, mas porque era a um escritor, Harlan Ellison (que desconheço completamente) e que tem uma visão muito "enforcada" do Horror e ainda mais dos seus escritores. Não é a primeira vez que vejo um escritor agir desta forma e não vou opinar sobre a personalidade do senhor em questão, mas fez-me recordar que os autores devem ser humildes. Meus amigos, não faz mal a ninguém e depois temos situações que os leitores "sorriem" porque acham certas afirmações ... ridículas (?). A humildade é tão bonita!

O "contra" deste livro é o facto de este estar muito direccionado para os Americanos. Há muitos conselhos, e até vários artigos completos, que só se aplicam no mercado Americano (USA), o que acaba por ser insignificante para quem não é de lá. Confesso que passei vários artigos à frente por causa disto, mas também percebo que o livro esteja feito desta forma porque foi publicado nesse mercado. Ainda assim, penso que havia forma de eles abordarem certos assuntos de forma a englobar o mercado mundial. Não seriam tão "específicos" mas os conselhos seriam ainda mais válidos.

Em suma, foi um livro que li com muito gosto, que me deu várias dicas interessantes e que poderão facilitar-me a escrita num futuro próximo. Recomendo, a quem goste ou queira escrever no campo do Horror.
O único ponto contra é pelo facto de não ser mais "global". Se não se cingisse tanto ao mercado americano, teria muito mais valor. Ainda assim, vale a pena!

Capa, Design e Edição:
Uma capa interessante, simples, mas que consegue transmitir bem o que se passa dentro do livro.
O design interior estava bastante bom, com divisões claras entre várias categorias. O que não gostei muito foram os títulos dos "artigos", pois a maioria não transmitia de forma clara o que tratava o dito artigo, e acho que esse deveria ser o objectivo dos títulos.

sábado, 11 de setembro de 2010

Witchblade - Origens 1

"Witchblade - Origens (Volume 1)" (Devir Livraria)

Sinopse: 
A vida de Sarah Pezzini é profundamente alterada quando entra em contacto com a Witchblade , um artefacto lendário que confere um fabuloso poder à sua portadora. Mas será esse poder suficiente para a salvar da própria Witchblade, ou daqueles que estão dispostos a tudo pela sua posse? Uma saga fantástica, espectaculamente desenhada pelo traço sensual de Michael Turner.

Argumento (David Whol e Christina Z.):
O enredo esteve sólido em todo o volume, embora num estilo muito característico da BD americana. Infelizmente já me cansei um pouco da acção que acontece numa inverosimilhança tal que chega a ser chata, mas nem isso me impediu de gostar deste volume. A verdade é que não estranhei e embora houvesse muito para melhorar, também não chegou a irritar.

Desenho (Michael Turner):
Nunca fui grande fã da arte do Michael Turner, embora compreenda porque ele tem tantos fãs do seu trabalho. Pessoalmente acho que ele desenha muito bem os homens, os fundos e as texturas (a parte mais fabulosa do seu trabalho), mas no que diz respeito às mulheres (trabalho pelo qual ele é mais conhecido), eu não consigo tornar-me apreciadora. As proporções estão todas fora do sítio o que me fazia revirar os olhos em quase todas as páginas. Mas é tudo uma questão de gosto.
Uma coisa que gostei (e não sei se foi ideia dele ou do argumentista), foi as páginas duplas: Contrariamente ao normal, as páginas estão na vertical e não na horizontal, o que chega a ser estranho, mas consegue ser agradável.

Arte Final (D-Tron) e Cor (Johnathan D. Smith):
Gostaria de perceber se o que mais gosto nestes desenhos é marca do próprio artista (Michael Turner) ou do Arte-Finalista (D-Tron). Porque o que mais me chama a atenção são os traços da arte, por vezes bem rebuscadas, se bem que não imprecisas, mas sempre com um toque bem único. De qualquer forma é de louvar o trabalho do arte-finalista, pois está excelente.
Já no que diz respeito Às cores, posso dizer que tenho uma relação amor-ódio. Odeie o vestido vermelho (se bem que não acredito que tenha sido escolha do colorista), mas sempre achei que as cores da história e os efeitos estavam muito harmoniosos e deram um novo fôlego à arte.

Edição e Tradução (Devir):
À excepção de uma das capas interiores estar de pernas para o ar (o que até me fez sorrir), só tenho a dizer que a edição está excelente, com capa de qualidade e papel acetinado, como a Devir sempre nos habituou.
A tradução também está impecável. Nada a assinalar contra.

Dexter 1 e 2

A série Dexter é baseada nos livros da saga homónima, do autor Jeff Lindsay.
Terminei recentemente de assistir às primeiras duas temporada, depois de anteriormente ter tentado ver o primeiro episódio, que acabei por não achar nada de excepcional, mas com promessas. Então, tive a oportunidade de assistir a 24 episódios em poucos dias e foi isso que fiz.

Bem vistas as coisas, a temporada que mais gostei foi mesmo a primeira, embora os primeiros episódios não tenham sido tão bons como os posteriores.
A segunda temporada também foi muito boa, diria até mesmo melhor, caso não me incomodasse as mudanças que o Dexter (personagem principal) sofreu. Normalmente sou a favor de grande desenvolvimento de personagens, mas no caso do Dexter eu esperava que ela continuasse o mesmo sociopata apático de sempre, fingindo todo um role de emoções. Esse foi o aspecto que mais me atraiu para esta série, e perdeu-se um pouco na segunda temporada. Embora, confesso, os escritores souberam fazê-lo com mestria e nada pareceu fora de contexto ou forçado. Mesmo assim, senti a falta do velho Dexter.

Ainda assim, e para os que ainda não conhecem, recomendo. Mas advirto para a apatia do Dexter, a má língua da Deb e um elenco que surpreende.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Na Sombra do Pecado

"Na Sombra do Pecado (Irmandade da Adaga Negra 3)" de J.R. Ward (Casa das Letras)

Sinopse:
Nas sombras das noite da cidade de Caldwell, em Nova Iorque, trava-se uma guerra entre vampiros e seus caçadores. Ali existe um bando secreto de irmãos sem igual - seis guerreiros vampiros, defensores da sua raça. De todos eles Zsadist é o membro mais aterrorizador da Irmandade da Adaga Negra.
Opinião:
Como sendo este o livro mais "amado" pelos fãs, de todos os que fazem parte da saga da Irmandade da Adaga Negra, tinha algumas expectativas, até porque no livro anterior já tínhamos tido o início da história entre a Bella (uma aristocrata) e o Zsadist (um antigo escravo. de sangue).
Este livro não desapontou, conseguindo mesmo superar o primeiro livro, que até agora era o meu favorito.

O que mais gostei nos livros, e aliás, o que mais gosto nos livros da autora, é a capacidade que ela tem de contar a história de um "casalinho" sem nunca se esquecer de todos os outros personagens da história. Neste livro ela introduziu novos personagens interessantes e mostrou-nos mais ainda de outros já conhecidos. Adorei especialmente o que se passou com o Thorment, com o Phury e no final aquela cena duplamente intrigante entre o Vishious e o Butch. Também tenho de dizer que chorei com a cena do Thorment. Não estava nada à espera daquilo.
E ela (a autora) fez isto tudo e muito mais, sem nunca perder de vista o casal principal, Zsadist e Bella.

Uma coisa que adorei neste livro foi o relacionamento entre o Phury e o Zsadist. Estes dois são irmãos gémeos, mas são muito diferentes, e foi com gosto que percebi aos poucos que o relacionamento deles era bem profundo e o quanto os dois se amavam de verdade. Algumas cenas poderia até ter passado a barreira de "irmãos", mas a autora consegue mostrar amizade e amor entre dois homens, sem que nunca pareça algo "diferente". Neste ponto ela conseguiu surpreender-em com a ausência de mau gosto que poderia ter tomado conta de pelos menos três cenas do livro, mas que na verdade não aconteceu. Adorei isso!

Outro grande ponto a favor foram as duas personagens principais. Tanto o Zsadist como a Bella conseguiram surpreender e nunca pareceram estar fora de contexto. Todas as suas acções foram bem integradas nas personalidades distintas de ambas, o que criou um ambiente extremamente bem conseguido entre os dois. Ver o relacionamento deles a crescer foi mais que interessante e sempre surpreendente. Não houveram cenas forçadas (houve uma que quase pareceu mas depois se justificou a si mesma) e isso fez com que fosse impossível não torcer por um final feliz. Adorei ver a forma como o Zsadist foi mudando aos poucos, sem que isso parecesse estranho no seu comportamento. Havia potencial para o exagero e até para o "mau gosto" na forma como o Zsadist era mostrado, mas a autora conseguiu manter-se à tona, sem cair em banalidades, tornando este personagem em alguém com quem era impossível não simpatizar. Além de que, há que adorar um homem que chora (essa ideia que os homens não chora é tão velha que até já mete nojo).

Os lessers (maus da fita), e como nos livros anteriores, tiveram também um bom desenvolvimento e a loucura do "O" foi extremamente bem mostrada. Assim como aconteceu com a própria hierarquia da sociedade lesser, que neste livro sofreu várias e drásticas mudanças.

A escrita da autora continua muito cativante e ela consegue dar vozes únicas a cada uma das personagens, o que nunca torna a leitura maçadora.

Em suma, este é um livro obrigatório para quem gostou do primeiro e do segundo livro. E para quem ainda não experimentou, aconselho (mas comecem pelo primeiro). Este livro consegue ser um pouco mais "cruel" que os anteriores, mas nunca em exagero. E o casalinho, Bella e Zsadist, não podia ser mais perfeito. E o final é tão fofo! XD

Capa:
Li o livro em Inglês e com a capa que está à direita. Pessoalmente não gosto particularmente dela especialmente porque não é uma representação fiel de nenhum dos dois personagens principais (a Bella tem os cabelos negros e longos e o Zsadist é esquelético), mas funciona bem com as restantes capas da edição mass-market paperbak (livros de bolso).
Já a edição portuguesa tem uma capa bem mais apelativa, embora demasiado "vampírica" para o meu gosto, e bem que ficaria melhor se tivessem rapado o cabelo ao homem, aí sim ficavam representações fiéis de ambos. Ainda assim gosto muito (mesmo não sendo a melhor das três editadas até agora em português).
Quanto ao título em Português, sinceramente não compreendo o porquê do "pecado", mas como tinham de criar uma sequência com os anteriores, imagino que este título até não caia assim tão mal. Se bem que acho que teria ficado melhor algo do género "Na sombra do cativeiro" ou "prisão" ou mesmo "passado". Fazia muito mais sentido, a meu ver.

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