sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Contos de Terror do Homem-Peixe

"Contos de Terror do Homem-Peixe" , antologia com contos de Baptista-Bastos, João Tordo, João Seixas, Guilherme Trindade Filipe, João Barreiros, António de Macedo, David Soares, Fernando Ribeiro, Rui Zink, Possidónio Cachapa, Pedro Martins, com ilustrações de João Maio Pinto (Edições Chimpanzé Intelectual)

Sinopse:
Esta obra ímpar ( co-editada com o CTLX) pretende, com onze contos de alguns dos maiores escritores portugueses da actualidade, homenagear um género que entre nós tem tido pouca tradição – o “Terror” –, apesar de ter dado azo a alguns dos maiores clássicos da literatura mundial, como sejam os romances “Drácula”, de Bram Stoker, “Frankenstein”, de Mary Shelley, os variadíssimos contos de Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft, ou mesmo os incríveis romances de Stephen King.
O livro foi ainda precedido de um concurso literário inédito em Portugal, tendo os dois premiados, Pedro Martins e Guilherme Trindade Filipe, sido editados com os restantes autores: Baptista- -Bastos, Possidónio Cachapa, Rui Zink, João Tordo, Fernando Ribeiro, António de Macedo, João Barreiros, João Seixas e David Soares.
As fantásticas ilustrações saíram da mão do desenhador João Maio Pinto.

Opinião:
De seguida fica uma pequena opinião relativa a cada um dos contos presentes na antologia. No final deixo também uma opinião mais geral.

"O Retirante" , de Baptista Bastos
Já li alguns contos de terror, mas acho que este foi dos poucos que realmente me deu arrepios. Ou não fosse ele contado de forma tão natural, tão directa, que as ideias do protagonista, quase que parecem as nossas.
A escrita do autor é bastante directa, sem grandes rodeios, mas que embeleza de forma quase brutal uma história tão bizarra (embora não irreal, como seria de desejar). Noutra nota, estranhei o não uso de parágrafos, embora tenha percebido a escolha do autor. Gostei deste conto, apesar da sua brevidade.

"Do Mal o Menos", de Rui Zink
Um estranho poema que faz uso de repetições várias, envolvendo o leitor em palavras sufocantes, quase claustrofóbicas. Apesar de no início ter estranhado, no fim gostei, não pela (a)moralidade do poema, mas sim pela forma com o autor o apresentou e o exprimiu.

"A Vizinhança", de Possidónio Cachapa
Uma história estranha, sobre estranhos que todos conhecemos de uma forma ou de outra. O autor criou um ambiente opressivo que realmente deixa o leitor em ‘pulgas’. Não esperava aquele desfecho e fiquei surpreendida, mas gostei pela sua aparente simplicidade.

"Réptil", de David Soares
Posso desde já dizer que goste mais deste conto do que d' "Um erro do Sol" (antologia Brinca Comigo!). Não só a escrita do autor se mostrou mais cativante como a história manteve consistência ao longo do conto. Só a extrema morbidez de certas cenas me deixou um pouco desconfortável, sendo que o autor decidiu recorrer ao grotesco de forma a chocar. Pessoalmente não gostei disso, mas do resto está um conto curioso.

"O Carrinho de Mão", de Pedro Martins
No início estranhei um pouco a prosa do autor, mas rapidamente me habituei e acabei mesmo por gostar da forma como contou esta história, especialmente porque não estava a contar com aquele final. muito bem arquitectado! Não que fosse inverossímil, mas o autor lançou um engodo ao leitor e depois deu-lhe a volta. Também apreciei a forma quase tranquila com que narrou todo o conto, tão contrastante com a brutalidade descrita.

"Broadmoor", de João Tordo
Embora tenha gostado bastante da narração do autor, achei que a história em si tinha muito pouca força e era bastante previsível. Não houve nenhum momento em que achasse o enredo mais que mediano, o que é uma pena já que a voz narrativa poderia ter sido muito mais bem aproveitada.

"Djinn", de João Seixas
Neste também estranhei o início, muito culpa de o autor recorrer a 'excessos' descritivos, usando por vezes palavras demais (e um pouco fora de contexto) para descrever coisas simples. Ou seja, pareceu que estava a querer dar lirismo a todas as frases, de tal forma que se tornou quase abusivo. Mas o 'quase' aqui também é palavra chave. Talvez por ser um conto e porque a partir de um certo momento o texto se tornou mais corridio, acabou por não ser exagerado.
No entanto acho ainda que o conto se estendeu demasiado. Apesar de ter gostado bastante da história, do conceito e das personagens, achei que foi demasiado extenso para o que narrou. Ainda assim valeu pelo protagonista e pelo próprio Djinn. Além disto gostei também do encadeamento das cenas.

"Tentáculos" de Guilherme Trindade Filipe
Achei esta história muito curiosa e contada de forma compassada, de maneira a manter o interesse do leitor Apesar de por vezes ser cómica, também soube meter medo nos momentos certos e a paranóia do protagonista era quase palpável através do papel.. O único defeito deste conto é o fim, que não me convenceu totalmente. Fora isso está muito bom.

"Dulce Claudina e a Casa Assombrada", de António de Macedo
A história deste conto, para mim é bastante interessante, mas a escrita do autor não lhe faz juz. Na verdade, faz-lhe, em certos momentos, como crítica social, mas noutros, perde-se em pormenores sem importância, que nada trazem à história, criando divagações que depois tiram impacto às cenas de real relevância para o enredo. Ainda assim gostei das personagens e da história central, assim como do horror embutido na narrativa, mas por outro lado achei o final insípido e inconsistente com o restante conto. Dá a sensação de que esta história faz parte de algo maior e que não passa de um membro mutilado, ao qual falta uma parte intrínseca.

"A Antena de Brejnev", de Fernando Ribeiro
Apesar de ter apreciado a decisão narrativa do autor, em criar uma expectativa no leitor, logo nos primeiros parágrafos, senti-me defraudada com o final. Não havia pistas que conduzissem o leitor e dessa forma acabei por ressentir-me com o final que parecia saído do nada. A escrita do autor é bastante interessante e até poética em partes, daí ficar a curiosidade de ler mais alguma coisa do também cantor, mas este conto mostrou-se apenas mediano.

"Se Acordar antes de Morrer", de João Barreiros
Já tinha lido este conto na antologia "Imaginários 2". Podem ler a opinião aqui.


Sendo, a meu ver, os contos mais fortes "O Retirante" e "O Carrinho de mão", esta antologia acaba por ser das melhores colectâneas que li até hoje, mantendo uma coesão bastante boa a nível de qualidade dos contos. Apesar de alguns serem pouco mais que medianos, a verdade é que não há nenhum que possa dizer que é mau. E isso acho que nunca disse de nenhuma antologia.
É também uma boa forma de conhecer a escrita de alguns autores do género fantástico e ler outros estreantes no género do terror. Além disso está acompanhado de belíssimas ilustrações.
Daí que recomende a fãs de horror, ou simples curiosos.

Capa e Ilustrações (João Maio Pinto):
A capa, apesar de muito boa, a meu ver não mostra todo o potencial do artista, que se vê realmente nas ilustrações interiores. Não penso que seja culpa de a ilustração da capa estar a cores (ao contrário das interiores), mas antes porque falta a esta capa o dinamismo e complexidade dos outros trabalhos. Ainda assim, acho que a capa ficou muito boa.
As ilustrações interiores estão absolutamente soberbas. Embora cada uma seja a representação do artista, é impossível não ficar de olhos grudados nos desenhos a tinta-da-china do artista. Além de fiéis às histórias, cada uma conta por si só uma história que o ilustrador pincelou com mestria.


Coordenação, Design e Edição:
Senti, antes de mais, a falta de uma nota introdutória por parte de quem coordenou a antologia. Uma explicação sobre como surgiu o projecto, qual o significado do título (eu, pessoalmente, tenho apenas uma vaga ideia que nem sei se é a correcta) e de como foram escolhidos os contos presentes na mesma. para mim esta é uma falha da antologia que só a enriqueceria, caso existisse.
Tal como referi, a nível de qualidade dos textos, esta é das poucas antologias que consegue ter um nível médio bastante elevado, daí achar que a coordenador e escolha dos textos foi muito boa. Ainda assim, alguns erros ortográficos passaram na revisão, o menor dos quais não será certamente o erro no título do conto do "João Barreiros". Ainda assim não são erros suficientes para denegrir o conjunto de contos incluídos na colectânea.
O design interior está muito bem composto e penso que tenha sido uma decisão propositada, a de colocar as ilustrações num local de cada conto, em que as mesmas acabassem por ser uma espécie de spoiler. Ou seja, em cada conto a ilustração aparecia antes da acção que retratava, criando assim no expectador um 'suspense' acrescido para tentar decifrar exactamente onde aquilo se iria passar.
Noutra nota, achei imensa piada as 'biografias' dos autores, Curiosamente criadas propositadamente para a antologia (ou pelo menos, dão a entender que sim).

Um vídeo promocional do livro, no programa Fuzz:

1 comentário:

  1. Legal, antes não curtia muito contos, mas agora to começando a gostar bastante e esse parece ser uma otima dica! XD

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