Sinopse:
Este é novo romance do autor de O Tigre Branco, o aplaudido Booker Prize de 2008.
A obra desenvolve-se como um um guia de viagem a uma cidade imaginária, Kittur, situada na costa sudoeste da Índia, a meio caminho entre Goa e Calecute, durante o período de sete anos que decorreu entre os assassinatos de Indira Gandhi e do seu filho Rajiv. São catorze histórias que se sobrepõem formando um mapa vivo da cidade, decorrendo cada uma em diferentes zonas de Kittur. Aravind Adiga retoma muitos dos temas presentes em O Tigre Branco, mas recorre agora a múltiplos narradores diferentes. Uma obra que o conduz à descoberta fascinante da Índia actual.
Opinião:
Por onde começar ...
Embrenhei-me na leitura desde a primeira página. Cada história, cada personagem, me dava vontade de continuar a ler e tentar perceber se havia alguma ligação entre os vários contos e se estes culminariam de alguma forma. Foi também este o meu maior erro, enquanto leitora, pois se estivesse apenas a desfrutar cada conto por si, sem tentar interligá-los, no fim não teria ficado tão decepcionada.
Alguns dos contos estão interligados, de forma muito ténue, outros não aparentam ter nada em comum, para além da expressiva cidade de Kittur (fictícia). O problema, foi que, graças ao título (e a não ter lido a sinopse) esperava que o mesmo indicasse um qualquer final que eu não estava à espera. Et voilá! Saí gorada.
Este livro é sobre Kittur, a decadente cidade em desenvolvimento e as suas gentes. Dessa forma, deve ser lido como tal e por tal deverá ser apreciada.
Como já disse, adorei o livro desde as primeiras páginas. O autor conseguiu criar personagens com as quais é fácil identificarmo-nos, pois nem os maus são maus de todo, nem os bons são sempre heróis. Aliás, é mais certo dizer que aqui não há bem nem mal, apenas sobrevivência e muita injustiça.
Nenhuma das vidas descritas nos contos é fácil e o leitor conseguirá, talvez, rever-se em várias das situações. Talvez não no mesmo grau de decadência, mas semelhante. Temos o extremo da pobreza e o extremo da riqueza, mas nenhum desses estados parece trazer felicidade e o autor denota tão bem as suas personagens, que acabamos por não amar ninguém, mas também não odiar ninguém (ou apenas os personagens assessórios).
Cada história é única e mostra personagens com objectivos distintos. Não tenho nenhuma em particular da qual tenha gostado mais, já que cada uma foi retratada de forma bastante coesa e acabaram todas por ter impactos semelhantes.
A escrita do autor é muito boa, imergindo o leitor na cidade de Kittur, nos seus costumes, nas suas gentes. Não é um visão bonita da Índia, ou dos Indianos e daí poder ser mau nesse aspecto. Aceito que tenha sido uma escolha do autor, retratar a degradação e a mentira, mas parece-me também injusto para com a comunidade indiana.
Ainda assim, com o estilo de prosa do autor, cada viela pútrida, cada casa senhorial, cada templo e escola, cada criança ou condutor de riquexó, todos quase se podiam tocar. Raramente leio livros assim, mas Aravind Adiga conseguiu criar Kittur aos olhos de cada leitor. Sinto como se tivesse viajado até lá de comboio, apanhado um autocarro até Salt Market Village e escolhido entre os dois cinemas da cidade. Uma escrita fabulosa!
Em suma, este é um excelente livro, mas não esperem finais felizes, ou sequer felicidades prometidas, este livro é real e dessa forma pode ser tão apaziguador quanto cruel. Sei que a única razão por eu não ter amado verdadeiramente este livro, se prende com o facto de me ter deixado 'enganar' pelo título. Um pouco mais de atenção da minha parte e nada disso teria sucedido. Ainda assim, tenho de apontar apenas uma coisa que me deixou um pouco triste: a falta de uma história mais feliz. No meio de tanta injustiça e de tanta tristeza, teria sido bom ver, pelo menos, um dos contos, a terminar de forma mais meiga. Afinal, não faz a felicidade também parte da vida?
Tradução (Alice Rocha):
Um trabalho bastante bom, que pecou apenas por algumas pequenas falhas, quase insignificantes, que em nada impediram uma boa leitura.
Capa, Design e Edição:
Acho que há muito tempo que não viu um livro com um título tão enganador, de braço dado com uma capa enganadora.
No livro há apenas UMA referência a um pavão, quando uma das personagens está a ver o mar embater na muralha e compara isso com as penas de um pavão. Sim, só isso! Daí, muito sinceramente, eu não compreender o porquê desta capa que nada tem a ver com a história (a menos que me tenha falhado algo de muito crucial.
O título, esse, só compreendi ao ler a Cronologia, no final do livro, sendo que todos os contos se passam entre o assassinato de Indira Gandhi e o de Rajiv Gandhi (1884-1991). Compreendo o simbolismo do título, mas este não deixa de ser completamente enganador para quem não ler a sinopse (ou simplesmente se esquecer do que leu na sinopse até começar a ler o livro, que foi o que aconteceu comigo; Mea Culpa!).
A edição está cuidada, embora pequenas gralhas tenham passado, mas não de forma a incomodar a leitura.
Nota: Este livro foi-me oferecido por uma colega de trabalho. Obrigada!
Estou louca para ler um livro dele!
ResponderEliminarmuito interessante pelos vistos este livro. Já estive com ele nas mãos, mas levei-o comigo pra casa!!
ResponderEliminar