sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Histórias Extraordinárias I

"Histórias Extraordinárias I", de Edgar Allan Poe (Publicações Europa-América)

Sinopse:
Se estas Histórias Extraordinárias são, por um lado, reveladoras de um espírito atormentado e de uma imaginação estranha, por outro lado, divulgam um escritor genial. Muitas vezes criticado no seu tempo por levar uma vida pouco puritana (insurgindo-se contra o status-quo e tendo sido inclusivamente consumido pelo álcool), Edgar Allan Poe será reconhecido em todas as épocas posteriores como o escritor impulsionador da literatura de raciocínio, ainda característica fundamental da literatura moderna, e o precursor dos contos policiais, da literatura fantástica e do terror gótico, de que estes textos são o exemplo máximo.

Opinião:
Logo no início temos uma curta Nota Biográfica que ajuda a entender um pouco do autor e, consequentemente, a sua escrita. Foi uma forma bastante interessante e pertinente, de começar o livro.

Manuscrito Encontrado numa Garrafa
Eloquente, com descrições detalhadas, mas não aborrecidas, e momentos de expectativa. somos apanhados um pouco de surpresa pela sucessão de eventos. O único senão, é ficarmos sem respostas, apenas podendo 'opinar' sobre o realmente se passou com as embarcações tão bem apresentadas.

Ligeia
Fiquei rendida às descrições da Ligeia, e também eu senti o amor que o narrador por ela sentia. O final, embora um pouco previsível, não deixou de ser espantoso, e todos os pequenos detalhes tiveram um propósito, embora no início não o parecesse.

O Homem que fora consumido
Fui apanhada totalmente de surpresa, por este pequeno conto. Logo desde o início, fique de sobrancelha erguida, pois as descrições que no conto anterior me tinham apaixonado, neste pareciam ... forçadas. Mas tudo tinha um explicações e achei deliciosos os diálogos (que no fundo eram repetitivos, mas que tinham imensa teatralidade). O fim foi, simplesmente, surpreendente.

A queda da casa de Usher

Se o mistério em torno da casa me parecia intrigante desde o início, achei que a execução não foi a melhor. Talvez por se ter focado no 'amigo' e o 'anfitrião', ao invés de entrar mais na família e na casa. Também não fiquei grande fã do fim, embora tenha percebido a sua resolução. Mais uma vez, demasiadas perguntas ficaram por responder, mas ao contrário do que acontece no Manuscrito Encontrado numa Garrafa, neste fica uma ligeira sensação de vazio.

William Wilson

Apesar da escrita mais que intensa do autor, a verdade é que achei este conto um pouco 'arrastado'. Perde-se um pouco no contar demorado de certas cenas e chega a repetir-se. Embora tudo culmine no final (que consegui antever quase no início do conto), achei que se arrastou um pouco além do que deveria e assim perdeu alguma intensidade. Ainda assim consegue ser um conto acima da média, com descrições bem interessantes e um protagonista ambíguo.

O Homem da multidão

Gostei da narração, e das descrições, curtas mas significativas que o narrador fez de cada uma das pessoas que observou na multidão. No entanto (e talvez tenha sido culpa minha por não perceber o verdadeiro significado da história), cheguei ao fim sem saber, afinal de contas, o que o texto nos tentava dizer. Pareceu-me que a ideia era falar sobre o homem que perdeu um dia atrás de outro homem - que supostamente seria o estranho da multidão -  quando na verdade ó estranho era ele. Ainda assim, e sob esta perspectiva, acho que falta ao texto um 'objectivo' mais intenso.

Uma descida no Maelström

Este conto recordou-me um pouco o Manuscrito Encontrado numa Garrafa, sendo no entanto melhor do que este, na medida em que as descrições fazem com que pareça que estamos mesmo lá, no meio do turbilhão. É muito intenso e só tem um ponto mais fraco, que é o início, que nos dá a entender que a história será sobre algo diferente, ou seja, diverge a nossa atenção para o que realmente interessa. no entanto, não incomoda muito.

Eleanora

Acho que este conto é uma descrição perfeita do amor intenso. Todas as suas frases e palavras nos relembram os tempos em que estivemos (ou estamos) apaixonados e como o mundo parecia diferente. E depois a separação e como parece que o mundo perde a cor. Quando pensamos que nada mais será tão arrebatador como aquele amor, logo a vida nos prega uma partida e voltamos a ver o mundo a cores.
Foi um conto bastante diferente dos restantes, na medida que tem um final feliz e com esperança (e bem vindo).

O retrato oval

A velha ideia de que um retrato pode roubar a alma de uma pessoa é aqui usada de forma algo ... incompleta. O autor deu demasiadas informações anteriores ao que realmente interessava na história, e apesar de ser um conto muito curto (o mais curto do volume), as primeiras duas páginas mostraram-se praticamente irrelevantes, o que tirou fôlego à narrativa. No entanto, o lado bom é que gostei muito da forma como o autor descreveu a criação da pintura. Quase podia ver a vida desvanecer-se da mulher.


Em suma, foi um livro muito bom, que me fez fã do autor (do qual espero ler mais contos em breve). Realmente há autores que sabem narrar contos, e outros que trabalham melhor em romances. Poe mostra-se um contista por natureza. A escrita do autor captou-me logo desde a primeira frase, e apenas me puxou com mais força durante cada um dos contos. Por vezes abusa um pouco nos "antecedentes", mas rapidamente nos embrenhamos nas histórias e nas personagens.
No entanto nota-se já que há temas recorrentes: Amores trágicos, tempestades no mar. Felizmente nenhum destes se tornou aborrecido.
Aconselho a quem nunca leu o autor, experimentar alguns dos seus contos (imagino que já sejam do domínio público, se estiverem com vontade de ler em Inglês). É sem dúvida um autor a repetir (ainda bem que tenho mais dois livros dele em casa).

Tradução (J. Teixeira de Aguilar):
Impecável, na maioria dos casos, e muito auxiliar à narrativa.
Contudo, especialmente no caso de O Homem que fora consumido senti falta da tradução de algumas expressões latinas e francesas, pois se algumas eu compreendia, e outras estavam traduzidas em nota de rodapé, alguns ficaram por traduzir e isso deveria ser melhorado.

Capa, Design e Edição:
A capa é muito genérica e nada tem a ver com nenhum dos contos apresentados, o que é bastante estranho. faz lembrar as séries de policias dos anos 80, mas em nada favorece a leitura da obra de Poe.
A edição, sendo de bolso, tem a letra bastante pequena e por vezes a tinta falha, fazendo com que seja difícil ler, mas no geral proporcionou uma leitura agradável e sem grandes problemas de visão.

2 comentários:

  1. Tenho de confessar que adoro Edgar Allan Poe e portanto sou um pouco "biased". :) É um escritor revolucionário e influente. Fico contente por teres ficado fã!

    ResponderEliminar
  2. Eu gostei bastante d'O homem na Multidão. O narrador fica obcecado por saber quem ou o quê que o desconhecido é, e esta obsessão é levada a tal ponto que só após um dia este apercebe-se que o velho é um criminoso: roubando e matando pessoas nas multidões (diamante e punhal).

    ResponderEliminar

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails