sábado, 23 de julho de 2011

As Cidades Invisíveis

"As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino (Biblioteca Sábado)

Sinopse:
Marco Polo fala a Kublai Kan das cidades do Ocidente, maravilhando o imperador mongol com as suas descrições. Estas cidades, no entanto, existem apenas na imaginação do mercador veneziano: a sua vida encontra-se apenas destro das suas palavras, uma narrativa capaz de criar mundos, mas que não tem forças para destruir «o inferno dos vivos».
Este livro tem o lirismo dos livros de poemas, poemas que por vezes descrevem cidades e outras vezes a forma de pensar e de ser dos seus habitantes. Invertendo os papéis do Livro das Maravilhas, através do qual Marco Polo revelou o Oriente ao mundo ocidental, Calvino arquitectou o livro que o estabeleceria como uma das referências incontornáveis da literatura pós-moderna.

Opinião:
Sinto necessidade de começar este meu comentário, dizendo que fiquei fascinada com este livro desde as primeiras páginas, por isso perdoem-me se a opinião for curta e cheia de elogios, mas é mesmo isso que penso deste livro fascinante.

Ancorado em descrições fantásticas e sucintas, que nos conseguem em poucas palavras transmitir toda a imponência e unicidade de cada cidade que sai da mente de Marco Polo, esta obra está cheia de segundas intenções e mensagens escondidas (ou nem tanto).
Cada cidade imaginada é única, mesmo quando repesca certos detalhes de outras já descritas, nunca entramos pelos portões da mesma urbe, onde o passado e o futuro se encontram e nos perdemos nas ruelas, nos esgotos, nos telhados de cada local imaginado.

A escrita do autor chega a ser poética, em certos momentos, e é assertiva, sem ser exagerada, embalando o leitor nas suas palavras e nos seus fraseamentos.

Questionando a realidade e a ficção; o passado, o presente e o futuro; a soberba e a ganância; a esperança e a capacidade de mudança; assim como também o ser humano, no meio do que criou, do que almeja e do que já foi.

O único senão deste livro, é o não ter mais cidades, mais conversas entre Kublai Kan e Marco Polo, o de não nos dar mais maravilhosas descrições para onde viajamos com cada palavra.

Parece-me quase ridículo dar uma opinião final, pois tudo o que disse acima o explica sem lugar para dúvidas. Adorei este pequeno grande livro. Perdi-me nas suas páginas e nas suas palavras, e anseio o momento em que revisitarei cada uma das muitas cidades imaginadas por Marco Polo e vividas por Kublai Kan. Este é um livro que vai directamente para a minha lista de favoritos.

Tradução (José Colaço Barreiros):
Embora notasse ocasionalmente certas pequeníssimas incorrecções, nada disso foi prejudicial ao texto completo. No geral houve lugar uma trabalho de tradução exemplar, que parece ter captado toda a essência da obra.

Capa, Design e Edição:
Embora não seja das minhas capas favoritas, não posso deixar de notar que é exemplarmente representativa do texto contido no seu interior. Não só no uso das peças de xadrez, como do reflexo nas peças e a cidade no céu (futuro ou ascensão). Uma muito boa representação que enaltece o texto.

6 comentários:

  1. Eu estou há anos atrás de Italo Calvino! Mas, na hora H nunca me decido qual livro trazer. Tenho medo de sofrer uma desilusão.Bem, parece ue estava enganada. Obrigada Ana!:P

    ResponderEliminar
  2. Jojo, eu pelo menos adorei, e acredito que também vás gostar. Foi pena não teres adquirido esta edição, que veio com a revista sábado, mas o livro não deve ser muito caro pois é bastante pequeno.

    ResponderEliminar
  3. Ouvi falar muito bem deste autor. Tenho cá em casa "Se numa noite de inverno um viajante" que penso ler recentemente. Este não conhecia mas vou espreitar a colecção Sábado do meu pai. Pode ser que ele tenha lá.

    Boas leituras!

    ResponderEliminar
  4. Agora fiquei curiosa, mas simultaneamente confusa. A história passa toda à volta das tais "cidades invisíveis"? Ou é apenas um mote para uma outra história? Peço desculpa, mas é que tinha a ideia de que Italo Calvino seria algo do género de Kafka, se bem que nunca me dei ao trabalho de saber o que Calvino escrevia (sou tão ignorante... enfim).

    ResponderEliminar
  5. Laura, sim é sobre as cidades. Sobre estas e sobre o homem que as 'vista' e o rei que as escuta. Pode parecer monótono (ou estranho), mas a forma como está escrito faz com que não seja.

    ResponderEliminar

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails