sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Noite e o Sobressalto

"A Noite e o Sobressalto", de Pedro Medina Ribeiro (Oficina do Livro)

Sinopse:
O que têm em comum Londres, Berlim, Alentejo ou Praga? São cenários onde se desenrolam as histórias reunidas neste livro, na tradição da narrativa fantástica de Edgar Allan Poe, ou Sir Arthur Conan Doyle.
Pedro Medina Ribeiro, numa escrita elegante e rica em imagens, transporta-nos para um universo de mistério em que nem tudo é o que parece, cativando o leitor pela qualidade da narrativa e prendendo-o pela curiosidade, só o largando no final de cada história, de forma repentina e surpreendente. Em sobressalto.
No prefácio da obra, a escritora Deana Barroqueiro escreveu: «Com uma linguagem elegante e rica de matizes, o autor esculpe com as suas metáforas, comparações e jogos de palavras o absurdo do mundo de aparências, que é o das suas personagens, sem deixar todavia de ser o nosso, revelando com esse distanciamento a sua maturidade como escritor.


Opinião:
Apontado como um dos novos nomes do terror e mistério em Portugal, e apesar de estes não serem os meus géneros de eleição, foi com algumas expectativas (não demasiadas, felizmente) que dei início a esta leitura. Abaixo seguem as opiniões sobre cada um dos contos:

A Séance
Esta história fez-me recordar os clássicos mistérios, tipo Sir Arthur Conan Doyle ou Agatha Christie. Está escrito, imagino que propositadamente, num tom que é muito característico do género de séculos anteriores, adicionando-lhe uma pitada de sobrenatural.
Este 'reconhecimento e estilo' foi o que mais gostei no conto, mas, apesar de este ser possivelmente o conto com o desfecho mais desenvolvido, achei que lhe faltava alguma originalidade. Algo que realmente o distinguisse de tantos outros. Já para não falar que não houve grande possibilidade de empatia com qualquer uma das personagens, e embora o mistério fosse interessante, e as pistas bem colocadas, o ritmo não permitiu grandes surpresas.

A Face Obscura da Lua
Há demasiada informação no passado, que na verdade pareceu ter muito pouca relevância no futuro, e quando realmente a acção aconteceu, foi tão ... banal, que acabou por perder ímpeto. E nada ajudou o facto de ficarmos sem respostas absolutamente nenhumas. Não existiram sustos, nem surpresas, e muito menos explicações para o que aconteceu. No fim, fica apenas um ponto de interrogação, seguido de um vazio, quando havia espaço para muito mais.

O Caminheiro
A lenda do Caminheiro está muito bem narrada, mas ainda assim, em termos da história 'central' achei este conto bastante mal conseguido, e se não fosse pela lenda, a narrativa não teria grande execução. Aliás, neste aspecto, confesso, estava muito pobre.

Mandrágora
Para mim este foi o melhor conto do livro, porque tem um tom que gosto muito, tipo as histórias que nos contavam para fazer medo. Além de que, é diferente das demais, no sentido em que não é por se ser bom e honesto que as coisas más não nos caem em cima. Gostei! (mas, pareceu-me que não havia necessidade de fazer com que os habitantes, além de isolados, fossem também deformados. Pareceu-me quase aquelas "histórias" que tentam incutir-nos que os feios são também os maus, mas posso também ser eu que vejo coisas onde elas não existem)

Post Mortem
A ideia em si está excelente, mas a execução está bastante pobre. No sentido em que, me pareceu forçada a forma como o protagonista deu a ler a sua história ao polícia. Havia outras formas de contar o sucedido e terminar com o mesmo tipo de influências, se a conduta narrativa tivesse sido melhor usada. Foi pena, pois a história realmente estava interessante.

O Monstro Marinho
Mais um conceito interessante, que se perdeu num contar tudo menos apelativo. Se o tom usado tivesse sido mais 'próximo', mais profundo, então a história teria alcançado um nível diferente, mas foi contado com tal 'distanciamento' que perdeu metade do seu valor.

A Herança
Mais interessante e bem conseguido que o primeiro grande conto (A Séance), este ainda assim omitiu alguma proximidade, característica da prosa em primeira pessoa, como é o caso. Contudo, sendo que a história estava bem delineada e as personagens se mostraram interessantes, este acabou por surpreender e deixar que a leitura fosse mais intensa.


A primeira coisa que notei, e odeio dizê-lo, foi a forte influência de outros mestres do género, com um estilo muito à mistério londrino. As influências mantiveram-se em destaque durante todos os contos (de variados autores). Isto, foi-nos dito logo desde o início, mas, se há livros em que as influências se notam, mas não se destacam, neste acontece exactamente o oposto.
Em quase todos os contos, parece que outros estilos se sobrepõe ao do próprio autor, ou aliás, parece que o autor 'sorveu' demasiado dos outros e se esqueceu de criar algo 'seu'.
Na sua ânsia por honrar grandes escritores do género, o autor esqueceu um pouco a sua própria voz, e com isso deixou-me apenas sentindo que estava a ler um sub-produto.

Infelizmente também notei que, apesar de tudo o que nos era apresentado, as respostas praticamente não existiam, e isso é um pouco frustrante para o leitor. Muita coisa pode dever-se ao oculto, e acredito que a ideia é que o leitor fique preso no misticismo, mas esta falta de informação é tão grande, que nada mais que a crença a apoia, e isso é pouco para  leitor mais exigente.

Quanto à escrita do autor, confesso que não fiquei rendida. É fluída, adaptada ao estilo narrativo, e consegue manter o leitor atento, mas faltou-lhe 'algo' (possivelmente o mesmo 'toque pessoal' que faltou às histórias centrais). Ainda quanto à escrita, pareceu-me que o autor não conseguiu usar da forma mais correcta a primeira pessoa, que foi a mais usada no livro. Faltou-lhe a intimidade e cumplicidade características deste ponto de vista. Pessoalmente, achei mais interessante quando ele decidiu usar o ponto de vista da terceira pessoa.

Em suma, foi com alguma pena que terminei este livro sem ser arrebatada. Com tantos louvores que tinha lido, e com o prefácio bajulador de Deana Barroqueiro, esperava muito mais do que simples contos 'inspirados' pelos clássicos do género, e que pouco se destacavam.
Ainda assim, foi uma leitura interessante, e que recomendo para quem goste de mistério.
Talvez dê outra hipótese ao autor, quando publicar outro livro, mas apenas se não seguir este mesmo caminho narrativo.

Capa, Design e Edição:
Gosto muito da capa. Está apelativa, envolvente e em sintonia com o conteúdo do livro. A edição está simples e funcional, sendo que as separações por contos estão bem alinhadas, dividindo o livro da forma adequada.

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