quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Raposa Azul

"A Raposa Azul", de Sjón (Cavalo de Ferro)

Sinopse:
O ano é 1883. A fria e irreal paisagem do Inverno islandês é o pano de fundo. Seguimos o padre, Baldur Skuggason, na sua perseguição à enigmática raposa azul. E no momento em que o padre prime o gatilho somos transportados para o mundo do naturalista Fridrik B. Fridriksson e da sua protegida, Abba, que sofre da síndrome de Down. Quando ela foi encontrada acorrentada às vigas de um navio naufragado em 1868, Fridrik fora casualmente em seu socorro. O destino de todas estas personagens está intrinsecamente ligado e, a pouco e pouco, de um modo surpreendente, é revelado neste fascinante romance que contrapõe à poética violência da natureza a barbaridade dos homens.

Opinião:
Se no início estava já com sentimentos mistos sobre esta obra, então no fim fique ainda mais dividida.
Por um lado adorei a cronologia que o autor decidiu usar neste livro (funciona muito bem com a história, sendo que se fosse escrito por ordem, talvez não se mostrasse tão interessante), isto permitiu que o final fosse inesperado, e me apanhasse de surpresa. mas, por outro lado, senti-me um pouco 'perdida' durante o livro, sem saber ao certo como as cenas se interligavam, já que não havia grandes pistas. Ainda assim, posso dizer que, apesar de tudo, sinto que o livro está bem estruturado e, no fundo, até gosto de ficar confusa e desorientada (desde que não seja demasiado).

A escrita do autor é, em algumas cenas, simples, e noutras mais complexa e até poética. Em certos momentos, talvez por não esperar isso do livro, algumas passagens deram-me voltas ao estômago, pelas suas descrições algo nojentas (se bem que escritas com mestria, não deixavam de arrepiar, exactamente porque não contava com elas).
Pareceu-me que foi propositado o uso de diferentes 'vozes' na primeira parte, em relação às restantes. Pois enquanto que na primeira havia uma proximidade quase íntima em relação às cenas, já no resto do livro existia um certo distanciamento.
Gostei também da pequena pitada de fantasia que foi embutida na história. É de tal forma subtil, que é difícil catalogar esta obra como fantasia, quando na verdade é mais uma ficção realista com laivos de algo mais.

E só um aparte: Não sei se fui só eu, mas os nomes pareceram-me todos estranhamente similares. Alturas houve, em que não conseguia discernir quem era quem e tinha de voltar atrás para perceber de onde aquela pessoa vinha, e consequentemente, deslindar algumas das pistas que o autor ia-nos dando aos poucos.

O único pormenor em que penso que esta obra peca, é na construção de algumas personagens. São nos dadas informações, que mostram que todas elas são bastante interessantes, mas o tempo que é dedicado a algumas é tão pouco, que acabamos por ficar apenas à superfície. por exemplo, a Abba. Sobre ela só sabemos o que nos é contado pelo Fridrick. Ainda assim, pode dizer que tanto o Fridrick como o reverendo, foram duas personagens bem desenvolvidas.

Em suma, A Raposa Azul é um livro pequeno, que se lê com bastante prazer, e que consegue surpreender, mas ao mesmo tempo o seu tom algo apático (depois da primeira parte) cria um distanciamento tão gelado como a neve nele descrita, o que me impossibilitou uma maior proximidade com a obra. Ainda assim, recomendo, por ser uma história tocante e surpreendente até à última página.

Tradução (Maria João Freire de Andrade):
Bastante aprimorada e, tanto quanto percebi, fiel ao original. Houve um ou outro instante em que talvez as palavras não fossem as mais adequadas, mas isto aconteceu apenas esporadicamente e não foi entrave para a leitura.
De resto, o seu trabalho foi bastante exemplar, normalmente dando explicações para as coisas menos conhecidas, e usando notas de rodapé quando tal era necessário. (Caso ainda não tenham percebido, sou grande apologista de notas de rodapé, como auxiliar de leitura.)

Capa, Design e Edição:
Pessoalmente, gosto muito da capa. Transmite muito bem o que o autor tentou dizer-nos num dos seus primeiro parágrafos, em que nos descrevia as raposas azuis, e como estas evadiam a captura.
O design está bastante simples, mas por outro lado a edição está numa qualidade acima da média, com papel mais grosso e reciclado, o que lhe deu um toque algo especial.


Nota: Ganhei este livro num passatempo promovido pela revista Os meus Livros e a editora Cavalo de Ferro.

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