terça-feira, 5 de julho de 2011

Não me Contes o Fim

"Não me Contes o Fim", de Rita Ferro (Bis Leya)

Sinopse:
Perante um impasse amoroso e um quadro familiar decadente, Lara troca a cidade do Porto por um trabalho temporário num clube de férias, no Brasil. Na ilha, torna-se inseparável de um grupo de amigos de várias nacionalidades com quem explora os prazeres do sexo e da transgressão e se envolve numa tragédia local, ocorrida entre as nativas, que conduzirá a um suicídio em série. Entretanto, o namorado abandonado do Porto chega à ilha com uma delegação de jornalistas para investigar o enigma.
Uma história avassaladora da primeira à última página, que devassa a intimidade feminina para repensar valores como o casamento, a família, a maternidade e a liberdade.

Opinião:
É impressionante perceber como um livro pode parecer tão fantasioso, sem no entanto ter qualquer pitada de fantasia.

Chegada ao fim desta leitura, sinto-me ambígua em relação à minha opinião. Por um lado adorei o livro, mas por outro odiei-o.

Gostei muito da forma como a autora escolheu encadear a história. Se bem que no início não percebia a escolha, a o longo da narrativa fui-me habituando e até  gostando da forma como estava construída. Primeiro mostrava-nos as consequências, e só por fim as acções que resultaram nessas mesmas consequências. Fazia-o com mestria, de forma que não frustrava o leitor, mas lhe deixava a curiosidade no alto, e graças a esta escolha conseguiu introduzir várias surpresas ao longo de toda a trama.
A história tem vários focos e muitos acontecimentos, mas pode dizer-se que quase todos têm duas bases: Sexo e/ou Religião. Este facto chegou a um ponto de saturação, apesar de cada situação ser diferente da anterior, a verdade é que cansou um pouco ver tanto do mesmo (foi aqui que o aspecto mais fantasioso tomou forma).

Em relação às personagens, temos um leque variado de personalidades, que de certa forma, ao serem todas contadas pela perspectiva da Lara (protagonista), se juntam todas num mesmo molho. De certa forma são independentes, mas ao mesmo tempo fazem parte de um todo que as torna dependentes.
A Lara, por sua vez, é uma 'filha' da época e isso nota-se em tudo o que faz e em todas as opiniões que tão vincadamente mostra. Não gostei da personagem. Aliás, deixem-se frasear isto de outra forma. Gostei da personalidade da Laura, por ser diferente, mas não gostei da Lara enquanto personagem. Pareceu-me uma fraca, a quem nunca nada de realmente mau aconteceu, mas que se deixou abalar (de forma sucessiva) pelo que ia acontecendo às pessoas que a rodeavam. Não é uma personagem que incuta 'pena' ou sequer compreensão. É fraca, mas todos a amam, todos a apoiam, enquanto ela se queixa da fraqueza dos outros, quando a sua é pior que qualquer outra. No entanto, o pior mesmo, foi a forma como, chegados ao fim, percebemos que ela não aprendeu NADA.
No entanto essa e também a razão porque a acho fascinante. De certa forma ela é a mais realista de todas as personagens do livro, pois nem sempre as pessoas aprendem as lições que deveriam claramente compreender depois de verem tantos à sua volta sofrerem com más decisões.

E o final, esse, fez juz ao título. Sempre o disse, e volto a repetir, gosto de finais em aberto, e este não foi excepção. pareceu-me a escolha perfeita para o livro.

Antes de finalizar tenho também de deixar uma nota relativa a uma parte da história que para mim, de certa forma, foi especial. Refiro-me à carta que a irmã enviou a Lara e em que lhe falou sobre um certo "menino". Foi dos momentos mais altos da narrativa, pois mostrou os dois lados do 'vilão'. Adorei a forma como a autora introduzia este fio narrativo, sem estar a tentar dar lições de moral aos leitores.

Em suma, este é um livro com uma boa prosa, uma história cativante e uma personagem principal que marca (seja pelo bem, ou pelo mal). Não é um livro feliz, nem sequer um livro com uma moral, mas há mensagens em cada capítulo, em cada parágrafo, e só não as vê quem não quer.
Sinto um misto de amor/ódio pelo livro, mas não posso deixar de o recomendar.

Capa, Design e Edição:
A capa é simples, mas de certa forma enquadra o ambiente do livro, ou pelo menos a leveza que a ilha criou na Lara. Acho que está bastante interessante, em relação ao conteúdo, apesar de não ser visualmente marcante.
O design interior é simples, mas eficiente e a edição, sendo de bolso, está bastante boa, com uma qualidade mais que aceitável e feita de forma a facilitar a leitura. É uma boa alternativa à compra da edição 'normal'.


Nota:  Este livro foi ganho num passatempo da Bis Leya. Podem ver o blog oficial do livro AQUI.

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