segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Monsters of Men

"Monsters of Men (Chaos Walking 3)", de Patrick Ness (ainda não publicado em Portugal)

Opinião:
*AVISO: Esta Opinião contém Spoilers*
Monster of Men é o último livro da série Chaos Walking e começa exactamente no ponto em que terminou o anterior. Na iminência de uma guerra trilateral entre os Spackle (que neste livro aprendemos que se auto-intitulam de The Land), o denominado grupo terrorista The Answer, e os The Ask que são liderados pelo Presidente Prentiss, depois de  o Todd o ter libertado no volume anterior.

Este livro é contado em três vozes: a do 1017 (Spackle), a da Viola (The Answer), e a do Todd. De todos, a mais interessante foi a do 1017, visto que ele é quem nos dá a conhecer mais sobre o seu povo (os The Land) e a sua forma colectiva de pensar, coisa que tanto me fascinou.

Muito acontece neste livro. A guerra perdura até às últimas páginas e por várias vezes, quando parece que é dessa que vai terminar, acontece algo que muda o cenário das possíveis negociações. Normalmente porque alguém está a ser emotivo ou  a dar facadas nas costas de outro alguém.
A história não deixa o leitor parar para retomar o fôlego, há sempre algo novo a acontecer e duas revelações são especialmente marcantes: a verdade da manipulação do Prentiss sobre o Todd (facilmente adivinhado mas muito bem executado) e o regresso de uma certa personagem (que também se adivinhava à distância mas que mesmo assim não perdeu impacto).
Posso dizer-vos que as emoções estão à flor da pele em todos os capítulos e que a frequente alternância entre os pontos-de-vista ajuda a manter o leitor num estado de expectativa constante.
O final é aberto, embora resolva quase todos os conflitos e feche todas as tramas, deixando o prenúncio de um futuro bastante diferente. Se bom ou mau, cabe a cada leitor decidir por si mesmo. E, apesar de o desenlace final ter sido, também ele, previsível, a verdade é que outro desfecho, outra sequência de eventos, simplesmente não seria satisfatório. Daí que tenha gostado.
E lembram-se de eu dizer como tinha ficado irritadíssima com o Todd no The Ask and The Answer? Pois neste livro o autor bem fez por dar uma explicação mas eu confesso que não fiquei totalmente satisfeita, embora fosse essa a minha suposição. O Todd só faz as coisas bem quando tem alguém ao lado a sussurrar-lhe aos ouvidos que é assim que o bem funciona. Contudo também sei que no final já tinha crescido mais que isso.
O 1017, o misterioso retornado (só não revelo quem é para não estragar a surpresa), o Sky e, claro, a Viola, foram personagem bem fortes que deu gosto conhecer melhor. Outra personagem que me surpreendeu bastante foi a Mistress Coyle e, por uma razão bem diferente, o Presidente Prentiss que esteve mais fraco neste que no livro anterior, embora tenha continuado a ser um vilão digno do nome.
Na verdade só Ivan acabou por ser uma personagem sem grande fundo, porque todas as outras brilharam em um ou outro momento. Especialmente os cavalos. Ehehe!

A prosa continua mais contida que no primeiro livro, talvez menos inocente, mas funciona bem com a adquirida maturidade que os protagonistas foram ganhando nos livros que se antecedem a este. Adorei a forma como o autor escolheu retratar os The Land e a forma como eles comunicam entre si e com  a terra. No entanto acho que as descrições do planeta são muito banais e demasiado similares à nossa Terra. visto que estamos num planeta alienígena é altamente improvável que tudo fosse igual ao nosso planeta.

Em suma, Monsters of Men foi uma surpresa agradável, um final merecedor para a trilogia, o que faz desta uma série que vale a pena ser lida e apreciada. Com personagens intensas, sem momentos mortos e com uma escrita veloz, é um livro que vale bem a pena.

Nota: Esta opinião tem como base a versão audiolivro publicada pela Candlewick on Brilliance Audio, narrada por Angela Dawe. 

Sinopse (edição brasileira "A Guerra" editada pela Pandorga):
Três exércitos marcham em Nova Prentisburgo, cada um tentando destruir os demais. Todd e Viola se veem presos no meio do conflito, sem possibilidade de fuga. 
Depois que as batalhas começam, como eles poderiam interromper a luta? Como eles poderiam estabelecer a paz sendo eles a minoria? E, se a guerra transforma homens em monstros, que terríveis escolhas os esperam? De repente uma terceira voz surge na batalha, uma voz determinada a se vingar. 
O que você faria? Seguiria um tirano ou um terrorista? Salvaria a vida da pessoa que você mais ama, ou milhares de estranhos? Acreditaria na vitória, ou assumiria que está perdido? 
Tornando-se adultos em meio ao tumulto, Todd e Viola questionam tudo o que sabem, correndo através do horror e indignação em direção a um final chocante.


Booktrailer:

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Sonhos de Deuses e Monstros

"Sonhos de Deuses e Monstros (Daughter of Smoke and Bone 3), de Laini Taylor (Porto Editora)

*AVISO: Esta Opinião contém Spoilers*
No ano passado, e mesmo este ano, estou a tentar terminar o maior número possível de séries que já seguia, algumas delas há vários anos. Esta foi uma das que decidi terminar, mais por uma questão de teimosia do que outra coisa, visto que o livro anterior teve alguns pontos interessantes mas no geral me irritou bastante. E sim, por vezes um livro que nos irrita pode ainda assim ser um bom livro, mas não foi bem o caso de Dias de Sangue e Glória.
Este terceiro e último livro da trilogia Daughter of Smoke and Bone teve algumas coisas boas e muitas coisa más.

Dreams of Gods and Monsters (Sonhos de Deuses e Monstros) começa logo com um capítulo contado pelo ponto de vista de uma personagem totalmente nova e que, durante algum tempo, o leitor nem percebe muito bem o que ela ali está a fazer. Depois passamos para o seguimento imediato do livro anterior, com a formação de uma aliança ténue entre os Misbegotten e os Quimera, assim como a chegada dos Seraphins ao mundo humano.

Primeiro que tudo eu adorei a forma como a autora fez a interacção entre os Misbegotten  os Quimera. A tensão era palpável e houve suficiente conflito para tornar a aliança credível, apesar de tudo o que se passou antes. E eu gostava de poder dizer que isto resultou num enredo super-interessante e entusiasmante para o resto do livro mas infelizmente este conflito/aliança não foi o foco principal da narrativa. Isto porque a autora decidiu que no último livro, em vez de fechar todas as linhas narrativas que já tinha criado nos livros anteriores, iria introduzir mais uma nova trama, um quinto lado da luta, um novo inimigo vindo do nada! Não havia, nos livros anteriores, qualquer indicador de que pudesse haver mais uma força em jogo. Como se a guerra entre Nephilins, Quimeras, Misbegottens e Stallions não fosse já  dramática o suficiente ainda tinham de vir meter os Leviathan ao barulho? E ainda por cima esse 'problema' não fica resolvido no fim da trilogia.
A única explicação que me ocorre é que autora fez isto em preparação para uma nova série mas a execução foi péssima, apressada e estragou o fim desta série.
A dita personagem que abriu o livro teve alguns momentos curiosos, mais no início e depois quando estava com a Zuzanna, mas fora isso não foi de grande interesse e quando foi revelado o seu propósito eu revirei os olhos à sua insipidez. E já que falamos em coisa insípidas ... os Stellions! Estes apesar de fazerem sentido neste livro forma na verdade tão mal explorados e tão metidos à pressão, enquanto personagens individuais, que a sua presença só funcionou no sentido de mostrar o povo e não os indivíduos.

Falando agora das personagens, gostei muito do desenvolvimento do Akiva, da sua irmã, do Ziri e até da Karou mas, por outro lado achei algumas cenas com a Zuzanna um embuste. Houve uma em especial, na recepção de um hotel onde basicamente temos um capítulo a falar de como a Zuzanna fez um concurso de erguer a sobrancelha com a recepcionista. Não estou a brincar! Revirei os olhos vezes sem conta e a partir daí ouvia a história mas estava afastada dela.
Nota-se que a autora ou gosta muito da Zuzanna ou percebeu que os fãs a adoram e decidiu dar-lhe mais espaço nos livros mas, na grande maioria das vezes, o esforço não funcionou.
Por outro lado, personagens como a falsa avó Karou deram outra dimensão à narrativa, mesmo quando a sua estadia foi tão curta na trama. Por seu lado, o vilão principal, o Seraphin, mostrou-se fraco e sem 'chama' (pun intend). O desfecho foi concluído com demasiada facilidade e ele transpareceu como insípido, mais uma vez.
Voltado ao Akiva, aí as coisas mudam de figura porque o vimos crescer ao longo da trilogia e neste livro em particular as mudanças são notórias. A Karou também, mas mais no sentido romântico do que em termos de personalidade. E já que falamos no casalinho, eu gostei do romance entre os dois ao longo do livro mas detestei o final. Foi demasiado arrastado e tragicamente incerto, quando na verdade já não precisava ser tão complicado.
Em relação aos outros romances é quase escusado dizer que a Zuzanna e o Mik são o mais fofinho de toda a trilogia. São duas personagens que funcionam bem em conjunto. Por outro lado o relacionamento entre a Liraz e o Ziri foi um pouco forçado: ela estava interessada nele porque ele tinha um corpo muito belo e ele precisava de carinho urgentemente (ou não estivesse ainda destroçado por não ter ficado com a Karou). Não que eu não perceba que eles funcionem, e até achei algumas cenas bem fofas, mas precisavam de mais tempo para que a sua relação amadurecesse, primeiro como amigos e depois, quem sabe...

Em termos de escrita, eu senti uma degradação crescente na prosa. Nos volumes anteriores havia uma beleza inegável na forma como a autora escrevia mas neste volume, especialmente a partir do meio, a prosa tornou-se banal e por vezes mesmo preguiçosa, especialmente quando o tema dos Leviathans começou a surgir.

Em suma, Dreams of Gods and Monsters teve alguns bons momentos, especialmente no início, e aproveitou bem as personagens principais e várias outras que já tinha usado nos volumes anteriores, mas esforçou-se demasiado por desvendar segredos demais, sub-tramas excessivas e trouxe à luta personagens que não tiveram tempo de brilhar. Isto acabou por minorar o que já havia sido feito . Os Leviathan foram uma adição de última hora que não funcionou e foram deixadas demasiadas pontas soltas para o que diz ser o volume final de uma trilogia. Não satisfaz!


Nota: Esta opinião tem como base a versão audiolivro em inglês publicado por Blackstone Audiobook e narrada por Khristine Hvam.

Sinopse:
Dois mundos estão à beira de uma guerra cruel. Através de um assombroso ardil, Karou assumiu o controlo da rebelião das quimeras e tem a intenção de as desviar do caminho da vingança extrema. O futuro depende dela.
Quando o brutal imperador serafim traz o seu exército para o mundo humano, Karou e Akiva estão finalmente juntos - se não no amor, ao menos numa aliança provisória contra um inimigo comum. É uma versão alterada do seu antigo sonho, mas ambos começam a ter esperança de que será possível forjar um destino alternativo para os seus povos e, talvez, para si próprios.
Porém, com ameaças ainda maiores a desenharem-se, serão Karou e Akiva fortes o suficiente para se erguerem entre anjos e demónios?
Das cavernas dos Kirin às ruas de Roma, humanos, quimeras e serafins lutam, amam e morrem num cenário épico que transcende o bem e o mal, nesta impressionante conclusão da trilogia bestseller Entre Mundos.

O Fim da Inocência

"O Fim da Inocência", de Francisco Salgueiro (Oficina do Livro)

Opinião:
Este livro declara-se como não-ficção, como um relato baseado na vida real de uma adolescente portuguesa do século XXI, e eu não estou aqui a dizer que duvido que o seja, mas ao sê-lo posso dizer que é a vida de uma adolescente mais cliché de sempre, onde a Inês vive tudo o que qualquer pai/mãe alguma vez pode temer que os seus filhos vivessem sem eles saberem. É que não há uma coisa que ela não faça mal. É orgias, drogas à descrição, noitadas sem os pais perceberem, sexo desprotegido e precoce, combinar encontros em casas de estranhos que se conheceram na internet (e a quem decidiram dar todas as informações pessoais), tatuagens em sítios privados, piercings na língua que miraculosamente os pais não vêm (a sério?). Querem mais? Pois há mais!

O livro está escrito num tom quase jornalístico, ou melhor como se fosse uma crónica. Há uma distância sempre formal entre o leitor e as pessoas nele descrito, não só porque são, teoricamente, pessoais reais, mas porque o relato em si cria esse distanciamento, fazendo do leitor um quase voyeur e pessoalmente senti-me enojada durante quase todas as cenas, especialmente porque estavam a ser descritas situações com quase-crianças (dos dez anos aos dezassete), mas afinal o intuito do livro é mesmo esse. Deixar o leitor desconfortável, no sentido de o sensibilizar para uma realidade que pode não ser a norma mas não deixa de acontecer. Nesse ponto acho que conseguiu ter sucesso.
No entanto há que apontar algo que ainda me incomodou mais no livro, que descreve por várias vezes a família da Inês, e as dos seus amigos, como normal. Ora eu cá não acho nada disso. Pais que não dão pela falta da filha todas as noites em casa e não notam que ela está todos os dias ressacada? Uma mãe que quando vê a filha entrar pelo portão da casa de manhã cedo, toda molhada, em mini-saia e roupa da noite acha que ela veio de um passeio matinal? E repito: os piercings de língua; quem é que não vê aquilo? Enfim, de normal esta família não tem nada! Se tivesse, então este país (e o mundo) estava mesmo perdido.

Não há, ao longo do livro, uma ligação muito emocional com as personagens, nem sequer com a Inês que é o centro do relato. A prosa e a própria história não o permitem porque na verdade só nos é contado o que de mais chocante havia na vida dela. Nunca nos é mostrado um semblante de normalidade, de juventude no livro todo, excepto na ingenuidade dos seus actos. E isso não chega. Isso impediu-me de me ligar à Inês e de sentir grande empatia pelas suas vivências. Não que não sejam horríveis  e, de certo modo, fascinantes, mas são tão desprovidas de um pilar de normalidade que não há o outro lado da balança e por conseguinte não há equilíbrio. Tirando a parte que é referida a amizade entre a Inês e a Rita, mas é tudo tão superficial e tão enublado pela sexualidade das duas que acaba por não ter qualquer efeito fora da restante trama.

Em suma, o livro dá aquilo que promete à primeira vista: um relato que assustará muitos paizinhos, mas será que reflecte realmente a realidade? Há assim tantas famílias de classe média que não prestam a  mínima atenção aos filhos? E se os jovens despertam cada vez mais cedo para a sexualidade (e disso não há dúvida), será que todos eles o fazem mesmo sempre de forma tão descuidada? Com toda a informação que por aí anda? E os pais será que nem sequer sabem pôr controlo parental na internet? Acredito que isto suceda a alguns, tal como já acontecia em gerações anteriores, mas custa-me acreditar que seja a regra e não a excepção. A tentação sempre existiu e sim, este livro pode até ajudar alguns pais e alguns jovens a reflectirem um pouco mais nestas realidades, e por isso já vale a pena. No entanto como trabalho literário não tem grande mérito e perde muito por se focar só no mau, até mesmo no final. Precisaria de bastante mais equilíbrio para ser marcante enquanto texto literário, mas não há dúvida que choca.

Sinopse:
Aos olhos do mundo, Inês é a menina perfeita. Frequenta um dos melhores colégios nos arredores de Lisboa e relaciona-se com filhos de embaixadores e presidentes de grandes empresas. Por detrás das aparências, a realidade é outra, e bem distinta. Inês e os seus amigos são consumidores regulares de drogas, participam em arriscados jogos sexuais e utilizam desregradamente a internet, transformando as suas vidas numa espiral marcada pelo descontrolo físico e emocional. 
Francisco Salgueiro dá voz à história real e chocante de uma adolescente portuguesa, contada na primeira pessoa. Um aviso para os pais estarem mais atentos ao que se passa nas suas casas.

Trailer:

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