quarta-feira, 27 de julho de 2011

O Futuro à Janela

"O Futuro à Janela", de Luís Filipe Silva (Editorial Caminho)
Podem ler este livro na íntegra AQUI ou AQUI (versões disponibilizadas pelo autor).

Sinopse:
Depois da revelação de João Aniceto, Daniel Tércio, Isabel Cristina Pires e Bráulio Tavares, com livros que marcaram fortemente a ficção científica de língua portuguesa, o Prémio Caminho de Ficção Científica de 1991 permite descobrir um novo talento, indiscutivelmente promissor: Luís Filipe Silva. Em «O Futuro à Janela», livro inteligente, ousado e inventivo, Luís Filipe Silva conta-nos histórias muito diversas, sempre aliciantes, em que o leitor pode ter a surpresa de encontrar o Infante D. Henrique e o seu «robot» ou as personagens e as situações mais inesperadas. «O Futuro à Janela» mais do que uma promessa é um livro já conseguido, que deve ser saudado com a satisfação de quem descobre novos territórios na ficção científica portuguesa.

Opinião:

Perdoem-me desde já as curtas opiniões por conto, mas não quis dizer demais.

Prefácio à  Versão Digital
Uma apresentação de como nasceu a antologia, e dos anos em que a ficção científica, apesar de parecer estar a florescer, ainda assim era vista como literatura 'menor'. Uma visão interessante e curiosa.

Introdução: A Importância do Conto
Como diz o título, este pequeno texto fala-nos dos primórdios do conto e de como este foi perdendo 'força' na nova era dos livros acessíveis a todos. Mesmo para os que já conhecem os factos apresentados, não deixa de ser um resumo a ter em conta.

Dois Estranhos, um Encontro
Bem escrito e curioso, numa mistura de passado (as lições de história fazem uma visita inesperada) e futuro. Gostei da forma como retratou a situação e as personagens, como nos mostrou o que os rodeava, sem na verdade dizer muita coisa. Só fiquei um pouco incompleta (não necessariamente insatisfeita) com o final, pois nada fica definido e parece que fica muito por contar.

Embaixadores da Boa Vontade, Ou Contacto!
Ri-me imenso com este conto. É tão ridículo como simples, mas ao mesmo tempo tão verdadeiro que até me leva a ter pena da nossa forma de viver (por vezes).

Os Poetas da Rua
Todas estas histórias, à excepção talvez da Dan Brook e António Silva , me pareceram excessivamente cruéis, apesar de realistas, de um certo ponto de vista. Percebi a conexão entre os textos e o título, mas no fim fica um certo sentimento de falta de algum elo de ligação.
Não foram maus, apenas diferentes (sendo que a escolha, muitas vezes, da quase micro-narrativa, funcionou melhor em certos casos)
Achei que curioso que, de todas as curtas histórias, apenas Mister Machine dá mesmo a sensação de ficção científica.

La Nausée II
Um conto com uma escrita um pouco diferente do que estou habituada do autor. Mais intimista e sôfrega, onde tudo é do momento.O protagonista tudo sente e tudo transmite ao leitor, deixando uma sensação estranha de compreensão. Acho que também qualquer pessoa (com mais de 15 anos) se poderá rever no tema retratado (a viragem do século)

O Fernando Pessoa Electrónico
Gostei muito desta 'troca de ideias'. Não só pela fluidez da conversa, mas pelas ideias nela contidas, terminando com um final merecedor.

Pequenos Prazeres Inconfessáveis
Gostei muito do estilo da prosa e do encadeamento da acção, mas esta é uma história capaz de revirar estômagos, não só pela crueza da narrativa, como pelos temas apresentados. Contudo a decisão de não contar a história de forma linear, fez com que esta tivesse ainda mais impacto, já que o que ao princípio pareciam ser histórias separadas, mostraram vir a ser uma e a mesma.

O Jogo do Gato e do Rato
Um conceito interessante e bem explorado pelo autor, dando a conhecer muitos detalhes sobre a 'civilização' existente. No entanto, pareceu-me que aquele final 'extra' não fez mais do que confundir, sendo que lhe fazia falta algo mais para se tornar sólido.

Série Convergente
Um conceito interessante, mas caótico, de tal forma que chegou a fazer confusão, apesar de a narrativa manter a atenção presa.

Também há Natal em Hanímedes
Um conto pequeno, mas carregado do espírito de Natal. Gostei da interacção familiar e do que o autor nos conta sobre a vida fora da Terra. Ficou no entanto a vontade de ler mais.

A Última Tarde
Uma história estranha, que pareceu ser várias coisas, e depois mostrou ser algo totalmente diferente. Recupera um pouco daquele sentimento de vontade de explorar o universo.

Criança entre as Ruínas
O mais comprido e para mim, sem dúvida, o melhor conto do livro. Cheio de emoção, de excelente construção  da situação, numa prosa alternada e apelativa. Uma história que toca muitos assuntos, e a todos dá interesse. Com um final triste, mas ao mesmo tempo cheio de esperança, perfeito para o conto.

Ala Anima
Belo suave como uma pena, mas estranhamente profundo. Gostei!


Em suma, esta compilação de contos foi uma boa leitura. Alguns contos foram mais violentos, outros mais meigos, mas todos foram escritos com mestria, tendo cada qual uma interpretação e voz únicas. O meu favorito foi, como já disse, o "Criança em Ruínas".
É também de louvar a 'intemporalidade' dos contos, pois embora não sejam assim muito antigos (já lá vão 20 anos!), não se lhes notam os anos em cima e tenho quase a certeza que mesmo daqui a mais duas décadas, ainda estarão actuais. E também é de notar o que me pareceu ser um  laivo de patriotismo que é sempre bom ver na literatura feita por portugueses, pois sem ser extremista, é reconfortante.
Vale bem a pena ler este livro que, certamente, de forma justa ganhou o prémio Caminho da Ficção Científica de 1991. Agradeço também ao Luís Filipe Silva por disponibilizar gratuitamente este livro.

2 comentários:

  1. Ainda bem que gostaste do livro,e só posso concordar com tudo o que dizes, só tenho pena que não tenhas participado na leitura conjunta lá no forum Bang, mas leste o livro e no fundo isso é que é importante e claro está a divulga lo, o que é de extrema importância para que não se perca a memoria do que de bom já foi feito por cá.
    Espero que não te importes, mas fiz "publicidade" desta tua opinião no tópico do que fiz ao autor no forum Bang.

    Um abraço

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  2. Marco, não me importo nada.
    Eu teria feito a leitura conjunta, mas quando soube disso, já o grupo ia bastante avançado no livro, por isso decidi ir ao meu ritmo.

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