quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A Mecânica do Coração

"A Mecânica do Coração", de Mathias Malzieu (Editora Contraponto)

Sinopse:
Edimburgo, 1874. Jack nasce no dia mais frio do mundo, com o coração… congelado. A Dr.ª Madeleine, a parteira (segundo alguns, uma bruxa) que o trouxe ao mundo, consegue salvar-lhe a vida instalando um mecanismo – um relógio de madeira – no seu peito, para ajudar a que o coração funcione. A prótese funciona e Jack sobrevive, mas com uma condição: terá sempre de se proteger das sobrecargas emocionais. Nada de raiva e, sobretudo, nada de amor. A Dr.ª Madeleine, que o adopta e vela pelo seu mecanismo, avisa: «o amor é perigoso para o teu coraçãozinho.» Mas não há mecânica capaz de fazer frente à vida e, um dia, uma pequena cantora de rua arrebata o coração – o mecânico e o verdadeiro – de Jack. Disposto a tudo para a conquistar, Jack parte numa peregrinação sentimental até à Andaluzia, a terra natal da sua amada, onde encontrará as delícias do amor… e a sua crueldade.

Opinião:
Há livros que nos enganam logo à partida.
Quando vi as capas deste livro, imaginei logo que seria, ou uma história meio à la Tim Burton, ou uma história de amor inocente e doce como uma flor. A sinopse reafirmou essa minha ideia inicial, assim como as várias críticas e opiniões que fui lendo ao longo dos meses que se seguiram à publicação.
No entanto, o que recebi, foi um livro sumariamente poético na escrita, belo nas palavras, mas praticamente vazio em desenvolvimento de personagens.

Começo por dizer que adorei a forma como o escritor escreveu esta história. Linda!, não chega para descrever as páginas de beleza literária que se avizinham ao abrir o livro. Só por isso, já vale a pena.

Mas, os pontos bons pouco passam daí.
Confesso que talvez não tenha adorado esta leitura porque esperava algo totalmente diferente, ao invés de um (dois aliás) romance fatídico e obsessivo, um protagonista capaz de um acto de violência algo despropositado (exageros?) e descrições sensuais que apesar da beleza da descrição, chegavam a dar-me voltas ao estômago (e não ajudava que os protagonistas tivessem 15 anos, e sim eu sei que isto não se passa nos dias de hoje).
Talvez, no meu subconsciente, eu quisesse algo mais suave, mais belo na sua elementaridade, e mais feliz no seu desfecho. E já que falo no final, fiquei extremamente decepcionado com este. Sou a favor de finais em aberto e até de finais pouco felizes, mas este livro roça o "ridículo" com o seu fecho que me deixou um sabor amargo na boca.

O desenvolvimento das personagens foi praticamente nulo. Os anos e as experiências nada fizeram para alterar os comportamentos de nenhuma das três personagens principais, e estes foram prova do típico "não aprendas com os teus erros, e volta a fazer tudo igual uma segunda vez". É horrível ver isto acontecer num livro que poderia ter sido muito mais do que foi. E pior, ver o autor a tentar resolver assuntos que não precisavam ser resolvidos (de que serviu toda aquela confusão com os relógios?).

Em suma, uma leitura esplendorosa a nível literário, mas uma decepção a nível narrativo. Ainda assim, vale pelo lirismo da prosa e pela ideia (que tinha muito mais potencial do que o que foi explorado).


Capa inglesa (Benjamin Lacombe), Design e Edição:
A capa inglesa (e portuguesa na 2ª edição) é absolutamente fabulosa e capaz de apaixonar qualquer um, mas, a meu ver, não transmite fielmente o conceito do livro e pode induzir em erro.
A capa da primeira edição em português (a amarela) é também muito bonita, e extremamente cativante, mas nada tem a ver com o livro. O protagonista nunca toca violino e falta-lhe ali o coração de cuco.
O design da edição que li (inglesa) está simplista, mas eficiente e edição está bastante boa com uma tradução bastante bélica  e bem conseguida (o original é francês).

7 comentários:

  1. Oh Ana, estou chocada! eu tenho este na wishlist exactamente pelas razões que referiste no início. Tudo aponta para uma bela história. Mas fiquei na dúvida agora. *sigh* é triste quando um livro tem tudo para ser bom e não o é :(

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  2. cuidadocomodalmata,
    Embora tenha ficado decepcionada, a verdade é que vale a pena ler o livro nem que seja só pela escrita. Parece que as palavras dançam no papel. Nem que seja só por isso, acho que já vale a pena, mas o resto ... o resto deixa algo a desejar. Com muita pena minha.

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  3. Este livro também me andava a deixar curiosa. É uma pena que a história não seja bem desenvolvida. Mesmo assim, depois da tua descrição da escrita acho que ainda lhe vou dar uma hipótese.

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  4. Concordo com alguns dos aspectos negativos, mas estes não me fizeram deixar de gostar muito deste livro. Achei a escrita musical e deslumbrante. Acho que é um livro despretensioso e leve, e cumpriu as minhas expectativas.

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  5. Muito diferente! Gostei das duas capas, e fiquei curiosa para ler, apesar de vc ter achado bem diferente do q pensavas. XD

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  6. As capas são convidativas, mas a julgar pela sua resenha, não sei o que pensar do livro ainda. Temo ser redudante, mas a sua resenha está excelente.

    Beijocas

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  7. Han... Hmmm, vou anotar como leitura inédita, mas não sei qdo vou ler.

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