segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Histórias Extraordinárias II

"Histórias Extraordinárias II", de Edgar Allan Poe (Publicações Europa-América)

Sinopse:
É indiscutível o lugar ocupado por Edgar Allan Poe na literatura norte-americana, em particular, e na literatura universal, em geral. Considerado um dos melhores escritores do mundo, sobretudo depois da tradução que Baudelaire fez da sua obra. Poe revela, nestes contos, uma personalidade paradoxal e surpreendente, sendo os mesmos o produto de uma mente ao mesmo tempo rigorosamente lógica e impetuosamente imaginativa. Para a solução das intrigas, estas histórias requeriam um rígido processo de dedução mental, tornando-se estes textos precursores da literatura policial, fantástica e de terror gótico. Considerado no seu tempo um «escritor maldito», Poe permanecerá como um dos marcos da literatura universal.

Opinião:
Mais uma vez Edgar Allan Poe surpreendeu-me. Com este segundo livro de contos, posso dizer que este autor passou a ser um autor que terei todo o prazer em voltar a ler, pois embora use de alguns dos artifícios que não gosto na escrita (diálogos demasiado longos e explicativos) a verdade é que este autor tem uma escrita maravilhosa e consegue contar histórias  de uma forma singular. Arrepiei-me várias vezes durante este segundo volume de contos, ainda mais do que no primeiro (opinião). Ou não fossem também alguns destes mais macabros. Achei curioso que este volume tenha dois tipos de contos. Os de mistério (detectivescos e de caça ao tesouro) e os de terror. Os géneros, em certos contos, misturavam-se e confundiam-se de um modo muito intrigante, o que só me fez gostar mais deste livro.
Ficam então as minhas curtas opiniões sobre cada um dos contos:

Os Crimes da Rua Morgue
Este conto trouxe-me à memória as aventuras do Sherlock Holmes (ou será que deveria dizê-lo ao contrário?), com a sua componente mais de investigação e percepção da cena do crime.
Confesso que não gostei partcularmente de como a história foi narrada, mas não há como negar que os 'poderes' de dedução do protagonista são fenomenais. Além disto, adorei a introdução do conto, que falava do xadrez e das mentes realmente brilhantes.
Uma citação:
«É um facto que um homem engenhoso é sempre fantasista, enquanto o homem verdadeiramente imaginativo é, no fundo, um analista.»

A Máscara da Morte Vermelha
Adorei este pequeno conto, pelo seu simbolismo (Não nos vale de nada fugir dos problemas, pois eles acabam sempre por nos bater à porta) e a única coisa que não gostei muito foi a parte em que o narrador diz algo do género «Mas antes disso deixem-me dizer-vos como são os salões». A descrição em si estava boa, a apresentação é que não, parecendo quase teatral. Mas fora isso o conto é muito bom.

O Poço e o Pêndulo
Uma história quase claustrofóbica, descrita de forma muito viva. O leitor quase que se sente na pele do condenado. O início, na escuridão total, foi descrita de maneira a deixar o leitor quase cego e com a ansiedade do prisioneiro. Excelente narrativa.

O Coração Revelador
Um uso assustador da narrativa na 1ª pessoa, em que a loucura é uma constante e a culpa se sente de forma palpável. Não é o melhor conto do volume, mas está muito bem conseguido nas suas poucas páginas.

O Escaravelho de Ouro
Adorei este conto ate chegar à parte final. Não é novidade que desgosto particularmente de info-dumps (descargas de informação) sobre qualquer forma, mas especialmente em forma de monólogo. Embora admita, com muita resignação, que o autor é dos que o fazem da melhor forma, isso não me impediu de achar que o conto teria sido muito melhor se todo o mistério não tivesse sido resolvido num último e longo monólogo.
Esta nada típica caça ao tesouro recordou-me as antigas histórias de piratas e por isso gostei muito de a ler, mas tê-la-ia adorado se o verdadeiro mistério fosse mostrado aos poucos e não despejado no final.

O Gato Negro
Um conto arrepiante do início ao fim, embora não possa deixar de notar uma quase repetição do final de um outro conto, "O Coração Revelador". Esta é uma daquelas histórias que nos lembra os medos populares e, mais uma vez, como a culpa nos pode corroer (ou não).

A Carta Roubada
Adorei a resolução deste mistério, embora o já adivinhasse, simplesmente achei imensamente irónico que a solução fosse a mais óbvia e ainda assim passasse despercebida a quase todos. Mais uma vez, no entanto, os longos monólogos foram um pouco exagerados. No entanto, sendo isto parte do estilo do autor e da época, acabei por me resignar a apreciar a história pelo seu valor. Até porque a escrita do autor é fantástica e os seus diálogos parecem muito verossímeis.

A Verdade bo Caso do Sr. Valdemar
Este conto fez-me recordar um pouco o "Reanimador" de Herbert West (opinião) e acabou por ser quase tão arrepiante como este, apesar de todas as suas diferenças. Um conto perturbante mas bem descrito, apesar de o final não me ter convencido totalmente.

O Barril de «amontilhado»
Inesperado é a palavra chave que descreve este conto. Confesso que fui apanhada totalmente de surpresa pelo desenrolar dos acontecimentos neste pequeno conto, mesmo quando o início assim agourava.

Hop-Frog
Um conto macabro de vingança, diria ... quase poética. Com muito boas descrições, só pecou um pouco por não mostrar mais a animosidade, ou melhor, as razões para esta existir entre o bobo e o rei. Foram-nos dadas a conhecer apenas duas situações que não foram suficientes para perceber realmente o porquê de toda aquela raiva. No entanto achei o conto muito bem estruturado e as personagens bem conseguidas.


Em suma, Edgar Allan Poe é um escritor que sabe usar na perfeição a narrativa na 1ª pessoa, de tal forma que o leitor entra na pele dos personagens, por mais que estes se diferenciem de nós.
O meu conto favorito foi o "A Máscara da Morte Vermelha", mas todos os outros foram muito bons.
Mais um livro que me agradou imenso e mais um autor que terei debaixo de olho. Arriscaria até dizer que se torna desta forma um dos meus favoritos.
Certamente voltarei a ler mais deste autor, que mostra de forma clara porque é ainda hoje considerado um dos mestres do mistério e horror.

Tradução (Luísa Feijó):
Esta a par da excelente tradução do primeiro volume e não tenho grandes falhas a apontar. A decisão de manter certos dizeres nas línguas originais, foi bem pensada e as notas de rodapé estavam adequadas.

Capa, Design e Edição:
A capa está bastante antiquada, mas retratada de certa forma um dos contos do volume, apesar de ser exageradamente 'vampírica' (coisa que o autor não usa em nenhum dos seus contos).
O design interior está muito simples, não havendo grande coisa a assinalar excepto que, devido às margens muito reduzidas, por vezes tornava-se muito difícil ler o texto nos cantos das folhas, junto da encadernação.


---- Onde encontrar o livro: Europa-América - Goodreads - Wook - Fnac - Project Gutemberg -

4 comentários:

  1. A Máscara da Morte Vermelha é um dos meus contos favoritos. Foi dos primeiros que li do autor - num tempo distante em que a minha biblioteca era oh, tão pequenina... - e fiquei rendida. :)

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  2. Carla, então temos a mesma opinião. :)

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  3. Parece ser bastante interessante! Confesso que só li algumas coisas soltas de Edgar Allan Poe, mas quero muito comprar algo tipo "complete works of Poe" para poder aumentar os meus conhecimentos literários sobre o mesmo :D

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  4. ninguem tem ai sobre historias extraordinarias 3 nao ?

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