domingo, 24 de outubro de 2010

O Décimo Terceiro Poder

"O Décimo Terceiro Poder (Terras de Corza 1)", de Madalena Santos (Edições Gailivro)

Sinopse:
Ne­ferlöen é uma jovem don­zela, filha adop­tiva do Rei de Le­vi­onda, que, face a um ini­migo sem rosto, vê-se su­bi­ta­mente pro­mo­vida a re­pre­sen­tante do seu tutor nas terras do sul do Reino. Sem nunca deixar a sua fa­ceta fe­mi­nina, afirma-​se uma di­plo­mata num mundo de ho­mens e uma au­tên­tica guer­reira de es­pada em riste. Con­segue, com a sua pe­rícia, con­ci­liar as am­bi­ções dos vá­rios tronos das Terras de Corza e o seu des­tino será de­fi­nido pelo se­gredo da sua pa­ter­ni­dade.

Opinião:
Parti para esta leitura sem saber muito sobre a história. Embora já muitas vezes tivesse ouvido falar da saga, a verdade é que pouco conhecia dela.

Por isso não ia com ideias pré-concebidas, embora confesse que tinha ideia que seria uma história medieval cheia de elfos e etc. Não podia estar mais enganada, e ainda bem. Esta história é uma espécie de Romance Histórico Alternativo, sendo que não acontece na nossa "Terra", mas também não tem nenhuma das criaturas medievais que mencionei, ou outras. Trata apenas de pessoas, reis, cortes e guerreiros.
Nunca fui fã de romances históricos, nem nunca tive muita paixão por histórias passadas em épocas medievais, mas este "Décimo Terceiro Poder" conseguiu ser uma leitura muito mais agradável do que esperava.

As personagens, apesar de serem muitas e por vezes me confundirem, foram muito bem expostas e tiveram um desenvolvimento fantástico. Conseguimos vê-las crescer através das suas acções e pela forma como passam a ver o mundo.
Neferlöen foi uma protagonista maravilhosa. Forte, mas ainda assim sabendo como a sua "condição" de mulher lhe tirava alguma vantagem no meio em que se movia. Não gostei muito das decisões dela na última parte do livro, mas não nego que estavam em pleno acordo com o tipo de personalidade que ela sempre demonstrou, pensando sempre no seu reino mais do que na sua própria felicidade.
Também Loccon, Pertescus e Fomples foram personagens que surpreenderam (o último por muita más razões), mas que foram sempre bem caracterizados e fiéis a si mesmo.
Isto já para não falar de todos os outros, que fizeram mover a história e não passaram despercebidos.

Já a história em si escondia vários segredos (muitos dos quais adivinhei com alguma antecedência, mas que estavam bem mascarados pela autora), e embora os cenários de guerra pudessem ter sido mais bem explorados, pareceu-me que a autora se tentou focar mais nas relações entre os poderes de Corza, e nas mentiras e estratagemas que vários reinados escondiam. Neste ponto, achei que foi muito bem sucedida.

Mas ainda na questão das guerras, ao principio pareceu-me que as estratégias de combate eram todas muito simplistas, mas com o desenrolar da história estas foram evoluindo, e parece-me que isto foi propositado na medida em que a própria personagem (Neferlöen) foi evoluindo e ganhando mais experiência no campo de batalha e em termos de estratégias de combate.

Uma das coisas que mais gostei nesta narrativa foi a construção das diferentes culturas e religiões. Cada reinado/ducado tinha a sua própria religião e a autora soube explorar isto com mestria, deslumbrando o leitor com pormenores maravilhosos sobre a vida nas diferentes terras de Corza.

Quanto à escrita, achei-a muito bem conseguida e fluída, e, ao contrário de outros livros que li escritos por adolescentes, este não mostrou a imaturidade que sempre me irritou. Muito pelo contrário!
No entanto, pareceu-me que o ponto fraco da escritora eram os diálogos, que embora estivessem de acordo com as éticas das cortes, por vezes pareciam um pouco forçados. Mas até nisto se notou uma evolução ao longo do livro, e no final os diálogos estavam muito mais naturais.
Também ressenti o uso de algumas expressões modernas que pareciam muito estranhas no meio de tanta conversa formal. Foi só por duas ou três vezes, mas notou-se. E também o uso de familiaridades, ou seja, umas personagens estavam a tratar-se de forma muito formal e de repente, no meio da mesma frase, já se tratavam por "tu". Isto também só aconteceu uma ou outra vez, mas no meio de tanta conversa comedida estas pequenas coisas sobressaiam.

Existiram contudo algumas outras coisas que estranhei, nomeadamente o facto de, na narrativa, a autora alternar entre chamar Nefer ou Neferlöen à protagonista. Entendia-se, mas não havia explicação para as duas formas. Outra situação eram os honoríficos como D., que na narrativa ficavam bem, mas nos diálogos pareciam muito estranhos.

Em suma, foi uma leitura que surpreendeu, que conseguiu deixar-me a pensar nas personagens longas horas entre leituras e que não posso deixar de recomendar a quem goste de um bom livro de fantasia ou romance histórico. E mesmo para os que não gostam (como eu), acredito que possam encontrar neste livro algo mais do que esperavam.
Os meus parabéns à Madalena, que além de ser uma pessoa muito simpática, tem muito talento para criar histórias e especialmente para escrever de forma bem cativante.

Capa (Pedro Pires) e Design:
Antes de mais, permitam-me dizer que a maior falha desta publicação é o peso do livro. É monumental! Eu que gosto de carregar os livros comigo para todo o lado, vi-me muitas vezes forçada a deixar este ficar em casa porque não podia andar a passear com aquele peso nos ombros. Foi esta a razão porque demorei tanto tempo a lê-lo, pois praticamente só lia em casa (onde tenho muito menos tempo). É muito peso!
Também achei que os capítulos estavam grandes demais. Eu sou pessoa que gosta de pausar a leitura no fim de um capítulo, mas neste livro nunca conseguia porque havia capítulos enormes (tipo, 75 páginas).

Eu comprei o livro este ano, mas ainda apanhei a capa das primeiras edições (podem ver a nova à direita). Quando há uns anos este livro foi publicado pela primeira vez, eu peguei muitas vezes nele e tive vontade de o comprar porque a capa e a história me eram apelativas, mas acabei por nunca ter oportunidade. Só no ano passado voltei a ouvir falar deles e nessa altura sabia que os queria ler. A capa que eu tenho é linda, especialmente no livro, e o as fontes e design geral da capa estão numa harmonia que adoro (contudo o facto de o nome da autora estar tão pequeno, pareceu-me um erro crasso da edição. Muito mau!).
O que não gostei nesta primeira edição foi a lombada e também a contracapa. Numa lombada daquele tamanho, pressupunha-se que fizessem uso do espaço, mas tanto o nome da autora como o título do livro estão em letras pequenas o que deixa toda a lombada num preto indistinto que não se destaca na prateleira.

A nova edição também tem as suas vantagens, na medida que as cores chamam ainda mais a atenção e a fonte é linda. Mas, em contrapartida, acho que o desenho não está nada fiel à Nerferlöen, que tem cabelos castanhos-escuros e, bem, o design da personagem não está muito de acordo com a imagem que tenho dela.

O mapa das Terras de Corza, que segue no interior do livro, é um bom auxiliar, mas em certos pontos torna-se confuso, na medida que as letras se misturam com os traços do terreno.
O design interior é simples, mas funciona muito bem. O tamanho de letra escolhido permite uma leitura mais relaxada e pouco exigente para as vistas, o que é sempre bom.

2 comentários:

  1. Já várias vezes me senti curiosa acerca deste livro, mas depois de diversas desilusões com a literatura fantástica portuguesa, fiquei-me pela curiosidade. Folgo em saber que é uma boa leitura... talvez se ainda o encontrar na Bertrand o compre. ^_^

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  2. slayra,
    Também eu andava um pouco desiludida com a literatura fantástica portuguesa, mas este livro foi uma surpresa e embora a autora fosse muito jovem quando escreveu, não se nota, o que é óptimo.

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