Sinopse:
Naquele dia quando Clay regressou da escola, encontrou à porta de casa uma estranha encomenda com o seu nome escrito, mas sem remetente. Ao abri-la descobre que, dentro de uma caixa de sapatos, alguém colocara sete cassetes áudio, com os lados numerados de um a treze. Graças a um velho leitor de cassetes Clay prepara-se para ouvi-las quando é sobressaltado pela voz de Hannah Baker de dezasseis anos, que se suicidara recentemente e por quem ele estivera apaixonado. Na gravação, Hannah explica os seus treze motivos para pôr fim à vida, que a cada um deles correspondia uma pessoa e que todas elas iriam descobrir na gravação o seu contributo pessoal para aquele trágico desfecho.
Opinião:
Ao ler este livro, recordei-me um pouco do que senti ao ler o "Sorte" da Alice Sebold. Ou seja ... uma completa e total apatia.
Eu sei, parece cruel, até atroz. Mesmo para mim, é isso que parece, especialmente quando o livro supra mencionado é um relato cru e biográfico da violação da autora. Mas estaria a mentir se dizesse que consegui empatizar com a Alice Sebold, porque a forma como ela descreveu todo o livro, era de um afastamento gelado que me impedia de sentir algo para além de nojo. O mais completo nojo.
Este "Por treze razões" não é um relato auto-biográfico. É ficção. Mas o tema, por si só, tinha potencial para me fazer chorar rios de lágrimas. E eu nem uma verti ...
Por um lado sinto-me como se fosse uma insensível, mas por outro sei que a culpa não é minha, nem sequer do meu estado de espírito. É o livro que não tem o impacto que deveria ter.
A Hannah Baker está longe de ser uma personagem que inspire piedade. Está certo que lhe aconteceram coisas horríveis, e também sei que são as pequenas coisas, que acumuladas em cima umas das outras, que levam a actos como o dela. Mas, sem querer ser objectiva demais, metade das coisas que lhe aconteceram foi porque ela deixou, porque ela era fraca e eu não consigo simpatizar com uma personagem assim.
No fundo acho inverossímil que uma personagem que é fraca e não consegue defender-se das situações que a deixam incomodada, tenha o discernimento de gravar 7 cassetes a deitar as culpas do seu suicídio aos outros.
Não lhe tiro realismo, porque não são poucos os suicidas que, no seu "caminho" para a morte, se certificam que os que vivem se tornam tão ou mais miseráveis que eles. Por isso nem é o facto de ela gravar as cassetes que parece estranho. O que parece estranho é que as acções dela não condizem com isso. Já para não falar que não me parece que uma pessoa com tendências suicidas vá fazer "piadas" sobre isso. Os suicidas são pessoas deprimidas, perdem todo o sentido de humor, por isso quando a primeira cassete começa com uma graçola, eu perco esperanças.
Eu queria muito gostar deste livro. Aliás, gostar é a palavra errada. Eu queria muito chorar (rios e rios de lágrimas) com esta leitura. Pois sabia que se isso não acontecesse, era muito mau sinal.
Não simpatizei com a Hannah Baker, mas felizmente o Clay foi uma personagem bem interessante de seguir. As reacções dele, há medida que ouvia as cassetes, foram constrangedoras e verdadeiras. Senti apertos no coração em certas cenas que a Hannah descreveu. Cheguei a imaginar coisas horríveis, que infelizmente mais tarde chegaram mesmo a acontecer, mas quando chegamos ao 12º culpado, eu passei a odiar a Hannah Baker. Só entenderá o que eu quero dizer, quem ler o livro, mas deixem-me dizer isto: Ela perdeu todo o respeito que tinha por si mesmo, e isso é normal na situação, mas o que ela fez, ou aliás, o que ela deixou que lhe fizessem, tirou toda e qualquer piedade que tinha por ela. Simplesmente deixou-me mal disposta.
A história está bem empregue, muito bem estruturada e de um realismo sufocante. Acho que ninguém pode ler isto e dizer "isso nunca aconteceria", porque na verdade acontece ... todos os dias, infelizmente. É esta realidade que faz com que este livro me fique na memória. Pela sua franqueza, pelo facto de não andar com rodeios. A forma como a história é contada, é inteligente e original, se bem que por (raras) vezes algo forçada.
As personagens são interessantes, mas quase todas desaparecem da memória rapidamente, há excepção do Clay e da Hannah, mas ambos por razões bem diferentes. E já que falo nestes dois, posso dizer que, tendo em conta a personalidade da Hannah (que foi extremamente bem retratada) eu não acredito que ela colocasse o Clay na lista pelas razões que ela mencionou. Sendo ela quem era, culpá-lo-ia por a deixar só naquela noite, por ele não ter tido coragem de falar come ela antes, e por uma outra infinidade de pequenas coisas que parecem sem grande importância. Afinal, foi isso mesmo que ela fez com os restantes. Assim sendo, a história do Clay, aos olhos dela, não parece minimamente credível. Desculpem, mas é a verdade.
Em suma, foi uma história com um certo nível de interesse que me deixou indisposta e com as entranhas às voltas, mas que não conseguiu ter o impacto sentimental que se esperaria de uma história com esta premissa. A escrita estava simples (por vezes até demais), mas acessível e integrada na idade das personagens. Os dois principais estiveram extremamente bem desenvolvidos, e os restantes também, mas não de uma forma semelhante ou tão fulcral como seria de esperar.
Recomendo, a quem não se importe de ler verdades cruas e que não tenha medo de descobrir que, são as pequenas coisas que às vezes têm os efeitos mais nefastos na vida dos que nos rodeiam. Até as coisas mais insignificantes podem pôr a rolar uma bola de neve, que em breve ficará tão grande que o seu peso será insuportável.
Tradução (Alice Rocha):
Dois livros seguidos com traduções que deixam muito a desejar, é azar! E não se percebe porquê já que a tradutora deste livro parece ter muita experiência (J.K. Rowling, Nicholas Sparks, Ken Follet). De onde vieram tantas más expressões, então?
Traduzir "If I even tried to utter a single word, I would have lost it. Or had I already lost it?" para "Se tivesse proferido uma palavra que fosse, tê-lo-ia perdido. Ou seria que já o perdera?" (pág. 177) - É de uma atrocidade indesculpável. Desculpem-me, mas é!
E quem é que diz "Acho que aquele rapaz te está a galar." - Galar? A sério? Por favor ...
Confesso que, por várias vezes, torci o nariz à tradução. Havia capítulos inteiros em que nada surgia de mal, mas depois aparecia algo alienígena no texto, que me dava comichão.
Lamento, mas a tradução neste livro não está aprovada, de todo.
Traduzir "If I even tried to utter a single word, I would have lost it. Or had I already lost it?" para "Se tivesse proferido uma palavra que fosse, tê-lo-ia perdido. Ou seria que já o perdera?" (pág. 177) - É de uma atrocidade indesculpável. Desculpem-me, mas é!
E quem é que diz "Acho que aquele rapaz te está a galar." - Galar? A sério? Por favor ...
Confesso que, por várias vezes, torci o nariz à tradução. Havia capítulos inteiros em que nada surgia de mal, mas depois aparecia algo alienígena no texto, que me dava comichão.
Lamento, mas a tradução neste livro não está aprovada, de todo.
Capa (Filipa Costa Félix), Design e Edição :
Gosto muito desta capa porque a cassete representa bem um pouco do que é a história, mas a cor (turquesa) pode indiciar um livro "feliz" quando este não o é.
Gostei bastante da paginação do livro, pequenita e no cantinho lateral, fazendo-me lembrar as cassetes (não sei bem porque fiz esta associação).
De mal só achei que tinha o tamanho dos capítulos. Muito longos, a maioria deles, mas isso não tem a ver com a edição. Só achei que deveria deixar aqui uma notinha.
Oi Ana
ResponderEliminarMuito boa sua resenha e muito interessante o tema do livro. Boa escolha! Tem um selinho para voce la' no Pao e Tulipas. Beijos
Larissa, Lara, Lalá, ....
ResponderEliminarObrigada pelo comentário.
Dei uma vista de olhos pelo seu blog, mas não encontrei nenhum selo. :(
Sua resenha ficou muito boa! Mesmo que você (e ninguém que eu conheça) tenha gostado do livro, eu pretendo ler...
ResponderEliminarEssa capa dá a ideia de um livro mais "pop", mas eu gosto bastante da capa da edição brasileira (http://www.skoob.com.br/img/livros_new/2/54127/OS_13_PORQUES_1255314625P.jpg)
Não conhecia o livro, mas, uau! Que resenha! Engraçado que pela premissa o livro parece prometer jorros de lágrimas. Bom, a palavra nojo não me deixa aproximar da obra ainda que sua resenha tenha sido pra lá de convidativa.
ResponderEliminarBeijocas
Vivi
Marília Barros,
ResponderEliminarEu gostei do livro, mas a diferença é que ele não conseguiu superar as minhas expectativas (que nem eram assim tantas).
Vivi, usei a palavra nojo para descrever o que sento ao ler o "Sorte" da Alce Sebold, mas não vou negar que o mesmo se aplica, em parte, a este livro, mas não na mesma medida pois o da Alice Sebold é bem mais "pesado" (quanto mais não seja por ser história verídica).
Otima resenha, super completa. Parabens, o livro parece ser interessante e ao mesmo tempo meio parado (pela sua descrição).
ResponderEliminarKézia Lôbo,
ResponderEliminarParado não é. Só que deixa algo a desejar, embora seja uma leitura interessante.
Gostei de ler o seu comentário sobre o livro e tenciono lê-lo. No entanto não posso deixar de fazer alguns reparos. Por acaso são poucos os "suicidas que, no seu "caminho" para a morte, se certificam que os que vivem se tornam tão ou mais miseráveis que eles". É imprudente da sua parte afirmar que os suicidas são pessoas deprimidas quando apenas 45 a 70% possuem depressão ou distúrbio de humor. Outra coisa... uma pessoa deprimida não é obrigatoriamente uma pessoa triste. Para terminar, há suicidas que fazem efetivamente "piadas" quanto à própria ideação suicida, tome-se como exemplo o senhor John Doyle que, por sofrer de nevralgia do trigémio, se suicidou deixando a seguinte nota: "Absolutely no reason except I have a toothache." De qualquer das formas, todo o restante comentário está muito bom e muito completo, parabéns!
ResponderEliminarnao pretendo ser desagradável, mas gostaria de deixar a minha opinião sobre a resenha. Hannah é uma personagem fraca que deixou que tudo o que lhe aconteceu acontecesse, segundo a sua resenha. E agora eu pergunto-me, não é isso que acontece sempre? deixamos que as coisas nos aconteçam porque somos "fracos" e não colocamos um ponto final em tudo. e é exatamente isso que o livro retrata. uma personagem veridica que poderia ser qualquer um de nós. uma miúda que mudou de escola e deixou "que coisas lhe acontecessem" porque era nova por ali. não achei justo a forma como resenhou, não só pelo livro mas pela maioria dos adolescentes que infelizmente passam ou passaram por isso. não acho que vitimas de suicidio sejam fracos, muito fortes são eles para irem aguentando calados. mas de qualquer maneira, seguindo o seu raciocinio, se eles fossem "personagens fortes" nao recorreriam a tal coisa. se ela tivesse colocado um ponto final em tudo, nao teria tido o desfecho que teve. penso que o facto de nao ter sentido qualquer emoção ao ler o livro se deve ao facto de nao estar nem de perto familiarizada com tal assunto, pois infelizmente falo por experiencia quando digo que a sua resenha está um pouco errada na forma de abordagem do tema. suicidas nao param o que quer que lhes acontece porque nao conseguem, quer seja por fraqueza ou nao.
ResponderEliminarAos dois anónimos, que não sei se são a mesma pessoa:
ResponderEliminarObrigada pelos vossos comentários.
Embora os meus conhecimentos sobre o tema sejam restrictos, e ainda mais o fossem na altura em que li o livro, eu mantenho o que disse pois era exactamente o que sentia à data que escrevi esta opinião. E tudo o que eu referi era porque os actos não me pareciam adequados à personagem principal (do que autora foi apresentando ao longo do livro), não tanto ao mundo real ou geral.
E não é por estarmos a falar de suicídios que eu tenho de sentir empatia com as personagens. Empatia denota sentimento e se tudo o que protagonista faz me parece errado, então não poderá haver um elo.
Não sei porque razão levam esta minha opinião como uma afronta ao suicídio no geral. Eu estou a falar do livro em particular. E é isso que está aqui em causa. O sentimento! Não o real!
Mas mais que isso eu julgo que cada um tem direito à sua opinião e assim lamento se não gostaram da minha mas ela assim é.
Possivelmente pensaria diferente se lesse o livro hoje mas não tendo gostado da primeira vez é muito pouco provável que o volte a ler.