sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Estrada

"A Estrada", de Cormac McCarthy (Edições Relógio d'Água Editores)

Sinopse:
Um pai e um filho caminham sozinhos pela América. Nada se move na paisagem devastada, excepto a cinza no vento. O frio é tanto que é capaz de rachar as pedras. O céu está escuro e a neve, quando cai, é cinzenta. O seu destino é a costa, embora não saibam o que os espera, ou se algo os espera. Nada possuem, apenas uma pistola para se defenderem dos bandidos que assaltam a estrada, as roupas que trazem vestidas, comida que vão encontrando – e um ao outro. A Estrada é a história verdadeiramente comovente de uma viagem, que imagina com ousadia um futuro onde não há esperança, mas onde um pai e um filho, “cada qual o mundo inteiro do outro”, se vão sustentando através do amor. Impressionante na plenitude da sua visão, esta é uma meditação inabalável sobre o pior e o melhor de que somos capazes: a destruição última, a persistência desesperada e o afecto que mantém duas pessoas vivas enfrentando a devastação total.

Opinião:
Para mim este livro custou a começar. Não me conseguiu prender nas primeiras linhas, mas ao fim de apenas algumas páginas já não queria parar de ler.
A história de um pai que luta para se manter vivo e para manter o filho vivo, é muito cativante e o autor sabe transmiti-la de uma forma imparcial e distante que cria, ao mesmo tempo, uma distância e uma aproximação estranhas que levam o leitor a querer saber sempre mais, a ver como termina esta história que nunca poderá ter um final feliz.

Sem nunca nos explicar o que se passou com o mundo, o autor ainda assim consegue criticar a sociedade presente. Mostrando-nos como as coisas que usamos e descartamos, e mesmo as que não descartamos com tanta facilidade, ficarão para sempre, mesmo depois da humanidade perecer. Como as estradas de alcatrão, os edifícios, os barcos, os comboios e todo um sem fim de coisas que não desaparecerão, enquanto que o homem se perdeu na própria loucura.
É fácil ver que isto poderia acontecer (e quem sabe, não acontecerá mesmo). Quando, como e onde? Não faço ideia, mas há sempre essa hipótese.

Adorei ver a forma como o rapaz, que nunca teve uma casa fixa, tinha um pavor hediondo e entrar nas casas, enquanto por outro lado não tinha tanto medo de se aproximar das pessoas, pois sentia necessidade desse contacto e, apesar de tudo, conseguia manter um bom coração e queria ajudar todos os que se cruzavam com eles.

também gostei da forma como o autor usou a interacção dos dois. O homem, sozinho, ter-se-ia à muito perdido e tornado um selvagem como muitos outros, mas porque tinha o rapaz consigo, este conseguia sempre despertá-lo nos momentos em que ele começava a se perder na loucura.

Já os diálogos, para mim, foram a parte mais pobre do livro. Não havia voz única entre o pai e filho, o que por vezes tornava difícil perceber quem dizia o quê. Havia momentos em que  era mais fácil e até intuitivo, mas houve alguns momentos em que fiquei baralhada e pensei "Afinal quem disse isto?".
Isto é compreensível, até um certo ponto, tendo em conta que a criança foi criada pelo homem e assim sendo herdou a sua forma de falar e pensar.

O final, embora não fosse totalmente inesperado, conseguiu surpreender, se bem que teria gostado mais se o autor não metesse as últimas personagens lá, deixando ainda mais para a imaginação do leitor. Senti que o final, embora não despropositado, tivesse ido uma ou duas páginas mais à frente do que queria, tirando-lhe alguns pontos.
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Sinto que poderia ter gostado muito mais deste livro e não sei bem porque não gostei mais.
Não quero com isso dizer que não tenha adorado a leitura, porque adorei, mas senti que faltava alguma coisa. Talvez o meu estado de espírito, quem sabe?

Ainda assim não posso deixar de recomendar este grande livro que tem muitas mensagens escondidas entre as suas palavras cuidadas e quase poéticas. É uma excelente leitura que traz algum "fogo" (para citar o livro) aos nossos corações e que nos faz pensar no que será do mundo e da humanidade no futuro.

Tradução (Paulo Faria):
Não posso apontar falhas de maior à tradução, que me parece de uma fidelidade extrema, mas houve algo no texto que não gostei muito. Só não sei se foi escolha do autor no original, ou do tradutor nesta edição. Essa pormenor foi o facto de serem usados demasiados "e".
Por não saber de quem é a "culpa", certamente não posso dizer que tenha sido falha da tradução, que à parte disto se mostrou muito boa.

Capa e Design:
Estorvou-me um pouco o cabeçalho, com um tamanho de letra demasiado próximo do do texto e que fazia com que, quando mudava de página, fosse ler o cabeçalho ao invés de começar na primeira linha da folha. Aconteceu-me demasiadas vezes para eu poder pensar que era eu que estava distraída. Neste caso, acho que deveria ter encostado o texto do cabeçalho à direita, para não interromper o texto.
Já a capa está muito simples, negra e linear, o que de certa forma até combina com  o ambiente do livro, só que me parece pouco cativante. Acho que havia formas de ser simples, sem ser banal. Este livro não capta a atenção por si só, o que é uma pena.

3 comentários:

  1. Desde que vi o filme que ando com esse livro debaixo de olho, esse e os outros do Cormac McCarthy. Acredito que seja difícil dizer que se gosta de um livro, que a ser como o filme, é angustiante e opressivo. :) Vais ver o filme?

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  2. Vou ver sim, mas nem sei se já está em DVD. Quando estiver vou ver.

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  3. Esta foi das melhores leituras que fiz o ano passado.
    Beijinhos

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