segunda-feira, 26 de setembro de 2011

As minhas folhas não caíram dessa árvore que és tu

"As minhas folhas não caíram dessa árvore que és tu", de Lúcia Vaz Pedro (Ideias & Rumos)

Sinopse:
Nesta obra a autora evidencia uma grande imaginação e uma assinalável capacidade de entrelaçar os fios da narrativa de modo a seduzir, envolver e alimentar permanentemente a curiosidade e o interesse do leitor em relação ao percurso vital de cada uma das personagens.

Opinião:
Deixem-me começar por dizer que, apesar de o título ser muito extenso, acho-o muito poético, além de fazer todo o sentido para o livro em questão.

Encontrei este livro por acaso, na Feira do Livro de Barcelos, no ano passado. Estava a um preço muito reduzido e lida a sinopse, achei-o interessante o suficiente para trazer para casa. Nunca tinha ouvido falar da obra, nem da autora, por isso iniciei a leitura um pouco às escuras.
Fiquei, logo de início, absorvida nas palavras que lia, quase poética na sua construção. No entanto, à medida que a narrativa avançava, apesar de a curiosidade ser crescente, também o era a confusão. Há livros que nos confundem de uma forma cíclica e que nós, enquanto leitores, até apreciamos; mas existem outros livros cuja trama se rebusca de tal forma que quase nos perdemos. Isto, num livro cuja premissa é tão simples e cuja história quase não tem complexidade (não há mistérios, nem grandes conflitos) é ainda pior, pois o leitor sente-se quase um estranho na história. O pior é concluir que esta confusão, que parece propositada da parte da autora, era absolutamente escusada e nada trouxe a favor da narrativa.


A escrita da autora é muito cuidada, diria quase bélica, mas por vezes é também bastante confusa.  A autora alterna constantemente entre a perspectiva das personagens grande parte das vezes não o faz convenientemente. Isto fez-me bastante confusão ao longo do texto e foi uma grande pena, pois fora isso o texto estava muito bom. Também o facto de a autora saltar do passado para o presente e futuro, não ajudou muito a que a confusão se dispersasse.
Tenho ainda que dizer que, enquanto grande parte dos diálogos estavam muito bem conseguidos, outros momentos houve que criaram um certo desconforto, não pelo tema, mas por não parecerem naturais e estarem lá apenas para criarem um suspense desnecessário e por vezes até repetitivo. No entanto, é de repetir, que, na sua maioria, os diálogos estavam muito naturais.
Não fosse isto e o livro seria ainda melhor. Embora a história se salve por si só e acabemos por gostar de o ler, tenho consciência que teria realmente gostado muito mais dele não fossem estas confusões. 

A história em si é um pouco idealista e confesso que não gostei particularmente do desfecho dado a certas personagens. O livro é sobre o perdão e nisso ressalvou-se, mas exactamente por isso perde alguma plausibilidade. No entanto, olhando num prisma de este tentar ser uma 'lição de vida' é um livro muito bonito (quase utópico em certos aspectos) e que traz ao de cima o pior, mas mais que tudo, o melhor das pessoas.

*spoiler* Este livro tem uma reviravolta muito à Eça de Queirós, que poderia ter sido mais surpreendente, mas que por culpa do modo narrativo, se adivinhou com muita facilidade (não sei se tal foi propositado, mas tirou algum brilho ao enredo).*fim de spoiler*
As personagens são muito bem exploradas e cada uma é individualizada de forma interessante e coerente. Apesar de, no caso do Miguel, a sua abrupta mudança ter ficado aquém do que poderia, caso a autora não tivesse saltado logo de uma fase muito má para uma fase muito boa. Ou seja, quase não houve transição e isso tornou a mudança demasiado  conveniente (se bem que explicada pelo salto temporal, mas acho que deveria ter sido mais bem explicada).
Neste sentido, a minha personagem favorita foi o amigo de Miguel (cujo nome neste momento me escapa), que foi o que se manteve mais constante e razoável ao longo do livro.

Em suma, este foi um livro muito curioso, que me deu gosto ler, mas que poderia ter sido mais marcante, não fosse a escolha da autora em rebuscar (a meu ver, desnecessariamente) a acção. A história é muito bonita transmite uma mensagem sublime de perdão, mas isto torna-a também um pouco inverossímil e para os mais descrentes (na humanidade), o final será um pouco insatisfatório.
Uma leitura diferente e que me deixa com vontade de conhecer outros trabalhos da autora.

Capa (Soraia Pereira), Design e Edição:
É verdade que gosto muito do verde, mas não é só por isso que gosto muito desta capa. Além da ilustração ser muito simbólica em relação à história, julgo haver ali uma harmonia dos elementos. Embora a mulher (escultural) pouco tenha a ver com a história (ou não fosse a mulher mais falada uma idosa), decidi encará-lo como uma representação de uma Sofia mais nova. A conexão também é óbvia com o título e aí sim, a ilustração brilha realmente.
A edição está atenta, especialmente no papel usado (gloss), mas em termos de design, a formatação interior deixa bastante a desejar pois existiam parágrafos onde não deviam existir, e isso, apesar de não interferir na leitura, foi algo que sobressaiu, apesar de o livro em si (como objecto) estar primoroso.



---- Onde encontrar o livro : Goodreads- Wook - Livraria Leitura - CulturMinho -


2 comentários:

  1. Não sei se alguma vez lhe vou pôr os olhos em cima (o que eu duvido), mas o nome é tão bonito, mas tão bonito...!

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  2. Sugiro a leitura de «A Voz da Minha Solidão» da mesma autora.

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