"A Cidade das Cinzas (Caçadores de Sombras 2)", de Cassandra Clare (Planeta Manuscrito)
Sinopse:
Clary Fray só queria que a sua vida voltasse ao normal. Mas o que é normal quando se é um Caçador de Sombras? A mãe em estado de coma induzido por artes mágicas, e de repente começa a ver lobisomens, vampiros, e fadas? A única hipótese que Clary tem de ajudar a mãe é pedir ajuda ao diabólico Valentine que, além de louco, simboliza o Mal e, para piorar o cenário, também é o seu pai. Quando o segundo dos Instrumentos Mortais é roubado o principal suspeito é Jace, que a jovem descobriu recentemente ser seu irmão. Ela não acredita que Jace de facto possa estar disposto a abandonar tudo o que acredita e aliar-se ao diabólico pai Valentine… mas as aparências podem iludir.
Opinião:
Tendo gostado muito do primeiro livro desta saga, era inevitável que partisse para esta leitura com algumas expectativas, que, mais uma vez saíram defraudadas (está a tornar-se hábito).
Se no primeiro livro um dos pontos fortes era a forma como a autora nos "mostrava" o mundo pelos seus olhos, seguido de perto pelos fluentes diálogos e personagens perspicazes, neste segundo livro foi como se tudo isso ficasse perdido.
O mundo de "Os caçadores de sombras" tornou-se previsível e aborrecido; os diálogos, que até começaram excelentes, passaram rapidamente a uma falta de coerência e naturalidade difícil de digerir; e a grande maioria das personagens perderam o seu carisma, salvo raras excepções.
Mas o pior mesmo foi a história, que neste segundo volume perdeu toda a sua força. Houve apenas um acontecimento digno de menção, e esse foi relacionado com o Simon e nem chegou a ser imprevisível porque já desde o primeiro livro sabia que ia acontecer.
Logo no Prólogo deparamos-nos com uma sequência que é completamente dispensável. E a autora testa a nossa inteligência (mais paciência que outra coisa) a descrevê-la envolta numa neblina de mistério (que de misterioso nada tem). Foi o primeiro insulto deste livro à minha inteligência, mas não parou por aí.
A mais estranha e bizarra sequência deste livro foi toda a situação na corte das fadas. Aquela que poderia ter sido uma reviravolta interessante na história e a introdução de algumas personagens caricatas, tornou-se uma junção de cenas que não lembram a ninguém (a não ser que seja uma adolescente com a hormonas aos saltos). Foi ridículo! Eu cheguei a revirar os olhos.
Já para não falar que, se olharmos para aquela situação como deve de ser
*Spoiler* (o Jace e a Clary pensam ser irmãos)
*Fim de Spoiler*, ainda ficamos com o estômago a dar voltas. Nah-nah!
Outra situação foi que, em todo o livro, a autora andou a
engonhar e
engonhar, tentando esconder segredos que são tão óbvios que quase nos batem na cara, e que são um autêntico insulto à inteligência de qualquer leitor. Eu já consigo adivinhar tudo o que se vai passar no terceiro livro. TUDO! Porque a autora não sabe dar pistas subtis, ao invés espeta lá tudo, mas espera que, de alguma forma, o leitor não perceba e por isso leia o terceiro livro. É um insulto! (e só peço para estar muuuuito enganada)
E já para não falar que em todo o livro havia uma sombra reconhecível na trama, de nome "Harry Potter". Notei muito mais do que no primeiro livro (que havia sido "comparado" com o mesmo). Há muitas "semelhanças narrativas" que não abonam a favor da história de Cassandra Clare
Outro ponto negativo foi as personagens. Quase todas as novas personagens foram muito pouco interessantes, embora a autora lhes tenha tentado dar alguma profundidade, falhou miseravelmente. A pior delas todas foi mesmo a Imogen, que para Inquisidora era demasiado emotiva, e para adulta era demasiado imbecil e ingénua. E também a rainha das fadas não passou de uma personagem bidimensional que não adicionou NADA à história.
Das personagens já nossas conhecidas, as piores foram mesmo a Clary, que pareceu não fazer nada no livro todo (e logo ela que no primeiro era tão "arrojada"), mas menos mal que não virou
emo. Outra personagem que decepcionou muito foi o Valentine. A autora passou estes dois livros todos a tentar convencer-nos que o Valentine era muito carismático e conseguia convencer toda a gente com palavras ponderadas e argumentos assertivos. Mas onde está a prova? Ele falou muito neste segundo volume, mas nada do que ele disse foi convincente. NADA! E mesmo assim a autora tentou convencer-nos que ele estava a conseguir demover o Jace e, pior que isso, a própria Clary. Não funcionou e não me convenceu.
E outra coisa muito má, foi o facto de a autora tornar, não uma, nem sequer duas, mas TRÊS personagens especiais. Não achou que estava a exagerar um bocadiiiinho?
Mas nem tudo foi mau. (estou a ser mázinha, não estou?)
Algumas das personagens conseguiram salvar este livro da destruição total, e foram elas:
- Jace, e nunca pensei dizer isto mas o Jace surpreendeu-me pela positiva. Não só se mostrou uma personagem com carácter, como se mostrou imprevisível. E se no principio me apeteceu esmurrá-lo (como aconteceu no livro anterior), ele rapidamente se mostrou o pólo que segurava a história neste volume.
- Magnus Bane, o magnificente mago que eu imagino como um velho, mas que na verdade tem aspecto de 19 anos (a culpa não é minha, mas da forma como ele fala). Fiquei a amar este centenário que não só é todo
à frente, como tem um humor e perspicácia que adorei.
- Alec, que infelizmente teve muito pouco tempo de antena, mas que me conseguiu fazer-me rir às gargalhadas algumas vezes, e que se mostrou uma personagem bem interessante.
- Simon, que se manteve fiel a si mesmo e que, assim sendo, ainda continua a ser das minhas personagens favoritas. Acho que no meio deste bando de improváveis personagens, ele acaba por ser a mais normal de todas.
- Maya, a única nova personagem que realmente me interessou e que, convenhamos, já se sabia desde o início com quem ela ficaria. Menos mal que a autora não a tenha matado (não ia gostar disso).
E outra coisa de bom (não sei se conta, mas bem ...), foi uma cena muito particular, entre a Clary e o Simon, em que a autora fez o favor de me fazer corar quando "indiciou" que a Clary estava a convidar o Simon para ir ao quarto dela e ... bem ... adivinhem lá. Juro que fiquei de boca aberta a olhar para o texto. Tipo "
She did not just say that?", mas claro que, três páginas mais tarde, a autora fez o favor de ruir o castelo e tirar as ideias menos próprias do cérebro.
Foi brilhante!
Em suma, esperava muito mais deste segundo volume da saga, mas o que tive foi uma desculpa esfarrapada de história e uma série de
plot-twists que não lembram a ninguém com dois palmos de testa. A leitura valeu por algumas das personagens, mas pouco mais. E confesso que não estou muito entusiasmada em relação ao terceiro livro, mas vou lê-lo assim que puder para terminar a saga (ou aliás, a trilogia, porque a autora agora decidiu fazer uma outra trilogia que é o seguimento directo desta. Espremer a vaca até ela não ter mais leite, hem?)
Capa (Cliff Nielsen) e Design:
Ainda fico abismada com a (já mencionada) troca de capas que os editores portugueses decidiram fazer, até porque é na ordem certa que faz mais sentido (Jace, Clary e Simon).
Não sou grande fã destas capas, mas já gostei menos e agora estou simplesmente habituada a elas. Não as acho especiais, mas também não as acho más de todo.
O interior do volume está simples, sem grandes apetrechos e só não percebi porque no final do volume temos mais de 50 páginas de ante-visão do volume seguinte. Não acham que é um exagero?
Nota: Li o livro na versão original, em inglês