terça-feira, 14 de setembro de 2010

Conto Fantástico 1/2

"Conto Fantástico", revista/jornal com contribuições de vários autores (Antagonista Editora)

Sinopse:
Uma publicação que pretende apostar na divulgação da escrita de fantasia e ficção científica em Portugal, escrita por portugueses.

Opinião:
Este jornal, que mais parece uma revista, inclui os números 1 e 2 da publicação.
E depois de a ler de uma ponta à outra, posso dizer que vale bem a pena comprar e que é um projecto a seguir com interesse. De louvar a decisão de dedicá-lo exclusivamente à literatura fantástica portuguesa.
Seguem opiniões separadas de cada artigo/conto:

"Mutação Final", conto de João Rogaciano
Quando falamos em ficção científica, o que vem logo à cabeça da maioria das pessoas é: Viagens espaciais.
Achei que o conto tinha potencial, a história teve uma reviravolta interessante, embora não totalmente inesperada. O problema foi a forma como o conto foi mostrado. A narrativa não era aborrecida, e os pormenores, na sua maioria, não estavam despropositados, mas a sequência de acções estava mal aplicada e não houve lugar para o frenesim que um conto desta natureza poderia gerar no leitor.

"Memórias da Ficção Científica", coluna de Álvaro de Sousa Holstein
Foi bem divertido ler sobre como se faziam fanzines há uns anos atrás (A Nebulosa é mais velha que eu dois meses). E pensava eu que os anos 80 e 90 tinham sido bons anos para a ficção científica, mas parece que nem tanto. Realmente, temos a vida muito facilitada com as novas tecnologias (acho que se elas desaparecessem amanhã, me dava um "treco").

"Thalormis Zeta", conto de Carla Ribeiro
Numa escrita cativante, com pormenores que não aborrecem e numa narrativa que incita o leitor a continuar. este conto conseguiu ser mais que satisfatório, dando-nos um final, mas um final que deixa no ar a ideia de que há mais (não necessariamente noutro conto, mas não dá um fim definitivo, que é sempre bom).

"Space Oddity", conto de Regina Catarino
Curto! Muito curto mesmo, mas ainda assim conseguiu transmitir algo. Não é extremamente original, e sinceramente a menção ao David Bowie pareceu-me algo irrelevante pois duvido que quando as viagens no espaço se tornarem tão comuns as pessoas ainda oiçam David Bowie, mas bem, até isso pode ser perdoado.
A verdade é que este conto funcionou bem, sem no entanto poder ser algo mais que uma leitura agradável.

Entrevista a João Barreiros
Tendo já lido dois contos do autor, posso dizer que gosto do estilo dele. Ao ler esta entrevista, até me senti um pouco mal por não conhecer metade dos nomes mencionados. Mas eu sou apologista de que os "clássicos" não são tudo, o que não quer dizer que não goste de ler de tudo um pouco, porque gosto.
Gostei da entrevista, embora tivesse achado que falou pouco do autor, e muito mais do panorama português no campo da fantasia, e especialmente da ficção científica (que todos sabem estar pela hora da morte).

"Memórias da Ficção Científica", coluna sem autor (não é mencionado no artigo)
Nunca tinha ouvido falar do escritor Romeu de Melo, mas neste artigo ficamos a saber um resumo da vida daquele que é, na voz do colunista, o "pai" da ficção científica em Portugal.
Fiquei com vontade de saber mais sobre o autor, e não vale de muito meter o nome no google, pois segundo o artigo, nada de relevante surge. O esquecimento é muito penoso!

"Cometas Extintos", conto de Pedro Pedroso
Por alguma razão este conto recordou-me um certo jogo que o meu irmão muito adora, mas à parte disso, gostei da prosa (a escrita do autor é bastante boa) e das personagens: soldados que só pensam na missão e que se vêm perdidos sem a tecnologia a que tanto estão habituados.
O final ficou muito bem na história, chegando até a ser algo inesperado no entanto pareceu-me que faltou "algo" à história. Algo mais significativo e cativante. Não é um mau conto, de todo, mas também não conseguiu ficar na memória.

"Aleninan", conto de Marcelina Gama
A história não está nada mal, fazendo lembrar-me as ruelas mais negras das cidades futuristas. Gostei da prosa da autora e os diálogos estavam convincentes, mas aquele final estragou-me a festa toda. É como se cortasse a festa a meio.
Há finais em aberto que me deixam satisfeita, mas este não é um deles. Fica-se com uma sensação de vazio, de "onde está o resto?", que não é bom. Fiquei frustrada!
Outra coisa que não achei lógica foi a acção dos "polícias". Numa situação "normal" eles nunca deixariam a Aleninan ir sozinha.Não faz sentido e pareceu apenas um engendro para que ela ficasse só. Esta parte não convenceu.

Entrevista a Afonso Cruz
Soube a pouco, esta entrevista, mas foi mais focalizada que a anterior e conseguiu falar mais do multi-facetado autor e da sua obra.

Capa e Edição:
Para um "suposto" jornal, isto mais parece uma revista. Com papel de excelente qualidade e encadernação no patamar das boas revistas, justifica-se o preço (3,50€), se bem que  como era um jornal, bem poderiam ter feito no formato comum, que ninguém levaria a mal e ficaria, com certeza, muito mais em conta.
Ainda assim, dou o dinheiro por bem empregue e tenho de dar os meus parabéns ao projecto.

Notas: O "Conto Fantástico" irá ser fundido com a "Dagon", a partir do próximo número. Podem ler tudo aqui.
Vistem o site oficial da revista/jornal Conto Fantástico.

*actualização 2012/01/24
O nº 1/2 do Jornal Conto Fantástica está disponível para download AQUI.

8 comentários:

  1. Cara Ana, muito obrigado pela crítica ao jornal:)

    Quanto à segunda crónica "memórias da ficção científica" a mesma pertence ao Álvaro de Sousa Holstein. Foi um erro o jornal não ter os nomes dos autores por baixo do título dos contos e artigos, que já está resolvido para futuras publicações.

    Fico contente de ter gostado do jornal e de o mesmo merecer classificação positiva.

    Roberto Mendes

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  2. Roberto,
    Não tens nada que agradecer. Gosto sempre de dar uma oportunidade a novos projectos e acho que este tem potencial.

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  3. Cara Ana,
    Em primeiro lugar, quero agradecer pela opinião que emitiu sobre o meu conto “Mutação Final". Agradeço a sua franqueza e frontalidade. Penso que o último parágrafo da sua critica me ajudará, de futuro, a corrigir esse meu vício de escrita, de me precipitar para o final, em vez de “empatar” um pouco e assim tentar aumentar o clímax dos contos que escrevo.
    Após ter lido todo o seu comentário, peguei no conto e reli-o. Mais uma vez. Sem preconceitos.
    Acredite que sou sincero quando lhe digo que não consegui encontrar os tais tempos verbais trocados de “forma gritante”. Poderá um ou outro estar trocado, mas nada que se afigure “gritante”. No entanto, chamo a atenção que, no conto, cuja acção ocorre num tempo “presente - sec XXIII”, existem chamadas recorrentes ao “passado – sec XX, XXI ”, para explicar certos pormenores do personagem e sua envolvência. Será aqui a “troca” dos tempos verbais? Até porque, se houvesse uma “troca gritante” dos tempos verbais, o conto teria sido rectificado pelo editor antes da publicação.
    Também não compreendo qual o problema encontrado à volta do nome “James”, “Jim” e “Jimmy”. Como sabe, é habitual os americanos utilizarem “Jim”, “Jimmy” e até mesmo “Jimbo” como diminutivos do nome próprio “James”. Assim sendo, porque é que “Jim” não faz sentido, como afirma?
    Se ler com atenção o conto, reparará que o nome do personagem principal era “James” (homenagem dos pais do personagem ao Cap. James Kirk). Assim, o narrador refere-se-lhe como “Jim” ou “James”; os amigos chamam-lhe “Jim” (ao longo do conto todo); os subordinados (respeitosamente) chamam-lhe “James”. E, no final (e uma única vez!) ele é chamado “Jimmy” pelo “alter-ego” capitão James Kirk. Ou seja, há coerência na forma de tratamento do personagem (pelos outros personagens e pelo próprio narrador) ao longo de todo o conto! Estranho seria se, no início do conto o personagem se chamasse James, a meio do conto lhe chamassem Thomas e no fim Peter…
    E, aproveito para dar uma explicação que, não sendo desculpa para a (má ou boa) qualidade do conto, fará um pouco de luz no facto do tema escolhido versar precisamente as viagens espaciais. Esclareço que quando penso em ficção cientifica, não são logo as viagens espaciais que me vêm à cabeça. São, isso sim, outros universos/realidades, outras formas de vida, de vivências, de tecnologias. Quanto à escolha do tema “viagens espaciais” e a sequência de acções utilizada foi-o enquanto resposta ao repto de Roberto Mendes, para o tema de viagens espaciais dos Portugueses, conforme pode ser visto no blogue “Correio do Fantástico”, no link seguinte:
    http://correiodofantastico.wordpress.com/2009/09/26/agua-em-marte-fuga-para-o-espaco-e-os-portugueses/

    Se reparar, o conto foi escrito/construído propositadamente com um aspecto e estrutura “vintage” e de certo modo saudosista (pretendendo, simultaneamente, homenagear as séries de ficção cientifica «de época»), para se integrar no projecto pretendido.
    Como esse projecto do Roberto não foi em frente, o mesmo convidou-me para a inclusão do conto (tal como estava, isto é, sem alterações) num outro projecto seu, o jornal “conto fantástico”, ao que dei o meu aval. E, penso que foi dentro do mesmo espírito “vintage” que o Roberto escolheu a capa do 1º número do jornal “conto fantástico”.
    Assim, só tenho (novamente) que lhe agradecer a sua crítica e, mesmo mantendo inalterada a avaliação de 3/10 “muito mau” - que, volto a referir, não pretendo influenciar - penso que com a minha achega se poderá efectuar uma nova leitura (porventura mais atenta e esclarecida) ao conto.
    Um abraço,
    João Rogaciano

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  4. João Rogaciano,
    Antes de mais, tenho a dizer que é de louvar a forma como levou "a bem a minha opinião". Há muita gente incapaz de o fazer.
    Posso dizer que li tanto o conto como o seu comentário com a maior das atenções e agradeço-lhe o tempo que dispensou para esclarecer tudo.
    Acho que devo também dizer que tem um pouco da razão porque se não desfrutei tanto do conto foi por nunca ter sido uma fã de Star Trek. Se calhar isso teve algum impacto (não propositado).
    Não fazia ideia que havia o tema dos "portugueses em viagens espaciais", mas também quando referi isso, não foi no mau sentido. Acredite!
    Quando falei no James /Jim/Jimmy, tinha total conhecimento que os três são variações do mesmo nome, e posso estar enganada, mas pareceu-me que os membros da tripulação umas vezes o chamavam James e outra Jim, mas vou rectificar isso, pois acredito que tenha sido confusão minha. E por isso peço desculpa.
    Já no caso dos tempos verbais, se calhar exagerei quando disse gritante, pois confesso que sou um pouco "picuinhas" com os tempos verbais. Como sou escritora amadora, essa é uma das coisas que mais me preocupa na minha escrita (e acredite quando digo que acho não ter isso dominado. Longe disso!), e por isso tenho tendência a estar com demasiada atenção a isso, em todos os textos que leio. Não acredito ter visto algo que não estava lá, mas, mais uma vez, não sou infalível, e talvez tenha razão.
    Quanto à classificação, verdade verdade é que sou muito "cabeça quente" e vou logo classificar as coisas mal as termine de ler. Muitas vezes arrependo-me e volto atrás para mudar. O mesmo aconteceu com o seu conto. Ontem estava a olhar para a minha opinião e pensei: "Só dei esta nota baixa porque não gosto do Star Trek". Às vezes sou de luas e ia mudar a classificação, mas estaria a mentir se dissesse que fiquei satisfeita com o conto, porque não fiquei. O que não quer dizer que não tenha visto potencial na escrita, apenas achei que ficou perdida numa espécie de fanfiction que não me cativou.

    Mais uma vez, obrigada pelo comentário,e desculpe os meus exageros do momento. Tenho de parar de dizer tudo o que me vai na cabeça, porque depois acontecem coisas assim.
    Um dia espero ler outro trabalho seu, e aí logo verei se gosto ou não, pois nunca julgo um escritor por um conto apenas (a menos que seja terrivelmente mau, do tipo 1/10).

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  5. Ana Nunes,

    quero desde já agradecer-lhe pela sua abertura na revisão da sua crítica. E, não tenho nada a desculpar. A Ana deu a sua opinião e pronto! Só tenho a agradecer a sua sinceridade e frontalidade! É assim que um escritor amador (como eu) evolui, com críticas construtivas!

    Como refere que gostaria de ler um outro trabalho meu, tomo a liberdade de, a título de exemplo, deixar-lhe alguns links abaixo:
    (espero que tenha tempo disponível, pois já vi que é "mulher dos sete instrumentos")

    *PRÉMIO AMNISTIA INTERNACIONAL:
    página da Amnistia Internacional, com a explicação sobre o concurso (descer na pág até 1º lugar conto):
    http://www.amnistia-internacional.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=1183&Itemid=128

    esta página remete directamente para o conto, em pdf:
    http://www.amnistia-internacional.pt/dmdocuments/Conto_1_Lugar.pdf

    *PRÉMIO HERNÂNI CIDADE
    (descer na pág até ao 3º lugar)
    http://premioliterariohernanicidade.blogspot.com/2009/11/premios-da-edicao-2009.html

    *SITE CONTOS GROTESCOS (2º lugar concurso contos terror)
    http://www.contosgrotescos.com.br/principal/index.php?acao=contos

    *ELOS INTERNACIONAL
    (3º lugar)
    http://portaldalusofonia.blogspot.com/2010/04/o-fado-da-severa.html

    *ANTOLOGIA MICROCONTOS
    (1 microconto meu, publicado em ebook)
    http://www.4shared.com/document/l3FaciC7/Antologia_Casos_Minimalistas_e.html

    Tenho mais contos premiados/divulgados, mas estes são os que estão disponíveis online.

    Espero que goste e que possa opinar.
    Obrigado.

    Um abraço,
    João Rogaciano

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  6. João Rogaciano,
    Parece já ter muito trato nisto dos contos. Parabéns!
    Vou dar uma vista de olhos nos links mencionados assim que puder. E depois logo deixarei a minha opinião por aqui, como sempre faço. Obrigada.

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  7. Boa noite Ana,
    só agora vi este post e gostaria de agradecer-lhe pela sua crítica ao meu conto "Cometas Extintos". Revejo-me nas suas palavras e também eu sinto que o conto não encorpou o suficiente para perdurar nos gostos e na memória. De qq maneira é sempre agradável ler críticas ao nosso trabalho.
    Cumprimentos e continuação do bom trabalho aqui no blog.
    Pedro Pedroso

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  8. Pedro Pedroso,
    Obrigada pela visita, e acredite que em breve espero ler mais qualquer coisa escrita por si. Afinal gostei da sua escrita.

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