segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Bang! 8

"Bang!" nº8, revista lançada pela Saída de Emergência e FNAC

Quando fui ao Porto na semana passada, aproveitei para agarrar um exemplar do mais recente número da revista Bang!. Distribuída agora gratuitamente nas lojas da rede FNAC.
Abaixo seguem breves comentários sobre grande parte do conteúdo:

Ilustrador (Alejandro Dini):
Gostei bastante da capa, mas confesso que as escolhas que colocaram na página dedicada ao artista não me cativaram tanto. Mas como não conheço a obra do artista não sei se foram bem ou mal escolhidas. No entanto gostei do facto de dedicarem uma secção a isso.

Colecção Bang:
Faz todo  sentido que uma revista preparada pela SdE, tenha uma secção para os seus livros de fantasia e ficção científica, e é isso mesmo que fazem nesta parte da revista. Não se estendem demasiado, o que é bom. Traz também algumas novidades para os que seguem os lançamentos da colecção, especialmente para os fãs de Anne Bishop e do David Soares, assim como lançarem novos nomes na colecção.
Também é nesta parte que fazem uma breve menção ao Fórum Fantástico deste ano (a a decorrer entre 12 e 14 de Novembro), mas poderiam ter sido mais detalhados (incluir a agenda, por exemplo), já que a editora da revista (Safaa Dib) é a mesma que organiza o evento.

"M, de Malária", de José Eduardo Agualusa:
Eu já tinha lido este conto na antologia Contos de Vampiros.
Podem ler a minha opinião aqui.

A minha história de Duna (Jorge Candeias):
É sempre interessante ler os artigos do Jorge Candeias (sigo o blog), e este, feito na perspectiva de tradutor, foi igualmente curioso, especialmente porque falava de um livro que ele, enquanto leitor, não gostava particularmente. Compreendo perfeitamente quando diz que não se tem de gostar de um livro para perceber o porquê de este ser um clássico.

"Com a manhã chega a neblina", de George R.R. Martin:
Sendo este o meu contacto com o escrita do autor, confesso que tinha as expectativas um pouco altas.
Gostei da narração do autor, mas não me pareceu que o conto fosse algo de extraordinário, ou sequer as descrições fossem tão bélicas como poderiam ter sido (já que ele mencionava a beleza ímpar do planeta, mas não a conseguia transcrever convenientemente).
Ainda assim gostei muito do conceito, até porque é um com o que identifico. Esta necessidade que o ser humano tem para querer respostas a tudo, cortando o mistério que torna tudo mais interessante. Sou apologista da imaginação e do desconhecido porque se soubermos tudo, a vida perde a graça.

Os livros da minha vida (Afonso Cruz):
Já tinha lido um qualquer artigo onde o autor falava dos livros que o marcaram e dos autores que mais gostava, mas não achei repetitivo, embora pudesse ter sido mais abrangente e talvez mais focado, tendo em conta o tema.

Távola Redonda (David Soares, Bruno Martins, Ana Vicente Ferreira, Ineês Botelho e Telmo Marçal):
Uma rubrica muito interessante, que reuniu vários autores em volta de uma mesma questão: O caminho da publicação.
Foi interessante ler, mas pareceu-me que a participação dos autores foi mal aproveitada, sendo estes apenas mencionados uma ou duas vezes ao longo da rubrica. Havia potencial para mais debate.
Gostei, mas também achei que poderia ter ido mais longe. Ainda assim espero que esta rubrica se mantenha.

A boa gente de Sodoma (Mathew Rossi):
Este pequeno ensaio divertiu-me imenso e colocou várias questões no meu subconsciente. Gostei muito pela sua pertinência e especialmente pela forma como o autor expõe as suas "teorias".

Os mundos imaginários do Fantástico Português (António de Macedo):
Um artigo que adorei, tanto por me mostrar um lado o "fantástico" (aqui esta uma palavra que eu pouco uso) português como por ter um, enquadramento histórico que eu ainda não havia lido (tenho de colmatar esta lacuna).
Só espero que este artigo tenha continuação, pois tem muito ainda por desvendar sobre a escrita fantástica em Portugal, se bem que o que já foi desvendado foi extremamente interessante.

"Os Cascos e o Casebre de Abdell Jameela", de Saladin Ahmed:
Sem dúvido o conto que mais gostei nesta edição. As personagens foram muito bem expostas e embora a história não fosse o ponto forte, também não foi má e adorei toda a controvérsia em causa. O final foi previsível, mas não sem um toque algo especial.

Légolas: rói-te de inveja [o nascimento de uma lenda] (R.A. Salvatore):
Nunca fui muita fã de elfos, nem sequer quando chegou o o fenómeno do "Senhor dos anéis", mas confesso que me parece mais interessante este lado mais aventureiro do elfo negro, do qual já ouvi histórias, sem sequer saber que fazia parte do jogo D&D ou de uma trilogia como esta.
O texto do autor foi interessante de ler, mas poderia ter sido bem mais cativante.

"Felicidade", de Inês Botelho:
Tendo apenas lido, desta autora, o "A filha dos mundos", notei claramente uma evolução narrativa e a nível da escrita (também já lá vão uns bons anos). Gostei bastante da escrita dela, mas pareceu-me que se perdeu por divagações morais exageras, o que não impediu de expor bastante bem a sociedade que retratava.

Nova Vaga, Novas Capas (Pedro Piedade Marques):
Um excelente artigo sobre um tema que sempre me fascinou, as capas de livros. Muito interessante e bem organizado, espero que nas próximas edições continuem com algo dentro do tema, pois há muito que dizer, no campo da SF&F.

Fantasia Urbana ou Romance Paranormal (Saffa Dib):
Um artigo muito bem exposto, com vários exemplos, sempre apropriados e que poderá esclarecer aqueles que ainda não conseguem perceber muito bem a distinção entre estes dois sub-géneros da fantasia. Especialmente porque são dois que costumam mesclar-se em muitas obras.

"As cidades do segundo esquerdo", de Afonso Cruz:
Depois de ler Os livros que devoraram o meu Pai, do mesmo autor, fiquei decepcionada com este conto, que mais se lê como um ensaio. Baseado num conto de Sigizmund Krzhizhanovsky, este curtíssimo texto só surpreendeu realmente no último paragrafo, deixando um sabor amargo após a leitura. Como se faltasse muita coisa.

Críticas:
As três primeiras críticas lera-se mais como sinopses (longas ...) do que qualquer outra coisa, pois por norma só o último parágrafo era realmente crítica.
Já a crítica ao "Se acordar antes de morrer", foi interessante e dinâmica, mas perdeu-se um pouco nas suas próprias teias.
As restantes duas foram mais bem conseguidas e interessantes, focando-se no que cada livro tem de melhor para oferecer, e também no pior (excepto a última, que apenas disse o bom).

De A a BD (João Miguel Lameiras):
SPOILERS MUCH?!? O João Lameiras não teve o mínimo cuidado e colocou um spoiler enorme bem no meio do texto. Até eu, que já li quatro volumes, fiquei parava a olhar para o texto. Que raio?
Supostamente este texto é para quem ainda não leu a BD, então porque é que ele meteu aquilo ali no meio?
Mau. Muito mau!
Até ali estava tudo bem com um resumo conciso e foco nos pontos fortes da história, e depois ... depois estragou tudo.

Conclusão (opinião final):
Com uma apresentação impecável, este projecto parece ter pernas para andar. Gostei do facto de a SdE não se focar somente nos seus livros (embora haja sempre espaço para mais) e ter colaborado com outras editoras nesta edição. Esperamos que isso se mantenha nas próximas (que se espera serem muitas).
Também gostei do facto de abranger outras vertentes da fantasia, como a ilustração e a banda desenhada. Ficou a ideia que o cinema também marcará presença num próximo número, o que outra mais valia ao projecto.

E embora me parecesse que os exemplos de ficção curta aqui mostrados não tivesse sido os melhores exemplares do género, posso dizer que a diversidade dos mesmos foi grande.

Em suma, uma aposta ganha, que tem ainda alguns pontos que poderão ser melhorados, mas que num todo está mais que bem conseguido. Espero que se mantenham por muito tempo.

Nota: Podem fazer  download da versão ebook (pdf) AQUI.

7 comentários:

  1. Ana, devo dizer que em muitos pontos concordo contigo (dentro em breve começarei a publicar a minha opinião sobre esta publicação, depois dá um salto ao blog se quiseres:).

    Na minha opinião (sublinhe-se "minha opinião") a única grande falha da revista é ter mais artigos do que contos. Pode ser que isso mude nos próximos números...

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Jimmy,
    Não vejo problema nenhum em publicitar o seu trabalho, mas também não posso dizer que sou a favor de comentar num blog simplesmente para fazer publicidade.
    Contudo gosto de apoiar novos escritores portugueses, especialmente no ramo da fantasia, por isso farei um post dedicado ao seu livro e desejo-lhe muita sorte na publicação.

    Vítor,
    Fico a aguardar a tua opinião, mas por acaso no que mencionas eu até achei que estava bem equilibrado. Afinal esta é uma revista, e não uma antologia, por isso esperava algo diversificado e como os artigos até foram o melhor da publicação, acho que fizeram uma boa escolha.
    Se bem que também não me importaria que tivesse mais um ou dois contos (especialmente de autores menos conhecidos ou até inéditos), desde que isso não implicasse a diminuição de artigos interessantes.

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  4. Olá,

    O Fórum Fantástico não é, nem nunca foi, organizado pela Saída de Emergência.
    A SdE é uma editora que colabora com o evento, assim como o fazem muitas outras.

    Cumprimentos,
    Rogério

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  5. Rogério ,
    Se calhar não fui explicita o suficiente. Referia-me à pessoa da Safaa Dib e não à SdE, pois sei que esta não está envolvida na organização enquanto editora.

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  6. Antes de mais, quero agradecer a crítica aos conteúdos da revista. Apenas quero fazer notar que o programa do Fórum Fantástico estava longe de estar fechado na altura em que a revista teve que ir para impressão, e face às limitações de espaço de uma revista que têm que ser muito bem geridas, optámos por dizer apenas o essencial sobre o evento.

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  7. Safaa,
    Obrigada pela visita.
    O meu apontamento foi apenas uma sugestão, não uma crítica (embora possa ter soado com tal). Só gostava que esse tipo de eventos também acontecessem no Norte (e tenho certeza que público não faltaria).

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