Sinopse:
Todos os dias, Danny McCoyne sai de casa para um emprego que apenas tolera por ter de assegurar a sua sobrevivência e a da sua família. Mas em breve este homem vai descobrir o que verdadeiramente significa sobreviver. De um momento para o outro, começam a ocorrer um pouco por toda a parte cenas de violência extrema. Sem que ninguém saiba explicar porquê, qualquer transeunte normal pode tornar-se de repente um assassino impiedoso que ataca aleatoriamente. À medida que esta estranha epidemia vai alastrando, Danny sente-se na obrigação de proteger a família - mas como quando já não pode confiar em ninguém, incluindo em si próprio…?
Opinião:
Quem me conhece, sabe que eu adoro o género do horror. Estranhamente poucos livros li neste género, muito por culpa dos poucos que li não terem sido muito compensadores.
Quando pego num livro de horror espero apanhar sustos e ser surpreendida. Não me importo que tenha violência (desde que não seja extrema), e dependendo da história, esta até é aconselhável, mas claro, uma história de horror que se baseie quase exclusivamente em cenas nojentas, não vai ter grande sucesso comigo. É tudo uma questão de equilíbrio.
Este "Ódio" usou bastante da violência, embora não de forma desproporcional. Infelizmente pouco uso fez do susto e da surpresa, o que fez com que o meu "grau de divertimento" fosse menor.
Dividido por dias da semana, no início de cada "parte" temos a descrição de uma cena de violência extrema que parece não ter explicação para os que a elas assistem. Aos poucos vamos percebendo que os "odiosos" agem por medo pois são assolados por um sentido extremo de auto-preservação, sem distinção entre quem antes era seu amigo ou inimigo. Só poupam aqueles que são como eles. os que mudaram. Todos os outros são uma ameaça e por isso devem ser eliminados, nem que sejam esposos/as, filhos/as, pais, amigos/as.
Esta vertente acabará por nos ser contada na primeira pessoa, e o que poderia ter sido uma viagem elucidativa e potente à mente destes "odiosos" acaba por ser apenas ... algo amena.
Infelizmente não acho que a história, neste ponto, tenha ganho com a perspectiva na primeira pessoa, pois chegamos ao fim do livro sem saber o que se passa na realidade.
Certo é que percebemos o que lhes passa pela cabeça, e isso sim está bem conseguido, mas nada nos é explicado sobre como realmente as coisas chegaram ao ponto em que estão. Temos apenas um político a dizer que "deve ter a ver com a genética e coisa e tal" (é mesmo isso que ele diz. não nestas palavras, mas com o mesmo significado).
Percebo que o autor queira deixar o terreno aberto para os livros seguintes, mas é frustrante para o leitor chegar ao fim do livro a saber pouco mais do que sabia no início.
O que mais gostei nesta narrativa foi a vida quotidiana do Danny. A sua vida profissional, igual à de tantas outras pessoas aborrecidas e descontentes com os seus empregos. A sua vida amorosa, ainda apaixonada mas encurralada pelos três filhos. A vida familiar, sufocada pelos filhos, que ele parece amar tanto quanto, por vezes, parece querer ver-se livre deles. Este sem dúvida foi um ponto alto do livro. Muito real e no qual, acredito, quase todos se poderão rever nem que por um só momento.
Mas também aqui há momentos algo aborrecidos. No início do livro, a exaustiva descrição do local do trabalho e dos seus colegas pareceu-me desnecessária. Uma visão mais curta teria sido suficiente pois nada do que poderia ter surgido lá, chegou a acontecer. Por exemplo, estava a contar que ele e a chefe se metessem numa luta, já que o autor lhe deu tanta importância no texto, mas ela quase deixou de ser mencionada depois das primeiras páginas. Ou seja, perda de tempo narrativo (ou estaria a tentar desviar a atenção do leitor?).
Uma coisa que me fez muita impressão nesta história foi o facto de nem por uma vez alguém ter levantado um dedo para ajudar quem estava a ser atacado. Uma vez!
Gosto de acreditar que a humanidade nunca agiria dessa maneira, mas quem sabe?
Em suma, foi uma leitura interessante, que tinha potencial para muito mais, e que sem dúvida deixa expectativas quanto à continuação, embora possa ser lido como um volume único sem quaisquer problemas. Infelizmente, sem a continuação o mistério dos "odiosos" permanece por desvendar, o que é uma decepção.
Achei que poderia ter recorrido mais ao susto e menos ao gore. A voz na primeira pessoa podia e devia ter sido mais bem aproveitada, de forma a que o leitor realmente conseguisse entrar na pele do narrador, coisa que não aconteceu.
Ainda assim vale a pena, pela ideia, pela forma como é contada e pelas personagens, que são muito "nossas conhecidas". Todos nós conhecemos um Danny, ou mais ainda, somos um Danny. Aqui as pessoas parecem genuínas, o que torna tudo isto ainda mais "real" e consequentemente assustador.
Tradução (Saul Barata):
Antes de mais, pareceu-me que um título mais adequado teria sido "Odiosos" (nome dado aos que começam a agir de forma estranha) e não ódio, pois quanto muito o sentimento mais presente neste livro é o "medo". Mas claro, essa é a minha opinião pessoal.
Não posso dizer que há erros na tradução, porque poucos há (um ou dois, que tenha reparado). O problema é que as palavras escolhidas para os primeiros capítulos não são as melhores. Tive oportunidade de ler o primeiro capítulo em Inglês (língua original) e notei logo a diferença. Mas mesmo antes disso dei por mim a "torcer o nariz" ao texto em português.
Não posso dizer que há erros na tradução, porque poucos há (um ou dois, que tenha reparado). O problema é que as palavras escolhidas para os primeiros capítulos não são as melhores. Tive oportunidade de ler o primeiro capítulo em Inglês (língua original) e notei logo a diferença. Mas mesmo antes disso dei por mim a "torcer o nariz" ao texto em português.
Felizmente esta estranheza durou +/- até à página 100, porque a partir dai, ou eu me adaptei à escolha das palavras ou elas começaram a ser mais naturais.
Por isso cheguei ao fim sem voltar a "torcer o nariz" e só acho que a primeira parte precisava de uma nova revisão, pequena, mas que ajudaria muito a deixar o texto fluir.
Por isso cheguei ao fim sem voltar a "torcer o nariz" e só acho que a primeira parte precisava de uma nova revisão, pequena, mas que ajudaria muito a deixar o texto fluir.
Edição:
Gostei muito do design interior do livro, embora fizesse uso das "famosas" gotas de sangue, não deixou de fazer "vista" ao livro e à edição. Foi bem escolhido e deu um toque mais único ao volume.
A capa (de David Moody), embora em concordância com a original, não se distingue muito de outras duas que a Presença publicou nos últimos meses e cuja capa é branca com esguichos de sangue a vermelho.
Acho que um pouco mais de individualismo teria feito muito bem a este livro, até porque corre o risco de confundir os leitores dos outros dois livros ("A sociedade de sangue" e "O ano dos desaparecimentos") e induzir em erro sobre uma possível continuação.
Gostei da citação na contracapa: "O inferno são os outros", de Sartre. Uma frase que diz muito, mas se calhar teria sido mais interessante colocar algo que o próprio autor tivesse escrito.
Nota: Recebi este livro num passatempo do Refúgio dos Livros, cortesia da Editorial Presença.