Sinopse:
Uma madrugada do ano de
dois mil e tal. Um país imaginário chamado Ocidental Praia. Um
alcoolizado major que reúne os soldados na parada e decide ocupar os
paços do município. Na manhã seguinte, como se comportarão os
personagens deste livro? O director do boletim municipal, o
bibliotecário e o professor. A recém-licenciada que vende tostas num
quiosque e o especulador imobiliário. E o homem que se crê o Super
Homem? E o empresário prestes a perder tudo? A operária e o imigrante
africano. O presidente do município, o primeiro-ministro e a prostituta.
O imperador, o banqueiro e o administrador bancário de terceira linha…
Trabalhando com mestria uma multiplicidade de personagens, Luís Novais
faz-nos com humor o retrato dum país espartilhado e a viver em
equilíbrios precários… até que, vindo do nada, esse obscuro e ingénuo
major se revela um detonador.
Opinião:
Tenho a sensação que grande parte das pessoas que começam a ler este livro ficam mais ou menos como eu fiquei: confusa. Não pela história em si, mas pela escrita que enche as primeiras páginas. Uma pista: o subtítulo do livro.
Parte do livro está escrito num português arcaico, que apesar de facilmente reconhecível e compreensível, não deixa de causar estranheza, especialmente nos primeiros capítulos. E o mais estranho é que quando começamos a habituar-nos ao estilo, ele muda para um português corrente, isto porque o livro está dividido em dois estilos: Crónicas e Testemunhos. As crónicas, como sendo relativas à vida do Major que dá título ao livro, são as que estão escritas no português mais arcaico, enquanto que os testemunhos, vindo da parte de diferentes personagens, acabam ainda assim por ser bastante mais corriqueiras.
Mas como disse, é uma questão de hábito e até gostei desta 'dualidade'.
Em termos de trama, temos a dita central, sobre o Major Fangueira Fagundes, que na verdade nada mais é que o despoletar de tudo o que se passa em volta. As restantes histórias são auto-suficientes. Relatos de pessoas comuns cuja vida foi de certa forma afectada pelo Major, no dia em que ele decidiu repor a justiça.
Todos os testemunhos são interessantes e julgo que todos os leitores encontrarão algures nestas páginas uma personagem com quem se identifiquem, tal é a sua diversidade. Pessoalmente identifiquei-me mais com o Empresário e com o próprio Major, mas as restantes personagens também me deram que pensar.
O que me aconteceu ao ler este livro foi que dei por mim a pensar: Esta gente é mesmo portuguesa.
Depreciativo? Não! Mas a verdade é que todo o livro faz pensar isso, seja pelos actos, pelo estado das coisas, ou simplesmente pelas pessoas.
É um livro que me deixou a pensar, ou melhor, ponderar. Quem olha o mundo com visão crítica, certamente conseguirá ver neste livro muito assunto de conversa.
A prosa do autor é fácil de ler, apesar de estar dividida nos dois estilos que mencionei, nenhum é particularmente difícil de compreender. Gostava no entanto de perceber o porquê de as crónicas estarem escritas da forma que estavam. Quem as escreveu? E porque usou tal linguagem quando claramente vive no 'presente'? Outra coisa que gostaria de ter visto na prosa, seria uma maior intimidade com certos testemunhos, como no caso do Jaquité. A linguagem estava demasiado ... lusitana para alguém que nasceu e viveu em Guiné-Bissau. Pelo menos até ao último capítulo, em que tudo mudou um pouco.
A única coisa que não gostei particularmente foi a repetição de certas ideias. Várias vezes, ao longo das Crónicas e dos Testemunhos, o texto se tornava repetitivo. Eu compreendo que isto seja propositado, mas em determinados momentos tornava-se aborrecido.
Em suma, foi uma leitura muito agradável, que deu que pensar e que contém em si várias histórias interessantes. Gostei dos sub-textos intrínsecos à narrativa e das experiências do autor (aquele Auto estava muito bom).
Um autor a revisitar futuramente.
Capa, Design e Edição:
A capa é bastante apelativa, talvez pelas cores e até um pela fotografia simbólica, no entanto julgo que seja mesmo o título a destacar-se, e sendo este tão 'único', parece-me uma boa escolha estar em tanto destaque (se bem que podiam ter posto ".. Major Epifânio Fangueira Fagundes" que ainda ficava mais único). Um ponto negativo pela não inclusão do nome do autor da fotografia nos créditos (e eu sempre a bater no mesmo).
O design interior está bastante eficaz, com um estilo introdutório diferente para as Crónicas e para os Testemunhos, que ajudavam o leitor a facilmente identificar qual era qual antes mesmo de começar a ler.
Outra coisa que me agrado muito foram as várias notas de rodapé. Não é segredo que gosto destes auxiliares, especialmente em traduções e explicações de palavras/expressões/coisas que não sejam do conhecimento comum. Coisa que aqui foi tida em atenção e muito me agradou.
Um dos pormenores que achei mais significativo foi quando o Traques (o político que tomou o poder em nome da revolução usurpando-a) faz um discurso pseudo-revolucionário em que plagia... Salazar.
ResponderEliminarPenso que é uma brilhante alfinetada aos políticos deste país que, no fundo, atraiçoaram os ideais do 25 de Abril.
é um livro muito interessante e que retrata com humor a sociedade. Gostei da personagem do Major, os objectivos a que ele se propôs e do destino que lhe foi reservado, similar a uma figura emblemática portuguesa.
ResponderEliminarAs inumeras personagens que entram no jogo político (jogo das cadeiras, como foi apelidado) estão bastante curiosas mas também senti alguma repetição, principalmente nos anexos do Super-Homem.