quinta-feira, 30 de julho de 2015

The Knife of Never Letting Go

"The Knife of Never Letting Go (Chaos Walking 1), de Patrick Ness (ainda não publicado em Portugal)

Começo já por dizer que adoro este título e ele é tão apropriado. portanto, editora brasileira, porque mutilaste tão belo título transformando-o em "O Motivo" e com uma capa daquelas? É que não fica mesmo bem (nenhuma das duas coisas). E editoras portugueses quando é que planeiam apostar na série?

Já deu para perceber que gostei do livro, certo? Mas nem tudo são rosinhas, vá!

Comecei esta leitura, mais uma vez, sem saber nada do que se ia passar. Não li sinopse e só sabia que muitos leitores que sigo tinham adorado o livro e a trilogia, por isso estava decidida a pegar-lhe, embora as quase 500 páginas me assustassem um bocadinho no início. :P
Ah! e antes que me esqueça, apesar de isto não ser nada habitual aqui no blog: esta opinião vai conter SPOILERS. Não posso evitá-lo pois quero referir certas cenas que são muito marcantes e se não as descrever minimamente ninguém vai perceber do que falo, por isso prossigam com cautela, mas eu aviso sempre que for a referir Spoilers.

Tudo começa quando Todd tem 12 meses e 12 anos, o que no Novo Mundo significa que ele será um
homem dali a exactamente 1 mês (isto passa-se noutro planeta que colonizado por humanos). Todd vive uma vida relativamente pacata na companhia dos seus dois pais adoptivos: Ben e Cillian, e do seu cão chato: Manchee, na única cidade do Novo Mundo juntamente com mais de uma centena de homens. As mulheres foram todas exterminadas por um agente biológico lançado anos antes por seres extra-terrestres que entretanto ficaram extintos. E por culpa deles é que os homens ouvem o Ruído, ou seja, conseguem saber o que todos os outros homens estão a pensar em todos os segundos do dia e da noite. Ah! e os animais falam! Ou pelo menos foi isso que lhe ensinaram toda a vida. Até que Todd descobre um vazio no ruído e a partir desse momento toda a sua vida muda.

The Knife of Never Letting Go é uma corrida frenética. Não há momentos mortos, não há descanso nem repasto, só fuga, descobrimentos, decisões, imposições e um constante repensar do que Todd pensa que o mundo é, daquilo que lhe ensinaram toda a vida. E emoção, tanta emoção!

A escrita deste livro é estranha, pois está feita como se pelo próprio Todd que fala meio labrego e repete muito certas palavras ("and", por exemplo), o que em certos momentos chega a ser abuso mas na maioria do tempo funciona a favor da frenética da acção. Na verdade acho que o livro não teria funcionado tão bem se assim não fosse. E o facto de o Todd ser basicamente um ignorante em relação a quase tudo o que se passa no NovoMundo faz com que o leitor também o seja, embora possa tirar as suas próprias conclusões dos acontecimentos de forma bem diferente do próprio Todd.

E falando do Todd, o protagonista é-nos logo bem introduzido no início, assim como seu companheiro de quatro patas: Manchee, e a interacção dos dois é óptima durante o livro para descontrair um pouco da loucura que é toda a trama. Eu ri-me imenso com o Manchee e ...
*Spoilers*
... chorei que nem uma desalmada na cena em que o Aaron o matou. A sério! Não me lembro da última vez que chorei tanto a ler um livro e acho que para isso contribuiu o facto de eu estar a chegar a casa e ser recebida pela minha cadela e ... podem imaginar.
*Fim dos Spoilers*
A Viola é outra personagem muito consistente e o que ela acabou por fazer em vez do Todd, no final, já era de esperar mas não deixou de ser surpreendente a forma como se desenrolou. Por outro lado o Aaron e o Prentiss Junior realmente foram vilões merecedores do título, especialmente o Aaron. Fanatismo religioso no seu auge.
Só tive pena que o Ben e o  Cillian não tivessem mais espaço nas linhas; especialmente o Cillian que me parecia ter tudo para ser uma personagem bastante complexa.
Mas regressando ao Todd, houve uma cena em particular que me afectou bastante, por ser tão lógica mas ao mesmo tempo cruel. Por ser um acto bárbaro da parte do protagonista mas, ao mesmo tempo, por mostrar que ele na verdade fez tal acto por ser, de certa forma, inocente. Essa ambiguidade está muito presente na cena que mais me mexeu neste livro:
*Spoilers*
Quando, depois de o Todd não ter coragem para matar o Aaron (apesar de tudo o que ele fez) nem o Prentiss Junior (que o goza por ser covarde), se depara pela primeira vez na vida com um Spackle e o ataca sem razão aparente, sem conseguir pensar em mais nada que não o seu ódio e raiva por tudo o que lhe aconteceu até ali.
*Fim dos Spoilers*
Não sei se quem leu sentiu o mesmo mas para mim não havia como detestar o Todd, mesmo depois de ele fazer algo assim tão bárbaro, porque aquilo foi o triste resultado de uma série de coisas que vieram antes. É assim como se ele tivesse sido vítima de bullying durante anos e, de repente, ao ver alguém ainda mais fraco, se tornasse ele o bully, mesmo sendo ele quem mais desprezava os bullies.
Uma outra coisa que gostei muito foi do facto de o relacionamento entre a Viola e o Todd ir crescendo aos poucos e de não se focar no romance mas sim na amizade e na confiança. E também o facto de a história nos estar a tentar dizer que apesar da violência em volta ser possível ter princípios, ter alguma inocência e tentar mantê-la o mais que se puder, mesmo quando isso parece impossível.

Como vêem há muita coisa marcante neste livro, muita acção, muita ambiguidade, muita coisa para descobrir. Então porque é que eu disse que não eram tudo rosinhas?
Por causa do final.
Oh Meu Deus! Aquele final deu cabo de mim, no mau sentido! Porquê? Porque é que o autor fez aquilo?
*Spoilers*
Falo da vitória do Mayor e da conquista de Haven.
*Fim dos Spoilers*
Não vou dizer que o fim estragou o livro todo para mim porque isso seria impossível e a verdade é que estou desejosa de ler a sequela, mas raios! Que eu fiquei furiosa com o fim, fiquei. Porque o Todd e a Viola andaram todo o livro a correr, sem sossego, sem descanso, sem um momento de verdadeira esperança, e quando o leitor pensa que finalmente eles vão ter nem que seja um dia mais ou menos bom, vem aquele final e estraga tudo!
Não dá! O radar de adrenalina não pode estar sempre no topo, tem de haver uma pausa, por mais pequena que seja e tirar assim as esperanças todas é bom para a sequela mas é mau para o leitor.
Odiei! E eu imagino que o autor vá fazer uma sequela muito boa mas este final nunca o vou engolir. Raios!

Em suma, adorei o livro, as suas páginas cheias de acção, os momentos repletos de emoção, as personagens e o mundo, mas detestei o final. Dito isto eu vou já a correr ler a sequela (uma das minhas próximas leituras, sem dúvida). Por isso aconselho-vos a ler se ainda não o fizeram. Vale a pena.

Nota: Esta opinião tem como base a versão audiolivro narrada por Nick Podehl (Brilliance Audio) e aconselho esta versão pelo bom trabalho que nela foi feito.

Sinopse (edição "O Motivo" da editora Pandorga):
Todd Hewitt é um garoto de doze anos, o último menino de Prestissburgo, uma cidade onde só moram homens. Ele vive em um mundo cheio de "Ruído" em que os pensamentos privados de todos os homens e de todos os animais são audíveis. Em um mês ele fará treze anos e se tornará um homem. Mas a cidade está escondendo segredos dele, segredos que vão forçá-lo a fugir do prefeito e dos homens de Prentissburgo junto com seu cachorro e a primeira garota que ele já conheceu na vida.
A cada pagina o leitor ficará cada vez mais conectado a Todd e Viola e sua historia de amizade e sentirá genuína afeição por Manchee o cachorro ajudante de Todd, cujo comportamento é hilário e comovente.
Na sua essência, é uma historia sobre um garoto forçado a crescer rapidamente em um mundo de ruínas e loucura, armado apenas com sua convicção de fazer a coisa certa para sobreviver.
Todd vive em um mundo onde um germe matou todas as mulheres, um germe que deixou os homens loucos, o germe que significou o fim dos spackles quando a loucura dos homens colocou as mãos em uma arma.

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