"Dias de Sangue e Glória (Daughter of Smoke and Bone 2)", de Laini Taylor (Porto Editora)
Talvez se lembrem que o primeiro livro da série (A Quimera de Praga - Daughter of Smoke and Bone) deixou-me com suficiente curiosidade para querer ler a sequela, apesar de não o ter adorado.
O mais interessante (e irritante), para mim, foi o facto de, neste segundo livro eu ter odiado uma personagem de quem gostei muito no primeiro (Karou) e passado a gostar mais de uma que detestava (Akiva). A parte de eu ficar a gostar do Akiva até está bem, agora conseguir que eu passasse a detestar a Karou é obra.
Este segundo livro começa praticamente onde o primeiro terminou. Depois do massacre das Quimeras e da revelação de quem tinha causado a sua morte, Karou volta ao mundo onde teve a sua vida anterior e luta para perceber o seu lugar nesse mundo, bem longe do Akiva. Mas a forma como ela decide fazer isto é a mais estúpida possível: une-se ao Thiago (o homem que a mandou matar na vida anterior) e remete-se à clausura, passando os dias todos a criar novos corpos para as Quimeras. Mas pior que isso: Ela leva os Quimera para a Terra! Que parte deste plano genial poderia correr mal?
Por seu lado o Akiva começa a tomar medidas para alterar as coisas no seu reino, com a juda dos irmãos. E nos intervalos vamos lendo histórias sob o ponto-de-vista de personagens completamente aleatórias: Quimeras pacíficas que fogem dos Seraphins; soldados Seraphim destacados para lugares bem longínquos; coisas que, no final de contas, acabam por não ter grande impacto na trama mas dá para perceber que com isto a autora queria dar a conhecer outros lados da batalha e a maioria dessas histórias paralelas acabaram por até ser bastante curiosas.
A história teve os seus altos e baixos, mas no caso da Karou eu acho que a personagem serviu a trama e não contrário (e o facto de ela estar constantemente a culpar-se por tudo e por nada, mesmo sabendo que a culpa não é dela foi muito irritante), o que fez com que ela estivesse quase todo o livro num estado irreconhecível do espírito do volume anterior. Só quando a Zuzana voltou a aparecer é que as coisas mudaram.
O Akiva, como disse, finalmente saiu da sua apatia e fez alguma coisa de útil. E bastante até. Os seus irmãos também estão bem retratos neste volume. Em termos de vilões, sem dúvida que o Thiago é o com mais presença e, sinceramente, foi das personagens que mais gostei no livro porque foi das poucas que se manteve consistente. Já o Jael também teve os seus momentos, especialmente na cena do banho. Outra personagem que se destacou foi o Ziri, como não podia deixar de ser. Coitadinho (e mais não digo)!
Quanto à escrita, é inegável que Laini Taylor sabe escrever muito bem. Ela sabe usar as palavras e cativar mas também sabe irritar com a sua escolha de batotices. Eu explico: todo o livro é contado de forma linear: cena 1, cena 2, cena 3 e por aí fora; mas, por qualquer motivo, a autora decidiu, em dois momentos trocar as cenas de lugar. Ou seja, em vez de ser 10, 11, 12, punha 10, 12, 11, numa tentativa ridícula de criar suspense. Mas não funcionava! Não funcionava mesmo!
Ou noutras situações em que usava artimanhas como: «Mais tarde, ao pensar no que se passou, Karou iria perceber que se tivesse prestado mais atenção teria desconfiado que algo estava prestes a acontecer.» E isto é a forma perfeita de retirar todo o suspense de uma cena. Mas o pior é que a autora não precisava disto com uma escrita tão boa. Então porquê? Vá se lá saber ...
Em suma, Dias de Sangue e Glória (tradução imbecil e desajustada de "Days of Blood and Starlight") tem uma escrita muito bonita e cativante, algumas personagens fortes e um final muito bom, mas o início e o meio são fracos e algumas das artimanhas literárias usadas funcionaram contra a trama e não a seu favor. Ainda assim, e só porque sou teimosa, vou ler o terceiro livro e terminar a série. Aguardem a opinião.
Esta opinião tem como base a versão audiolivro ("Days of Blood and Starlight" publicado por Hachette Audio) narrada por Khristine Hvam.
Sinopse:
Karou, antiga estudante de Arte, quimera revenante e aprendiz de ressurrecionista, tem finalmente as respostas que sempre procurou. Sabe quem é e o que é. Porém, com este conhecimento vem outra verdade que ela daria tudo para desfazer: amou o inimigo e foi traída, e um mundo inteiro sofreu por isso.
Agora, sacerdotisa de um castelo de areia numa terra de poeira e estrelas, profundamente só, Karou tenta recriar o universo do seu passado, contribuindo, com a sua dor e a sua mágoa, para a volta gloriosa das quimeras.
Porém, sem Akiva, e sem o seu sonho de amor partilhado, o caminho da esperança afigura-se impossível de trilhar.
Repleto de desgosto e beleza, segredos e escolhas impossíveis, Dias de Sangue e Glória encontra Karou e Akiva em lados opostos de uma guerra tão antiga como o tempo.
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