"Comandante Serralves - Despojos de Guerra", de Ana Filipa Ferreira (Ana Ferreira), Carlos Silva, Inês Montenegro, Joel Puga, Rui Leite, Vitor Frazão
Este projecto, mais que uma antologia, é a raíz para algo que os criadores pretendem que seja mais grandioso, mais abrangente. Conhecem o conceito do Projecto Imaginauta? Convido-vos a visitarem o site para pereceberem melhor como nasceu este "Comandante Serralves - Despojos de Guerra" e, quem sabe, a contribuirem para o projecto.
Este antologia reúne várias aventuras do personagem que empresta o nome ao livro e cada uma é bastante independente das restantes, embora exista um centro coeso entre todas. Tudo se passa após uma guerra entre humanos e uns seres extraterrestres de nome Pahoehoentes, mas agora a luta é interna. Serralves e a sua tripulação querem mudar o sistema e nestas aventuras vemos alguns desses esforços intra e extra-planetários.
Como um todo a antologia funciona bem. Os contos não tem ligação imediata, ou sequer cronológica, entre si mas como refernciam os mesmos acontecimentos, os mesmos objectivos e algumas das mesmas personagens, torna-se fácil interligá-los. No entanto também esta falta de ligação imediata deixou alguns espaços mortos que, em certos acontecimentos maos maracantes, forma bastante sentidos, visto que não houve resolução ou consequências que fossem sentidas nos contos seguintes.
Em termos de personagens, por razões óbvias o Serralves é o mais explorado mas, estranhamente, é a Emily que se mostra mais consistente. o Serralves nem sempre age da mesma maneira, o que é um pouco bizarro, mas pode ser explicado or uma maior ou menor maturidade, visto que enm todos os episódios se passam no mesmo espaço temporal. Infelizmente o Serralves toma tão grande parte da história que torna todas as outras personagens esquecíveis e faz com que nenhuma se tenha gravado permanentemente na minha memória (tirando a Emily).
Todas as histórias têm algo de interessante e novo a acrescentar, mas nem todas me marcaram da mesma forma e as favoritas foram: "Métodos de Invasão, "Des Eigentum", e "A Guerra Esquecida".
Fica agora uma opinião mais individualizada de cada um dos contos:
"Métodos de Evasão", de Carlos Silva
Sem dúvida o meu conto favorito da antologia, esta história introduz-nos a este universo com uma bomba (não literal).
Apesar de não ter gostado da pressa do final (nem vemos como ele escapa), tudo o resto foi excelente.
Apresentou-nos o Serralves como um homem confiante, experiente e que é facilmente sobrestimado. Também nos mostra logo o(s) lado(s) inimigo(s) e algumas das motivações deste intrépido explorador do espaço.
A prosa está excelente e os diálogos fluem muito bem. Uma fantástica primeira incursão.
"Sinais", de Vitor Frazão
É neste segundo conto que conhecemos a "Maria" (nave espacial do Serralves) e a sua tripulação. Numa primeira parte cheia de conflito e desenvolviemento, passamos depois para uma segunda parte que prometia muito, mas que não funcionou tão bem como esperava.
Sem dúvida somos fornecidos com muita informação vital nesta história, e esta não nos é debitada de forma incómoda. Flui bem no contexto da aventura, mas em termos de acção (que é uma grande parte da última metade do conto) achei que ficou a faltar-lhe um certo brilho. E apesar de me apresentar uma série de pessoas, nenhuma ficou para a posteridade.
Por outro lado, o conceito da cidade está fabuloso!
"Dogson", de Inês Montenegro
Pela primeira vez vemos como funciona o sistema de vida continuada de Serralves e como isso afecta os que outrora se volutariaram para serem recipientes do icónico comandante. E, mais que isso, como lhes é impossível voltar atrás nessa decisão.
Dogson é o nome do desgraçadinho que um dia se lembrou de ser voluntário e que agora não tem grande vontade de dar o seu corpo ao Serralves.
Dito isto, o conceito está excelente e definitivamente funciona bem para mostrar em que consiste esta vida 'eterna' do Serralves. No entanto achei os diálogos fracos e houve pouco tempo para conhecer as personagens e, dessa forma, sentir pena (ou não) pelo desfecho que se seguiu.
"Despojos de Guerra", de Carlos Silva
Conto intenso e interessante, com uma sequência de cenas bem elaborada. Passa-se, maioritariamente, em Vénus, num Mercado Negro onde se pode arranjar de tudo, incluindo tecnologia extra-terrestre. E é isso que leva Serralves e a sua equipa a uma descoberta que pode ser tão promissora como perigosa.
A premissa está excelente, contudo a aventura, a escrita e as personagens não me cativaram tanto como no primeiro conto (também deste autor), apesar de não estarem más.
"Des Eigentum", de Ana Ferreira (Adeselna Davies)
Neste conto podemos ver o outro lado da guerra, entrar na mente de um Pahoehoente e só isso basta para tornar este um dos contos mais interessantes e, ao mesmo tempo, mais distante dos outros.
Gostei muito de como foi narrado de forma crua e directa, sem palavras desnecessárias, deixando lugar para que o leitor tire as suas próprias conclusões. E ainda, por fim, deu-nos um outro olhar sobre as acções do Comandante Serralves.
"A Guerra Esquecida", de Joel Puga
Uma história cheia de adrenalina, muito bem estruturada e que deixa sempre o leitor curioso e a querer mais. As personagens, enfim, estavam um pouco ocas, sacrificadas em detrimento do enredo, o que fez com que nenhuma me marcasse, nem mesmo o Serralves, apesar de eu ter gostado de ver como ele lidou com o novo corpo e com as pessoas que conheciam o dito corpo antes de ele tomar posse dele. No entanto isso me impediu de desfrutar bastante deste texto.
"Statica Falls", de Rui Leite
Entre este e os restantes contos nota-se uma maior diferença, tanto a nível temporal como por ser narrado na perspectiva de uma outra personagem: a Emily. E graças a isso posso dizer que o que mais gostei foi da interacção entre ela a o Serralves. Nota-se um amadurecimento na relação dos dois, em contraste com o segundo conto (Sinais).
Por outro lado, o conceito do povo que vive isolado do resto da humanidade, julgando-se a última colónia sobrevivente, foi bastante interessante, embora a resolução não me tenha enchido bem as medidas.
Nota: Na altura de divulgação do lançamento fiz uma entrevista relacionada com este livro e com o projecto Imaginauta. podem ler tudo AQUI.
Sinopse:
Depois da invasão
Pahoehoente, a Aliança Humana trouxe paz e prosperidade ao Sistema
Solar. Contudo trouxe também a supressão da cultura, a opressão e a
padronização dos povos.
Existe, porém, uma lenda que há várias gerações traz esperança a todas as nações livres. O seu nome é: Comandante Serralves
Suba
a bordo da nave Maria e deixe-se levar por um universo de relatos de
resistência e luta. Conheça as muitas caras e corpos do Comandante e
deixe-se maravilhar pelas comunidades que colonizaram os planetas de
Mercúrio a Urano.
Que despojos de guerra contra os Pahoehoentes
são esses que ainda hoje trazem perigo às nações livres? Que artefactos
se escondem em torno do Sol que podem desiquilibrar o braço de ferro
entre Serralves e a Aliança?
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