"Amores Contados", antologia com contos de Ana Ferreira, Cristina Milho, Francisco Vilaça Lopes, Jorge Campião, Rosa Bicho Gonçalves (Alfarroba)
Entrando um pouco no espírito romântico da época (Dia de S. Valentim e tal), e também porque o grupo de Maratonas Literárias do Goodreads está a fazer uma que junta o Carnaval e o Romance, decidi pegar nesta pequena antologia.
No geral posso dizer que fiquei agradavelmente surpreendida com esta antologia. Só um dos contos não me agarrou e os restantes têm todos pontos bons. Dois deles destacam-se pelas emoções: "Café Avenida", e "Um, Dois, Três".
Dito isto, recomendo esta pequena leitura que, apesar de contar com pouco romance, propriamente dito, não deixa de tocar de forma eficaz no sentimento que lhe dá nome: o amor. Só não esperem histórias lamechas.
Agora fica uma opinião mais individualualizada de cada um dos contos:
"Uma Questão Matematica", de Ana Ferreira
A antologia abre logo em força com um conto que se debruça sobre a componente sexual do relacionamento afectivo. Ao longo do texto o amor que une o casal torna-se óbvio mas eles têm um grande problema: o sexo, pois têm ideiais diferentes. A forma como eles trabalham este problema está bem explorado, embora as cenas mais picantes estivessem demasiado cruas e mostrassem pouco sentimento, o que me causou estranheza.
Gostei particularmente das pequenas frases que dão início a cada capítulo mas, por isso mesmo, achei que foram mal aproveitadas no resto da história. Também gostei da protagonista, por ter sido a mais bem explorada.
O que menos gostei foi a abertura e o desfecho, não da história, mas do texto, pois começa com um monólogo da parte da protagonista (que é escritora e começa a disparatar sobre como devia ter começado com uma frase forte) e acaba com uma reflexão completamente desnecessária. Por outro lado gostaria de ter visto mais desenvolvimento por parte do marido da protagonista, que foi pouco aproveitado.
Em suma, um conto que não tem tento na língua e que fala, com carisma, de uma parte muito importante de qualquer relacionamento amoroso.
"As Fotografias falam baixinho", de Cristina Milho
Esta segunda história tem uma ideia interessante e começa com uma certa dose de irreverência mas cedo perde intensidade, com uma prosa que não consegue transmitir a emoção que o tema e a situação exigiriam. Afinal quem conta a história está num lar e sofre do que parece ser Alzheimer, mas isto não é mostrado da melhor forma nem usado como se esperaria.
Gostei da visão inicial do lar, mais ou menos através dos olhos da protagonista.
O que menos gostei foi do uso da médica (ou assistente, não sei bem) e da neta. Não havia necessidade desta troca. Teria sido bem mais interessante se a neta não existisse ou simplesmente se a neta fosse quem ouvisse a história desde o início.
Em suma, não me consegui ligar às personagens nem senti o amor que é tão parcamente descrito (nem sequer o da neta pela avó, visto que a médica se meteu ali no meio).
"Amor de Viagem", de Francisco Vilaça Lopes
Esta terceira história deixou-me com opiniões mistas. Por um lado adorei a prosa rica, enérgica e cheia de vivacidade; mas, por outro lado achei que a mistura das cenas, a aleatoriedade de algumas delas e a falta de um verdadeiro Amor fez com que o conto não me marcasse tanto quanto eu esperava assim que o comecei a ler.
Gostei imenso da escrita, embora tenha a impressão que se se tratasse de um formato maior (romance, por exemplo), aquilo que aqui me fascina rapidamente me começaria a aborrecer. Mas no conto está sublime!
O que menos gostei foi a aleatoriedade das cenas e a falta de romance e de amor.
"Café Avenida", de Jorge Campião
Este foi o meu conto favorito da antologia. É simples, tem bons diálogos e personagens bem exploradas. Tudo começa com um marido sentado num café a espiar a sua mulher que está, do outro lado da rua, num quarto com outro homem, e ocasionalmente com um grupo de amigos desse dito homem. Eventualmente nota que uma outra mulher observa a cena tal como ele: trata-se da esposa do homem com quem a sua esposa se encontra.
O que mais gostei foi da evolução e da forma como estes dois estranhos, que se conhecem porque estão ambos a espiar os seus cônjuges, acabam por se entender, se falar e atiçar ainda mais as desconfianças que cada um deles carregava sozinho até ali.
A reviravolta quase final não foi, de todo, inesperada, mas foi bem entregue e suportada por diálogos fortes.
Gostei das personagens, dos diálogos e da linha de pensamentos do protagonista.
E não houve nada que não gostasse.
Em suma,esta é uma história pouco romântica mas que, definitivamente, explora o assunto do amor numa linha narrativa bem arquitectada e me manteve interessada do início ao fim.
"Um, Dois, Três", Rosa Bicho Gonçalves
Não são precisas muitas palavras para trasnmitir emoção, para delinear personagens e deixar o leitor agarrado às páginas.
Este pequeno conto está escrito de uma forma que, a princípio, estranhei, mas que logo fez compelto sentido. Não posso dizer nada da trama sem revelar mais do que devia, mas o texto está cheio de sentimento e de memórias.
Em suma, gostei e achei que tinha o tamanho certo para incutir emoção.
Sinopse:
Em 2013 a Alfarroba
lançou o concurso Amores Contados. Cerca de 250 histórias depois, foram
selecionados os cinco contos que hoje reunimos nestas folhas.
Neles
encontramos histórias de amor em fotografias, em viagens, num café, até
na matemática ou numa carta. São as histórias que nos fazem lembrar,
sonhar, suspirar ou sorrir. Histórias de sentir; são amores que devem
ser contados.
Olá Ana,
ResponderEliminarGostava de ler mais antologias, pois não é uma leitura que faça muito. Este parece-me bem. E embora não ligue assim tanto a isso achei a capa bonita.
Boas leituras.