"Um Blues Mestiço", de Esi Edugyan (Porto Editora)
Sinopse:
Se não contares a tua própria história, alguém o fará. E possivelmente fá-lo-á mal...
Paris,
1940. Em plena ocupação alemã, Hieronymous Falk, um jovem e brilhante
trompetista de jazz, é detido num café, desaparecendo completamente de
circulação. Tinha apenas vinte anos, era cidadão alemão e... negro.
Cinquenta
anos depois, Sid, antigo companheiro de banda e única testemunha desse
fatídico acontecimento, ainda se recusa a falar do assunto. No entanto,
quando Chip, outro ex-companheiro, lhe mostra uma misteriosa carta que
recebeu de Hieronymous, vivo e de boa saúde, Sid enceta uma dolorosa
viagem ao passado. Da agitação dos bares clandestinos da Berlim do
início da Segunda Guerra aos salões de Paris, irá reviver a paixão pela
música, a camaradagem e a luta diária de então, mas também as invejas,
as traições em nome da arte e o sentimento de culpa...
Um romance
extraordinário sobre o mundo do jazz, mas também sobre os limites da
amizade, o racismo e a fragilidade dos que vivem à margem.
Opinião:
Já há algum tempo que não me custava tanto terminar um livro. E foi com pena, acreditem. A premissa para este livro é muito boa e, bem vistas as coisas, a história central é interessante, mas o problema reside na prosa.
Antes de mais, convém dizer que li o livro em inglês, e não foi fácil. Já li centenas de livros em inglês e nunca tive grandes dificuldades, mas este testou a minha paciência. Acontece que o livro está escrito num tom afro-americano, que tem tudo a ver com os Blues e o Jazz, mas que me irritou profundamente. Especialmente porque notava mais o 'sotaque' no texto corrido, do que nos diálogos, o que, verdade seja dita, não faz sentido nenhum!
O que gostei mesmo neste livro, foi o facto de falar de um tipo de descriminação nazi que raramente é mencionada. A caça aos pretos. Ora, sendo que este foi um tema que sempre me interessou, estava entusiamadíssima com este livro. E, em parte, recebi o que procurava. A autora fala da segunda guerra, fala da perseguição aos pretos alemães, da dificuldade de sair do país (ou mesmo dos países), do constante medo de serem apanhados. E nisso o livro saiu-se bem.
Mas apesar do tema sensível e das mil e uma possibilidades da premissa, a autora não conseguiu surpreender e, pessoalmente, achei que as personagens tinham falta de carisma, de algo único, de ... personalidade. Não é que fossem todas iguais, mas eram demasiado lineares.
Mas o pior, para mim, foi mesmo a prosa. A autora perdia demasiado tempo a descrever cenas sem interesse, que pouco ou nada faziam para impelir a história seguir rumo, e depois, nas cenas em que realmente o leitor poderia ter interesse, ela saltava a acção, completamente. Isto aconteceu várias vezes! Era como se autora fugisse aos momentos que realmente poderiam marcar a diferença. Inacreditável!
Outra coisa inacreditável foi a forma como a autora escolheu, quase no fim do livro, revelar o que tinha acontecido aos antigos membros da banda. E contou-nos isto em dois parágrafos. Preciso dizer mais alguma coisa?
Passou o livro inteiro a mostrar-nos cenas sem grande interesse, e quando revela algo tão importante e tão passível de criar simpatia, escreve-o em dois parágrafos desprovidos de sentimento. muito mau!
Fora isto, o final foi bastante bom e quase poderia redimir o livro, mas não foi o suficiente.
"Um Blues Mestiço (Half Blood Blues)" não é um livro mau, mas também não e um livro bom. Peca pela colecção de cenas extensas sem grande importância, e pela imensidão de cenas interessantes que falha em explorar. Ainda assim, o tema é muito interessante e gosto da forma como a autora abordou o jazz. Não posso dizer que aconselho a leitura, mas poderá ser um livro curioso para quem goste de jazz.
Capa, Design e Edição:
A minha capa é a da direita e acho que tem o ambiente certo para o romance. Não é nada que fique na memória, mas funciona bem. Já a capa portuguesa me agrada bastante mais. É simples, eficiente e cria uma história por si só.
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