terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Cidade das Cinzas

"A Cidade das Cinzas (Caçadores de Sombras 2)", de Cassandra Clare (Planeta Manuscrito)

Sinopse:
Clary Fray só que­ria que a sua vida vol­tasse ao nor­mal. Mas o que é nor­mal quando se é um Caça­dor de Som­bras? A mãe em estado de coma indu­zido por artes mági­cas, e de repente começa a ver lobi­so­mens, vam­pi­ros, e fadas? A única hipó­tese que Clary tem de aju­dar a mãe é pedir ajuda ao dia­bó­lico Valen­tine que, além de louco, sim­bo­liza o Mal e, para pio­rar o cená­rio, tam­bém é o seu pai. Quando o segundo dos Ins­tru­men­tos Mor­tais é rou­bado o prin­ci­pal sus­peito é Jace, que a jovem des­co­briu recen­te­mente ser seu irmão. Ela não acre­dita que Jace de facto possa estar dis­posto a aban­do­nar tudo o que acre­dita e aliar-​se ao dia­bó­lico pai Valen­tine… mas as apa­rên­cias podem iludir.

Opinião:
Tendo gostado muito do primeiro livro desta saga, era inevitável que partisse para esta leitura com algumas expectativas, que, mais uma vez saíram defraudadas (está a tornar-se hábito).

Se no primeiro livro um dos pontos fortes era a forma como a autora nos "mostrava" o mundo pelos seus olhos, seguido de perto pelos fluentes diálogos e personagens perspicazes, neste segundo livro foi como se tudo isso ficasse perdido.
O mundo de "Os caçadores de sombras" tornou-se previsível e aborrecido; os diálogos, que até começaram excelentes, passaram rapidamente a uma falta de coerência e naturalidade difícil de digerir; e a grande maioria das personagens perderam o seu carisma, salvo raras excepções.

Mas o pior mesmo foi a história, que neste segundo volume perdeu toda a sua força. Houve apenas um acontecimento digno de menção, e esse foi relacionado com o Simon e nem chegou a ser imprevisível porque já desde o primeiro livro sabia que ia acontecer.

Logo no Prólogo deparamos-nos com uma sequência que é completamente dispensável. E a autora testa a nossa inteligência (mais paciência que outra coisa) a descrevê-la envolta numa neblina de mistério (que de misterioso nada tem). Foi o primeiro insulto deste livro à minha inteligência, mas não parou por aí.
A mais estranha e bizarra sequência deste livro foi toda a situação na corte das fadas. Aquela que poderia ter sido uma reviravolta interessante na história e a introdução de algumas personagens caricatas, tornou-se uma junção de cenas que não lembram a ninguém (a não ser que seja uma adolescente com a hormonas aos saltos). Foi ridículo! Eu cheguei a revirar os olhos.
Já para não falar que, se olharmos para aquela situação como deve de ser *Spoiler* (o Jace e a Clary pensam ser irmãos)*Fim de Spoiler*, ainda ficamos com o estômago a dar voltas. Nah-nah!

Outra situação foi que, em todo o livro, a autora andou a engonhar e engonhar, tentando esconder segredos que são tão óbvios que quase nos batem na cara, e que são um autêntico insulto à inteligência de qualquer leitor. Eu já consigo adivinhar tudo o que se vai passar no terceiro livro. TUDO! Porque a autora não sabe dar pistas subtis, ao invés espeta lá tudo, mas espera que, de alguma forma, o leitor não perceba e por isso leia o terceiro livro. É um insulto! (e só peço para estar muuuuito enganada)
E já para não falar que em todo o livro havia uma sombra reconhecível na trama, de nome "Harry Potter". Notei muito mais do que no primeiro livro (que havia sido "comparado" com o mesmo). Há muitas "semelhanças narrativas" que não abonam a favor da história de Cassandra Clare

Outro ponto negativo foi as personagens. Quase todas as novas personagens foram muito pouco interessantes, embora a autora lhes tenha tentado dar alguma profundidade, falhou miseravelmente. A pior delas todas foi mesmo a Imogen, que para Inquisidora era demasiado emotiva, e para adulta era demasiado imbecil e ingénua. E também a rainha das fadas não passou de uma personagem bidimensional que não adicionou NADA à história.
Das personagens já nossas conhecidas, as piores foram mesmo a Clary, que pareceu não fazer nada no livro todo (e logo ela que no primeiro era tão "arrojada"), mas menos mal que não virou emo. Outra personagem que decepcionou muito foi o Valentine. A autora passou estes dois livros todos a tentar convencer-nos que o Valentine era muito carismático e conseguia convencer toda a gente com palavras ponderadas e argumentos assertivos. Mas onde está a prova? Ele falou muito neste segundo volume, mas nada do que ele disse foi convincente. NADA! E mesmo assim a autora tentou convencer-nos que ele estava a conseguir demover o Jace e, pior que isso, a própria Clary. Não funcionou e não me convenceu.

E outra coisa muito má, foi o facto de a autora tornar, não uma, nem sequer duas, mas TRÊS personagens especiais. Não achou que estava a exagerar um bocadiiiinho?

Mas nem tudo foi mau. (estou a ser mázinha, não estou?)
Algumas das personagens conseguiram salvar este livro da destruição total, e foram elas:
- Jace, e nunca pensei dizer isto mas o Jace surpreendeu-me pela positiva. Não só se mostrou uma personagem com carácter, como se mostrou imprevisível. E se no principio me apeteceu esmurrá-lo (como aconteceu no livro anterior), ele rapidamente se mostrou o pólo que segurava a história neste volume.
- Magnus Bane, o magnificente mago que eu imagino como um velho, mas que na verdade tem aspecto de 19 anos (a culpa não é minha, mas da forma como ele fala). Fiquei a amar este centenário que não só é todo à frente, como tem um humor e perspicácia que adorei.
- Alec, que infelizmente teve muito pouco tempo de antena, mas que me conseguiu fazer-me rir às gargalhadas algumas vezes, e que se mostrou uma personagem bem interessante.
- Simon, que se manteve fiel a si mesmo e que, assim sendo, ainda continua a ser das minhas personagens favoritas. Acho que no meio deste bando de improváveis personagens, ele acaba por ser a mais normal de todas.
- Maya, a única nova personagem que realmente me interessou e que, convenhamos, já se sabia desde o início com quem ela ficaria. Menos mal que a autora não a tenha matado (não ia gostar disso).

E outra coisa de bom (não sei se conta, mas bem ...), foi uma cena muito particular, entre a Clary e o Simon, em que a autora fez o favor de me fazer corar quando "indiciou" que a Clary estava a convidar o Simon para ir ao quarto dela e ... bem ... adivinhem lá.  Juro que fiquei de boca aberta a olhar para o texto. Tipo "She did not just say that?", mas claro que, três páginas mais tarde, a autora fez o favor de ruir o castelo e tirar as ideias menos próprias do cérebro.
Foi brilhante!

Em suma, esperava muito mais deste segundo volume da saga, mas o que tive foi uma desculpa esfarrapada de história e uma série de plot-twists que não lembram a ninguém com dois palmos de testa.  A leitura valeu por algumas das personagens, mas pouco mais. E confesso que não estou muito entusiasmada em relação ao terceiro livro, mas vou lê-lo assim que puder para terminar a saga (ou aliás, a trilogia, porque a autora agora decidiu fazer uma outra trilogia que é o seguimento directo desta. Espremer a vaca até ela não ter mais leite, hem?)

Capa (Cliff Nielsen) e Design:
Ainda fico abismada com a (já mencionada) troca de capas que os editores portugueses decidiram fazer, até porque é na ordem certa que faz mais sentido (Jace, Clary e Simon).
Não sou grande fã destas capas, mas já gostei menos e agora estou simplesmente habituada a elas. Não as acho especiais, mas também não as acho más de todo.
O interior do volume está simples, sem grandes apetrechos e só não percebi porque no final do volume temos mais de 50 páginas de ante-visão do volume seguinte. Não acham que é um exagero?

Nota: Li o livro na versão original, em inglês

8 comentários:

  1. DITTO ON MAGNUS.
    Tipo, andei o primeiro volume inteiro a perguntar aos deuses o que diabo é que o Alec via num feiticeiro com centenas de anos... e depois percebi. OH. OK. *deadpan* Ele aparenta ter 19 anos.

    Moral da história: DESCRIBE MOAR, MADAM CLARE.

    xx

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  2. Ana e eu que estava a gostar tanto desta trilogia pelo primeiro volume, acabas-te de me dar com um balde de água fria com a tua opinião…
    Mas tudo bem, eu sou difícil de desiludir no que diz respeito a livros e também não sou muito crítica, ao ouvir-me falar já estou quase a imaginar que até vou gostar. =)
    (mas depois leio a tua opinião outra vez e penso.. Nahhh, lol)

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  3. Anna Raffaella,
    Nem mais! Eu juro que quando ela disse que ele tinha aparência de 19 eu fiquei O.o Tinha-o imaginado parecido com um personagem caricato que aparece no Bleach, chamado Dom qualquer-coisa (não me lembro), velho, bicha mas super-engraçado. Assim parece que já nem o "conheço", mas ao menos é mais fácil perceber porque o Alec se envolveu com ele. XD

    Elphaba J.,
    Se gostaste do primeiro, aconselho-te a ler o segundo. Afinal há mais gente que adorou esta sequela, do que pessoas que não gostaram (como eu). Mas eu sou esquisita por isso é normal que não goste de tudo e fique decepcionada muito facilmente. Logo veremos se o 3º salva a saga.

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  4. Alguns pensamentos aleatórios... Achei este o livro da trilogia mais fraco... Caramba tive que fazer um esforço para me lembrar do enredo. xD

    A troca das capas vem da edição espanhola, não sei porque decidiram assim... Mas não me fez grande confusão, achei que a Clary está mais destacada no primeiro mesmo (por estar a descobrir o mundo dos Caçadores e isso).

    O Jace e o Alec foram os meus preferidos da trilogia. O Jace porque lhe saem da boca as coisas mais engraçadas que já vi; o Alec porque coitado é irmão mais velho como eu e leva sempre por tabela por ser o mais responsável xD

    O impasse principal da trilogia envolvendo o Jace e a Clary... Ui ao início o desvendar dos vários aspectos dessa situação deixou-me um pouco confusa. Mas também já estava à espera de que ela lançasse este enredo no fim do primeiro livro e o resolvesse como resolveu no terceiro. O enredo em si não é nada de especial. O que eu gostei mais da autora foram os personagens e o worldbuilding.

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  5. p7,
    Também adoro as saídas ridiculamente engraçados do Jace (mas isso não quer dizer que ele não seja um parvalhão metade das vezes), e também me revejo no Alec, como irmã mais velha XD (não é bem a mesma coisa, eu sei).

    E não fazia ideia que tinham trocado as capas na versão espanhola. Então isso deve ser febre ibérica :) Mas discordo contigo, porque embora a Clary tenha tido mais destaque no primeiro livro, foi no segundo que ela "saiu da casca" e desenvolveu todo o seu potencial.

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  6. Tenho de passar os olhos por este livro outra vez... Achava que conseguia lembrar-me de mais coisas feitas por outros personagens (o Jace a fazer o seu melhor para antagonizar a Inquisidora, o Simon a arranjar maneira de levar uma dentada, etc.) do que pela Clary... Mas depois fiz um esforço de memória e afinal a Clary também faz coisas. A minha memória é que é péssima. xD

    As capas trocadas nos dois países devem-se a ser a mesma editora, penso eu... O que me leva a perguntar... a Planeta Manuscrito (a destes livros) e a Planeta Editora não são a mesma coisa pois não? :S

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  7. p7,
    Não. São editoras diferentes, embora eu não perceba a lógica de existirem duas editoras com o mesmo nome. Só mesmo em Portugal 8e com tantos nomes interessantes disponíveis ... -_-)

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  8. De uma forma geral gostei muito da trilogia e fiquei satisfeita com o resultado final! Gosto muito das opiniões dadas neste blog. Boa continuação!

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