sábado, 1 de agosto de 2015

O Último Adeus

"O Último Adeus", de Lí Marta (Edições Vieira da Silva)

Este livro é uma espécie de memória recontada, não da autora, mas de seus familiares, num tempo em que ela ainda não era nascida. Histórias passadas recontadas em família e alteradas na ficção apenas o suficiente para não ferirem susceptibilidades. E, parece-me, aí reside o maior problema do livro, no seu cuidado por não ferir os sentimentos das pessoas nele retratadas. O que de certa forma se entende, por serem família, mas não se compreende pois o leitor procura verdade não editada em memórias (mesmo quando estas se assumem como semi-ficção).

O romance conta-nos a história de um casal apaixonado que vive muitas dificuldades para sobreviver e criar os filhos, mas que são felizes até ao momento em que uma trágica doença leva o marido para longe.

O romance é bastante bonito e não demasiado lamechas, o que é bom. Há sentimento, tanto entre as personagens como, claramente, no próprio modo de prosa que o conta. No entanto achei que aquelas cenas que aconteceram, quando o homem já estava doente e a mulher o foi visitar, foram demasiado inverossímeis. Julgo que esta foi uma das partes ficcionais do livro e se não o foi peço desculpas mas a improbabilidade de a mulher não ter ficado com a doença (altamente contagiosa) depois de tudo aquilo era bastante improvável e pareceu muito onírica. Bela, sem dúvida. Romântica, com certeza. Verossímil, dificilmente.


Quanto às personagens, fora o casal principal e mais uma ou outra, a maioria passou-me ao lado. As mulheres normalmente eram definidas primariamente pela sua beleza física (da qual elas nunca estavam conscientes), mas os poucos homens pareceram ter mais consistência. Outra coisa que senti, especialmente no fim do livro, foi que a autora tinha receio de dizer mal das personagens. Todas elas eram razoavelmente boazinha. Não havia conflito!

A prosa é bonita mas usa muito da exposição narrativa e deixa pouco ao leitor para descobrir por si mesmo. É muito literal, quase jornalística, o que será bom para quem goste mais desse tipo de escrita.
Também usa muito de diálogos para se fazer explicar, para desenrolar os momentos, para mostrar as personagens, o que é excelente, mas alguns diálogos não são fluídos e mais parecem mecanizados.

Em suma,  O Último Adeus é um leitura leve, com um tema pesado e um grande respeito pelas pessoas nele retratadas. O romance é tocante e o leitor preocupa-se com as personagens centrais. No entanto o respeito da autora pelas personagens fez com que a prosa se tornasse demasiado simples, sem camadas, e a história falhasse em mostrar conflito. Dito isto, julgo que o livro irá agradar a fãs de memórias e de romances.

Este livro foi a leitura de Outubro 2014 do Clube de Leitura de Braga.

Sinopse:
Baseado numa história verídica, vivida entre os distritos de Viseu e Aveiro. Passamos por localidades como Tondela, Caramulo, Sernancelhe, Moimenta da Beira e Águeda. Três gerações de primogénitas vivem grandes histórias de amores inesquecíveis.
Dionora vive pobremente mas feliz com António. Até ao dia em que descobrem a doença fatal vivida nos anos cinquenta, a tuberculose. Com a morte do marido, Dionora deixa de ter forças para viver.
Luzita, a primogénita de Dionora, terá de lutar pelo primeiro amor da sua vida, um homem de classe ligeiramente superior à dela. Só que o destino salpicou-lhe a vida de negro.
Lídia, a primogénita de Luzita, vive também um grande amor. Mas fica nas suas mãos dar continuidade ao último adeus. Será que é capaz?

4 comentários:

  1. Olá Ana,
    Já há algum tempo que vejo este livro e tenho sempre curiosidade.
    Parece uma leitura leve mesmo. Gosto deste tipo de leituras nas férias.
    Beijinhos e boas leituras

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    Respostas
    1. Isaura, é uma leitura boa para o Verão. :)

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    2. É tão bom ver que aqui e ali está alguém interessado neste livro.
      Deixo a minha página oficial para ir acompanhando este e outro livro.
      Obrigada.
      https://www.facebook.com/LiMarta.escritora

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  2. Muito obrigada pelo tempo que dedicou a explicar tão bem esta obra.

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