"Granta 1", com contos de Saul Bellow, Fernando Pessoa, Hélia Correia, Ricardo Felner, Simon Gray , Ryszard Kapuściński, Rui Cardoso Martins, Orhan Pamuk, Valério Romão, António Costa Santos, Dulce Maria Cardoso, valter hugo mãe, Afonso Cruz e Rachel Cusk
Sinopse:
Sob a égide temática
«Eu», o primeiro número da edição portuguesa, publicado pela
tinta-da-china, inclui cinco sonetos inéditos de Fernando Pessoa,
apresentados pelos investigadores Jerónimo Pizarro e Carlos
Pitella-Leite; um inédito de Hélia Correia; um texto de Saul Bellow
repescado da congénere britânica e um portefólio fotográfico de Daniel
Blaufuks.
Opinião:
Não li todos os contos desta revista/antologia (que me parece que, em si mesmos, não sabe bem o que é em termos de formato, mas isso não é o mais importante). Acabei por desfrutar os primeiros textos, até meio do livro, não tendo lido os últimos e maiores. Do que li gostei muito e achei que eram textos com bastante qualidade. Já o portefólio do Daniel Blaufuks não me cativou por aí além, embora entenda porque é tão afamado. Por outro lado as ilustrações da Vera Tavares são muito boas!
Ficam agora as opiniões dos contos individuais:
"Em Busca d'Eus Desconhecidos", Dulce Maria Cardoso
Um texto agradável, com um certo nível de profundidade e que o leitor consegue sentir, mas que não fica na memória por muito tempo. É algo que se lê bem, mas que não marca.
"À Medida que Fomos Recuperando a Mãe", Valério Romão
Um conto que me perturbou imenso pelo que ele implica e sugere. Muito perturbador mas ao mesmo tempo muito credível. Conta a história de uma família abalada pela perda da figura materna/feminina e cujos filhos têm de encontrar forma de recuperar o pai que se perde na tristeza. Muito emotivo e com um final que me arrepiou.
"Memórias do Filho de um Contrabandista", Saul Bellow
Gostei muito da prosa do autor e das personagens (pessoais reais) a que ele deu vida no papel, contudo confesso que não gostei assim tato da forma como escolheu contar a história, ou encadear a sua lógica.
Não me parece que isto seja falha do texto, mas sim ao facto de este não ser o texto completo, ou pelo menos não o parecer. Falta ... algo!
"Intervencionados". Hélia Correia
Uma crítica, mais que outra coisa. De todos achei que foi um dos que menos "Eu" transmitia no texto. A autora manteve uma distância demasiado grande entre si, a história e as personagens, o que se notou no texto. Não que isso resulte num mau conto, mas não é tão marcante.
"Mar Negro", Ricardo Dias Felner
Um conto que mistura comida, uma busca pela "eu" e uma amálgama de pequenas coisas, como que ingredientes para o prato principal. Gostei do conceito e da execução mas confesso que não fiquei fã do final, pelo facto de vir completamente do nada, já que se relacionava com uma outra personagem que nunca apareceu na história em si e que apenas havia sido mencionada uma ou duas vezes, de forma muito supérflua. Daí que o final não tivesse um terço do impacto que poderia ter tido se a construção para a cena fosse outra.
Dito isto, eu gostei bastante deste texto.
"Como se eu fluísse …", Fernando Pessoa
Apesar de não conhecer bem a obra de Pessoa (eu sei, falha imperdoável!) a verdade é que gostei muito destes pequenos excertos dos seus textos. São bastante dispersos e falta-lhes unidade, mas são muito representativos do "eu" pessoa, por isso funcionam lindamente neste livro/revista. Os facsimiles também ajudaram a isso.
"Esboço para um Livro", Ryszard Kapuscinski
Um relato que tenta ser emotivo mas que falha: Especialmente porque me pareceu o texto menos "eu" de todos. Era mais sobre os outros e especialmente sobre uma personagem que não me suscitou nenhum interesse. Talvez por ser um esboço, um excerto, uma amostra, lhe faltasse algo que o distinguisse.
Não que não tivesse gostado do relato quase jornalístico mas esperava mais.
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