"O Voo do Noitibó ", de João Lobo (Calígrafo Edições)
Sinopse:
Em O Voo do Noitibó,
João Lobo, fiel a uma gramática de procura e indagação, desentranha seis
histórias de criaturas nimbadas pelo sortilégio do tempo natural,
daquele tempo que está para além dos espaços físicos e dos marcos
históricos, e que encontra medida no ádito improfanado da memória, e
preexiste às circunstâncias dos factos que confundem os sentidos e cegam
o entendimento do homem hodierno.
Opinião:
O Voo de Noitibó foi o livro que o Clube de Leitura de Braga leu em Junho e discutiu em Julho. A minha opinião está bastante atrasada, mas aqui fica.
Tratando-se este livro de uma colecção de contos, como já vem sendo costume, vou opinar os contos um a um, primeiro, e no fim farei uma opinião geral.
"O Zina"
Uma história com alguns pontos fortes, incluindo as personagens e algumas das situações apresentadas. O Zina estava bem retratado e deu vida ao conto, mas a prosa não ajudou a manter-me ligada à história e achei que o autor divagava demasiado.
"Belzebu"
Esta história termina de uma forma que marca e tem vários momentos muito interessantes, enquanto descreve a vida de Belzebu na terra. Mas, ao mesmo tempo, certas coisas não fazem muito sentido e, mais uma vez, o texto divaga um pouco. Vale pelo final e pela moral.
"A Morte das Palavras"
Para mim este foi o melhor conto do livro, não só porque me parece que é o que fala mais do que o autor sente quanto às palavras e à língua portuguesa, mas também por ser um tema que tocará qualquer pessoa que goste de ler, ou apenas goste de palavras. Este conto é curto, mas tocou-me.
"A Trepadeira Azul e o Mocho Soleimão"
Um conto que se lê como uma fábula, e que é uma brisa fresca neste livro. Numa escrita mais acessível, sem ser corriqueira, com uma história singela mas carregada de simbolismo, esta foi o segundo conto que mais gostei no livro. Ao que parece, o próprio autor discorda e considera este conto o mais fraco. Curioso!
"A Sentença de Mereruka"
Apesar de adorar o Egipto e de ter gostado de como o autor retratou o país e a sua gente, não fiquei satisfeita porque acho que lhe faltou um propósito. O autor introduz um enredo mas não o fecha com confiança e isso fez com que não me agradasse tanto quanto esperava. Também não ajudaram as divagações filosóficas que surgiram no meio do texto, apesar de algumas delas serem interessantes.
"O Javalão"
Confesso que não cheguei a terminar a leitura deste conto, por isso não opinarei sobre ele mais do que para dizer que não encontrei nada que me agarrasse.
O Voo de Noitibó é um livro difícil de opinar. É rico! E nele se exaltam as palavras em toda a sua glória. O leitor sente a paixão que o autor tem pela língua portuguesa mas, ao mesmo tempo, sente-se perdido pois é quase impossível saber-se o significado de todas as palavras. Enquanto lia este livro, era raro o parágrafo que não me fizesse ter vontade de consultar um dicionário. E se isso é bom de vez em quando, constantemente torna-se um aborrecimento, e rapidamente cansa o leitor.
E por falar em leitor,o capítulo "Ao Leitor" que mais parece um conto por si só, não fez nada para ajudar a introduzir o incauto leitor ao estilo do autor. Eu perdi-me várias vezes nas suas frases e de tanto pensar no que significavam as palavras, o significado do texto, como um todo, acabou por perder-se. Isto, infelizmente, sucedeu várias vezes ao longo do livro,
Não me interpretem mal! Acho que a escrita é brilhante e linda, mas não é um livro fácil, ou sequer fácil de agradar. Este livro é um hino à palavra, mas não é acessível a qualquer um. E se o lerem, façam-no muito devagarinho e apreciem cada frase. E quando o fizerem, apreciem a forma como o autor descreve o Norte de Portugal, porque vale a pena.
Capa, Design e Edição:
Gostei bastante do design simples do livro. A edição está cuidado e a capa está simples mas apelativa. Não conhecia a editora, mas talvez compre mais alguns dos seus livros que parecem apoiar os autores nortenhos.
P.S.: Em Setembro, o Clube de Leitura de Braga falará sobre o livro "Náusea" de Jean-Paul Sartre.
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