segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Filho de Mil Homens

"O Filho de Mil Homens", de Valter Hugo Mãe (Alfaguarra)

Sinopse:
Esta é a história de Crisóstomo que, chegando aos quarenta anos, lida com a tristeza de não ter tido um filho. Do sonho de encontrar uma criança que o prolongue e de outros inesperados encontros, nasce uma família inventada, mas tão pura e fundamental como qualquer outra.
As histórias do Crisóstomo e do Camilo, da Isaura do Antonino e da Matilde mostram que para se ser feliz é preciso aceitar ser o que se pode, nunca deixando contudo de acreditar que é possível estar e ser sempre melhor. As suas vidas ilustram igualmente que o amor, sendo uma pacificação com a nossa natureza, tem o poder de a transformar.
Tocando em temas tão basilares à vida humana como o amor, a paternidade e a família, O filho de mil homens exibe, como sempre, a apurada sensibilidade e o esplendor criativo de Valter Hugo Mãe.


Opinião:
Sem nunca ter lido nada do autor e apenas lhe conhecendo a fama, foi sem expectativas que comecei este livro e fui agradavelmente surpreendida.

A história parece, à primeira vista, corriqueira, mas chega a ser bastante complexa, na sua humanidade. Passada numa qualquer vila portuguesa, num qualquer tempo (e, sim, isto faz-me impressão, porque certas coisas apontam para um tempo moderno, enquanto muitas outras fazem parecer que estamos nos anos 60/70), julgo que qualquer leitor poderá identificar várias caricatas personalidades como muito realistas, muito próximas do português da aldeia de outros tempos, ou será de hoje? (e com isto não pretendo ofender)
Algumas situações representadas neste livro, testaram a minha credulidade, especialmente pela sua crueldade e malícia. Mas não chegou a cruzar os limites e também na bondade este livro se excedeu, mais lá para o fim.

A nível de personagens, há-as para todos os gostos. Personagens que nos parecem familiares, que nos tocam, que nos movem, que nos enojam e nos fazem pensar que as pessoas ainda têm muito que aprender sobre a diferença, e que infelizmente isso é tão verdade agora, como antes.
Escusado será dizer que o meu favorito foi o Crisóstomo, com o seu singelo desejo de ser pai e o seu amor incondicional por todos. Também as outras personagens principais foram marcantes, mas não da mesma forma. Camilo, Isaura, Antonino, Matilde a Mininha, foram personagens cheias de defeitos e cheias de virtudes, que me mantiveram agarrada às páginas.

Já no que toca à prosa do autor, gostei bastante desta, em quase todo o livro, e foi ver que neste livro o autor não usou certos artifícios literários que me teriam deturpado a leitura (ex: não usar maiúsculas). Contudo, há que dizer que certas partes do romance me soaram falsas, especialmente quando personagens que sempre foram 'labregas', se saíam com pensamentos ou discursos mais elucidados e eruditos, que nada mais pareciam que pregações.
A já mencionada falta de localização temporal, levou-me a questionar várias vezes os acontecimentos e as vivências das personagens, e isso não foi bom. Fiquei com a sensação que o autor não quis dizer a data, para não correr o risco de ser chamado à atenção por alguma inconsistência.

Em suma, este foi um livro que me agradou bastante e que, apesar de começar num tom muito triste (por vezes até macabro), no fim terminou de uma forma inesperadamente optimista. E sabe bem ler algo assim para variar.
Irei com certeza revisitar o autor!

Nota: Li este livro para o Clube de Leitura de Braga (que entretanto se vai voltar a reunir, dia 4 de Maio, para falar de "Um Blues Mestiço" de Esi Edugyan).

Capa (Robert e Shana ParkeHarrison), Design e Edição:
Vou ser honesta e dizer que não percebo o porquê desta capa. É que não tem nada a ver! Ou se tem, alguém que me explique porque eu não entendo. Para mais, esta capa distancia-se imenso das outras capas do autor na mesma editora, mas isso é o menos.
Noutra nota, adorei as ilustrações interiores e só não percebi porque não incluíram mais. Já agora, quem era o artista?

2 comentários:

  1. Olá Ana, conto ler este livro muito em breve, visto que o comprei recentemente com 70 por cento de desconto.
    Do autor, tenho apenas a referência de "O Remorso de Baltazar Serapião" que foi sem sombra para dúvidas uma das melhores leituras que fiz o ano passado. Também neste livro que te menciono, a época não é mencionada, mas adiante apercebemos-nos de que estamos em pleno reinado de El Rei D. Diniz. se porventura voltares a VHM, lê este livro que te recomendo sem qualquer espécie de reservas.
    Entretanto tb. reparei que estás a ler "Um Blues Mestiço" irei aguardar pela tua opinião, pois tenho alguma curiosidade neste livro.
    Beijinhos e boas leituras.

    http://nososlivros.wordpress.com/2011/10/23/o-remorso-de-baltazar-serapiao-valter-hugo-mae/

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    Respostas
    1. Nuno,
      Já me falaram muito em d'O Remorso de Baltazar Serapião, por isso, quando tiver oportunidade, será esse que lerei.
      Assim que terminar de ler o "Um Blues Mestiço" coloco a opinião. :)

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