sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Antologia de Ficção Científica Fantasporto

"Antologia de Ficção Científica Fantasporto", organizado por Rogério ribeiro, com contos de Afonso Cruz, Bruno Martins Soares, Isabel Cristina Pires, António Carloto, Madalena Santos, João Ventura, José Cardoso , Luís Roberto Amabile, João Leal, António de Macedo, Manuel Alves, João Paulo Vaz, Telmo Marçal, Beatriz Pacheco Pereira, Rodrigo Silva, Filipe Homem Fonseca, Ágata Ramos Simões (Edições 1001 Mundos)


Sinopse:
O Fantástico nasce da mente e imaginação humanas e encontra campo fértil de expressão nas mais diversas formas artísticas. Tem sido esse o espírito do "Fantasporto", e foi aqui objectivo da 1001 Mundos trazê-lo para a literatura. Esta antologia nasce fruto dessa colaboração, e do trabalho do organizador, Rogério Ribeiro.
Esperamos que apreciem estes momentos de um tempo que ainda não é - ou que nunca foi - e que saíram da imaginação de autores de três continentes, mas com um forte elo que os une - a Língua Portuguesa.


Opinião:
Vou começar por falar dos contos, um a um, e no final farei um apanhado geral.

"O tempo tudo cura menos velhice e loucura", de António de Macedo
Um conceito engraçado com um bom desfecho, mas cuja execução deixou algo a desejar. Não entrei verdadeiramente na história e os 'factos' científicos que deveraim ter sido divertidos (entendi-os como uma sátira) foram um pouco aborrecidos. Já para não falar que a explicação do que aconteceu deixou muito a desejar.

"A inimaginável materialização de Samira", de João Paulo Vaz
Mais um excelente conceito que poderia ter dado um excelente conto, mas que se ficou apenas pelo mediano. O autor usou muito o 'contar' e pouco o 'mostrar'. Ou seja, relatou-nos os eventos de forma algo monótona, em vez de criar situações em que o leitor percepcioansse a mensagem sem ser por forma de relato.

"O Robot Auris", de Beatriz Pacheco Pereira
Uma história simples, que por momentos pareceu prestes a voltar para um lado completamente diferente, e que no fim me surpreendeu. gostei muito pelo seu tom sereno e pela caracterização, não só do Auris, como das crianças e dos seus pais.

"O Festival", de Filipe Homem Fonseca
Um conto com uma história interessante, com momentos muito bons e uma ideia base genial, mas que em certos momentos se perdeu e com isso esvaiu força. Se em certas cenas o autor nos mostrava como as personagens reagem, em outras apenas nos dizia, sem que o leitor criasse a empatia necessária. Mesmo assim foi uma boa história.

"Virgílio Bentley e o extra-terrestre", de Ágata (Ramos) Simões
Foi bom rever o Sr. Bentley e ri-me muitas vezes com este conto. O humor de Ágata Ramos Simões mantêm-se intacto (e como qualquer humor, não será do agrado de todos). O único problema do conto foi a falta de pormenores sobre o ET, a sua nave e o seu modo de comunicação. Os que havia pareceram insuficientes.

"As mãos e as veias", de Afonso Cruz
Se ao principio estranhei este conto, escrito em forma de peça de teatro, assim que o 'mistério' se desenrolou, tudo ficou diferente. Apesar de eu achar que um pouco mais de descrição seria agradável, pois até mesmo as peças de teatro descrevem dos movimentos e expressões, este foi um conto que me surpreendeu e agradou.

"Tsubaki", de Bruno Martins Soares
Com um início interessante e misterioso, esta história perde-se em tempos verbais desconexos, pontuação mal-conseguida (ao ponto de me irritar muito, apesar de em certos momentos me parecer que era propositada era tão errática que foi impossível perceber se o era ou não). A resolução não ajudou. A violência não fazia sentido algum no contexto da personagem que o autor nos mostrou antes (*SPOILER* se não matou o homem com quem entrou em duelo, porque o faria com o outro estranho? *Fim de SPOILER*).
Enfim, um conto decepcionante, apesar de ter potencial.

"Uma alforreca no quintal", de António Carloto
Apesar de ter gostado do tom do conto e da sua história simples mas significativa, fiquei decepcionada com a sua simplicidade e falta de explicações. Esperava mais do conto vencedor.

"Fogo!", de João Ventura
Um conceito excelente e uma execução inteligente. O final foi muito bom. Gostei muito do ritmo da história e da prosa, mas em certos momentos as explicações pareceram-me extensas de mais.

"O Cão", de Isabel Cristina Pires
Apesar de ter gostado da reviravolta final, a história não me cativou muito por se manter tão distante. o leitor não entra realmente na história. Se fosse experimentado de outra forma, seria ainda melhor, mas gostei.

"O mistério dos Uivos", de Madalena Santos
Confesso que estive quase, quase, para desistir de ler este conto, mas fui até ao fim. A ideia que fica é que a autora sabia tanto, queria mostrar tanto, que debitou informação como se não houvesse amanhã. Perdi-me, literalmente, na narrativa e só quase no fim consegui perceber afinal qual era o propósito do conto. As duas primeiras partes foram as piores e as mais dispensáveis. Não consegui sentir empatia pelas personagens e irritou-me bastante o facto de estas serem sempre narradas como "Técnica de Manutenção" ou "Bellvis Montesano", ou pior ainda "Técnica de Manutenção Bellvis Montesano" (nunca só um nome, só uma designação). Isto vezes sem conta.
Gostei da comunidade que foi introduzida, dos conceitos e até da ideia central do conto, mas achei-o mal executado, enfadonho e muito disperso.

"Expedição ao Futuro", de José Cardoso
Com uma boa linguagem e algumas cenas bem conseguidas, este conto pareceu-me demasiado disperso, o que tornou difícil a sua apreciação. Não consegui fazer grande sentido da história e achei que podia bem ter sido poupado a algumas divagações.

"Déjà-vu", de Luís Roberto Amabile
Nada nesta história se sobressai e achei que tinha muito pouco de ficção científica. Além de que não foram dadas explicações nenhumas para nada do (pouco) que aconteceu.

"Acordar o Profeta", de João Leal
Uma história que soube agarrar o leitor do início ao fim. Gostei da prosa, do desenvolvimento da ideia e da acção. Um bom conto com o compasso certo e fundações bem vinculadas.

"Zé", de Manuel Alves
Um dos meus favoritos da antologia. Apesar de sentir falta de maiores explicações (sobre o que é ZÊ e o que é o professor), o desenrolar das cenas está muito bem conseguido, a prosa está excelente e fica a vontade de ler uma continuação (embora esta não seja obrigatória, pois o conto é autónomo). Uma agradável surpresa.

"As Moças do Campo", de Telmo Marçal
No início este conto não me cativou, mas à medida que a história avançava, fui gostando mais e mais. O final, para mim, não foi dos melhores. Achei a resolução um pouco mal-executada, mas no geral o conto é um curioso. No entanto o que me deixou mais decepcionada foi o facto de este conto, praticamente, nem ser muito FC (a ficção científica é muito ténue, não que isso seja necessariamente mau, mas neste caso sentiu-se falta de algo mais).

"A besta-fera", de Rodrigo Silva
Conceito interessante, início bom, mas péssimo desenvolvimento. Muito apressado e sem nada que o mantenha na memória

Em suma, esta antologia pecou um pouco em termos de qualidade e diversidade. Vários temas se repetiram e isso nem teria sido muito problemático se os enredos fossem verdadeiramente originais e interessantes, bem explorados e na dose certa. Infelizmente, muitos dos contos não o fizeram.
Apesar de ter gostado de alguns contos, não adorei nenhum e isso é raro acontecer-me em antologias (há sempre ou que se destacam e são diferentes de leitor para leitor).
Esperava mais, confesso, mas não é um livro mau, apenas mediano.

Capa, Design e Edição:
Gosto muito da capa. O conceito em si é genérico, mas as cores e os efeitos estão muito bonitos e tornam-no num trabalho chamativo.
Em matéria de edição, não percebi a disposição dos contos na antologia. Não estavam por ordem alfabética dos autores, nem por ordem de prémios, nem sequer por temas.
Apesar de ter discernido alguns erros na edição, não foi nada de muito relevante a  em termos de edição acho que fizeram um bom trabalho. Já ao nível da coordenação e escolha dos contos, embora saiba que depende muito do gosto pessoal do organizador, confesso que a antologia não me conquistou por completo.
Em termos de design, achei que podiam ter feito algo mais único, alusivo ao tema. Está eficiente, mas por isso mesmo não se destaca. Também achei que fazia falta, no início dos capítulos do vencedor do concurso e das menções honrosas, uma menção desse facto.

5 comentários:

  1. Portanto, e no geral, uma banhada?

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    1. Pode-se dizer que sim. Embora alguns contos valham a pena, não posso dizer que recomendo o livro (especialmente para quem não conhece FC).

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  2. Não sou grande leitora de FC (na verdade, esse está longe de ser meu gênero preferido), talvez isso explique minha preferência pelo conto de Luis Roberto Amabile (e que talvez estaria melhor acolhido em uma coletânea de literatura fantástica). Não acho que a trama carece de explicação (aliás, até carece, mas isso porque o autor não subestima seu leitor, todas as pistas estão lá, dispersas pro leitor completar o conto). O tom poético, as lacunas, a trama minunciosamente arquiteta, enfim, achei um ótimo conto, desses que a gente lê, relê, e ainda quer ler mais uma vez...

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    1. Larissa, não podemos todos gostar do mesmo.
      Como leio muitos contos e também FC com alguma regularidade, procuro algo mais. Não estou a dizer que tu não sejas exigente (talvez até mais que eu) mas a mim o conto não satisfez.
      Obrigada pelo comentário. :)

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  3. Ah, gostei bastante também do "Zé", de Manuel Alves (concordo com tudo que você disse sobre ele!).

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