quarta-feira, 24 de março de 2010

Lolita

"Lolita" de Vladimir Nabokov (Biblioteca Visão)

Sinopse:
Humbert Humbert é um professor de meia-idade e Lolita, a filha da sua senhoria, é uma jovenzinha de doze anos perturbadoramente bela e provocante. Com estes elementos foi contruída a história da obsessão amorosa mais famosa do século XX, um apaixonante romance de amor que abala todas as consciências ao destapar a poderosa e «perversa» atracção que podem exercer as denominadas «ninfitas». Este itinerário desenfreado pelas estradas da loucura e da morte, que mergulha nas paixões humanas até as levar ao extremo, é também um retrato devastador dos Estados Unidos de meados dos anos cinquenta, com os seus horrores suburbanos e a sua triunfante subcultura.

Opinião: 
Este é um daqueles livros que se percebe bem como se tornou um clássico.
Uma narrativa empolgante e envolvente, uma história que chocou ou marcou gerações, um livro intemporal, na medida em que se poderia passar nos dias de hoje e não é difícil de o imaginar.
A escrita do autor é subliminar, e confesso que foi isso que me manteve agarrada ao livro e me fez não desistir dele quando a história começou a perder interesse.
O facto de o livro ser escrito como uma memória torna-se arrepiante. O autor conseguiu exprimir tão bem a personagem de H.H. que confesso ter sido quase impossível não o sentir como uma biografia arrepiante, um olhar pormenorizado para a mente de um pedófilo. O facto de ser contado na primeira pessoa tornou tudo muito mais vivo, muito mais palpável e confesso que tive muitas vezes vontade de deixar a leitura porque me deixava "suja".
O princípio arrastou-se um pouco, mas confesso que percebi a necessidade para tal narrativa e foi interessante ler o que o H.H. pensava serem as razões que o levaram a tornar-se no que era.
O problema do livro começou pouco depois do meio, onde a história se arrastou, a escrita divagou por pormenores, pessoas e momentos que não faziam evoluir a história e que se tornavam entediantes. À medida que a narrativa avançava eram cada vez mais constantes estes momentos de não-evolução que massacraram a história e tornaram a leitura enfadonha. Isto destruiu a minha vontade de ler o livro, mas persisti porque queria saber o fim (e não sou de saltar parágrafos embora a vontade fosse muita). No final, a narrativa voltou a fluir consistente, mas ainda assim o autor perdeu um ou dois capítulos a explicar coisas sem qualquer importância e que, mais uma vez, eram perfeitamente dispensáveis.

Uma das coisas que mais me incomodou na leitura, e talvez fosse culpa da edição que li, foram as incontáveis expressões em Francês que apareciam ao longo de toda a história. O problema não era estarem em francês, pois este uso é justificado, o problema foi que não traduziram (em nota de rodapé ou parêntises) o que perturbou muito a minha leitura já que não sou grande conhecedora da língua francesa, embora tenha algumas bases. Este não é primeiro (nem, infelizmente, o último) livro que leio que cai neste erro. Isto, a meu ver, é uma falta de respeito para com o leitor que não tem de saber línguas para ler algo editado em Português. Como disse, justifica-se que mantenham as expressões na língua original, mas em respeito ao leitor e para ter uma boa tradução, devem fornecer a tradução, mesmo que perca algum sentido, para que o leitor que não sabe línguas possa compreender o que está a ler. Nunca compreendi porque tantos teimam em quebrar esta regra básica da edição em português. Não é óbvio que se compro a edição portuguesa é porque quero ler em português? A mim parece-me claro como a água mais cristalina, mas para muito editores parece que não é bem assim.

Em suma este é, definitivamente, um clássico que aconselho todos a lerem (ou pelo menos a tentarem). Com uma escrita fantástica e uma profundidade assustadora na mente de H.H., mas que peca no desenvolvimento daquela que, a meu ver, devia ser o foco central: a Lolita. Compreendemos quem é e porque faz o que faz, mas aos olhos daquele que diz amá-la tanto, ela não chega a ser compreendida como deveria de ser.
Pecando por se arrastar, este livro não deixa de ser uma leitura obrigatória.

Tradução de Fernanda Pinto Rodrigues

Capa (Ilustração) de André Kano


Nota: Esta leitura foi feita no âmbito do Desafio Literário 2010

14 comentários:

  1. Este foi um livro que muito gostei de ler o ano passado :)
    Não sei se porque a leitura foi feita no ambito de uma leitura conjunta na estante dos livros (forum) o que permitiu que houvesse bastante "discussão" sobre...
    Concordo quando dizes que a certa altura do livro a leitura começa a ser mais maçadora, também achei.
    O narrar na primeira pessoa e a forma como o faz, leva a pensar se Lolita não terá sido uma paixão de V. N ?? Também pensei nisso :)
    O que mais me comoveu foi realmente o final, quando HH encontra a "sua" Lolita naquela pobreza. O chorar dele com as mãos em concha comoveu-me, porque na mente dele, ele a amava realmente.
    Um abraço :)

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  2. Nunca li e nem nunca me chamou a atençao,
    ate porque olhei o filme uma vez e nao gostei.
    Li a resenha de um dos participantes que
    escolheu o mesmo livro e nao me motivou muito.
    Mas a sua resenha foi bem legal e bem mais animadora
    ate to pensando em mudar de opiniao e ler. XD

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  3. Paula, sim o final também me comoveu, mas pela pobreza da Lolita e não pelo sofrimento dele porque o amor dele é o tipo de amor doentio que condeno e ele só me metia nojo com tudo o que fazia.

    Kézia, pelo menos poderia tentar, pois confesso que não acredito que toda a gente tenha "estômago" para o ler, mas é sem dúvida um clássico.

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  4. Nusss, vendo esse livro agora me lembro que já tem uns cinco anos ou mais que o lí...
    E sério, me lembro de pouquissimas coisa... foi bom relembra-lo!

    Beijos, Mirelli

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  5. Nunca senti grande curiosidade por ler este livro. Mas se dizes que é bom e se está assim tão bem escrito, vou começar a ver se o arranjo a um preço bacano, numa feira ou assim. :)

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  6. Bah, nunca me chamou a atenção. Este tipo de história é-me quase impossível de digerir. Não faço ideia porquê (/end sarcasm).

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  7. Obrigada a todos pelos comentários.
    Slayra, compreendo bem o que dizes, até porque dizia (e continuo) a dizer exactamente o mesmo. Se não fosse um clássico e se não o tivesse cá em casa para ler, provavelmente nunca pegaria num livro com um tema central tão nojento, e aliás, isso condicinou muito a minha leitura. Várias vezes fechei o livro porque sentia naúseas.

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  8. Sabe que eu não gostei desse livro? Pois é... veio de Nabokov e de Doutor Jivago minhas restrições à literatura russa... que venho tentando superar lendo Tchekov e Gogol... não é tanto pela estória (que é realmente dificil de aceitar), mas muito pela forma de escrever. Sei lá... kkkk....
    Beijos

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  9. Também o li para o desafio, e apesar de não ter comentado na minha resenha, tb fiquei boiando nas citações em francês. Não gostei do livro e acho q não repito essa leitura. Mas é interessante ver q H.H. justifica seu comportamento e por 1 milésimo de segundo vc sente como se pudesse compreendê-lo e perdoá-lo.

    Abraços e Deus e abençoe!!!!

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  10. Li quando era adolescente e achei bem maçante sim, apesar de ser interessante. Gostei muito da sua resenha.

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  11. Espero ter a sorte de lê-lo ainda. Sabe, Ana, a experiência de leitura dos clássicos tem sido reveladores. Ao mesmo tempo que nos parecem inéditos face à nossa cultura moderna que vivemos; também parecem releituras. Excelente participação a sua!

    Beijocas

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  12. Também li Lolita na adolescência, e pouco lembro do livro. Mas acho que é uma obra que merece ser relida, agora com os olhos de adulta. Mas não creio que vá simpatizar com o HH não...

    Beijos!

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  13. Cristine, simpatizar NUNCA! Mas reler, talvez seja boa ideia. Sinceramente acho que nunca conseguiria ter lido este livro na adolescência, pois certamente ficaria traumatizada. Só de pensar fico arrepiada.

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  14. Bem a resenha ficou ótima, mas ainda não sei se quero ler, mas como esta no meu skoob, de repente eu crie coragem e o leia um dia.....beijokas elis!!!

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