"O Deus das Pequenas Coisas", de Arundhati Roy
Opinião:
Este
livro tem uma das prosas mais bonitas que eu li nos últimos tempos. Até
as cenas mais banais parecem interessantes e a autora sabe colocar
detalhes em todos os cantos. Já agora fica também uma nota ao excelente
trabalho de tradução.
A escrita é tão bela quanto original e foi
ela que me manteve agarrada até ao fim. No entanto se há algo a apontar
aqui será ao facto de, no início, me ter sido bastante difícil
distinguir as personagens, muito provavelmente pelo facto de os seus
nomes serem pouco familiares. Coisa que se foi dissipando e
desaparecendo à medida que o livro avançava.
No entanto aquilo que torna o livro belo é também o que o torna um pouco maçador. A escrita foca-se em cenas morosas e que parecem, por vezes, não ter impacto na trama central, embora eventualmente se perceba que, na realidade tudo está interligado. Se o texto se focasse um pouco mais talvez não fosse tão pesado.
Neste livro existem
cenas muito fortes e marcantes, coisas que ficaram comigo bem depois de
as ler. Há um impacto das letras, das implicações, da veracidade, na
naturalidade das coisas que acontecem em todo o lado e que, na verdade,
saltam a barreira da cultura indiana que aqui é tão ricamente contada. É doloroso ver a espiral de acontecimentos que levam a algo que o leitor já sabe que vai acontecer quase desde o início do livro.
Esta história está cheia de personagens ricas mas a que mais me marcou foi, sem dúvida, Baby Kochama. Uma criatura mesquinha e intriguista que foi a ruína de todos, até de si mesma (talvez especialmente de si mesma). também Ammu e Velutha me intrigaram, por razões totalmente diferentes e fascinantes.
Houve no entanto uma coisa em especial que eu não gostei: o desfecho dos gémeos.
Por outro lado adorei como a autora escolheu fechar o livro numa cena linda e feliz, mesmo quando o leitor sabe que, na verdade, aquele não é o final da história.
Em suma, amei a prosa e as personagens mas acho que o livro teria ganho com menos cenas arrastadas. Vale a pena ler, para quem gosta de apreciar o lirismo das palavras.
Sinopse:
Rahel, uma menina de sete anos, vive com o seu irmão gémeo, Estha, e a sua mãe, Ammu, divorciada de um bengali, numa pequena cidade, Ayemenem, do estado indiano de Kerala. Completam a família, que vive com dificuldades e penúria, a avó, o tio e a tia-avó. Têm uma fábrica de pepinos em conversa que gera um conflito com os comunistas. A família espera a chegada de Sophie Mol, a prima meio-inglesa das gémeas. Ammu viverá um fatídico amor louco pelo intocável Velutha. São as histórias de uma saga familiar que se desenrola numa época conturbada, de profundas e traumáticas mudanças na sociedade indiana.
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