sexta-feira, 27 de março de 2015

A Morte de Ivan Ilitch

"A Morte de Ivan Ilitch (Ivana Ilyicha)", de Lev Tolstoi (Europa-América, Relógio D'Água, BIS Leya, etc.)

Antes de mais, será que posso dizer que a falta de coesão na tradução do nome do autor me dá dores de cabeça? Mas afinal é Liev Tolstói, Léon Tolstói, Leão Tolstoi, Leo Tolstoy ou Lev Tolstói? Decidam-se! Não há consenso! Já para não falar que nem o título desta obra tem tradução coesa- Para uns é "(...) Ivan Ilitch", para outros "(...) Ivan Ilych", ou ainda "(...)  Ivan Iliitch)", a par de mais umas quantas variações.
Eu imagino que o russo seja difícil de traduzir mas deveria haver um consenso, pelo menos nos nomes próprios.

Mas falando agora do que interessa: a obra em si.
Este é um livro que eu acredito que tocará todos os leitores de alguma forma. Afinal que tema poderá ser mais universal que a morte e a nossa impotência perante a sua inevitabilidade?
A mim tocou-me por me fazer pensar em pessoas queridas que já partiram, e noutras que ainda estão vá, felizmente, mas que talvez se sintam um pouco como Ivan Ilitch se sentiu nas suas últimas semanas de vida. O vazio, a solidão, a raiva, a incompreensão.

No início esta história parecia uma crítica à sociedade, aos que se fazem de vítimas no funeral dos outros, aos calculistas que estão já a pensar em possíveis promoções, antes mesmo de o funeral acontecer. E acaba por ser isso mesmo, nos primeiros capítulos, e a crítica é tão acutilante como subtil. E funciona, e marca, e cria uma raiva no leitor porque sabemos que sim, existem parasitas na sociedade que são assim.
Mas depois o texto regressa atrás no tempo e mostra-nos a vida de Ivan Ilitch, e a sua espiral descendente para a morte. E aqui a prosa faz aquilo que muitos professores modernos de literatura dizem que não se deve fazer: conta, em vez de mostrar. E será isso relevante?
Pois certamente vos posso dizer que não tira qualquer mérito à obra.
Muitos trechos me tocaram profundamente, apertaram o peito e fizeram reflectir. Na morte, no egocentrismo da situação e consequente repulsa de e para com todas as outras pessoas que não estavam a passar pelo calvário do protagonista. a sua visão possivelmente distorcida das acções dos outros, a sua percepção quase lunática de que ninguém realmente estava preocupado com ele. Seria verdade? Ou seria apenas a sua percepção da realidade?

Em suma, A Morte de Ivan Ilitch é uma obra que merece ser lida, pensada, reflectida. Recomendo sem reservas, pois acredito que terá algo a dizer a todos os tipos de leitores.

Nota: Esta obra encontra-se no domínio público e pode ser lida, de forma gratuita, na língua original (russo) e noutras línguas também, Eu li em ebook, numa versão disponibilizada pelo FeedBooks.

Sinopse: 
Os caminhos da solidão ou os caminhos que levam um homem à solidão. Será que a solidão não passa de um estado de alma? Ou os elementos externos à nossa vontade poderão provocar a verdadeira solidão, a mais real e completa, aquela que acontece e se esconde no círculo da família e da sociedade? Neste intenso estudo sobre a alma humana e uma das suas mais assustadoras condições, a solidão, Leão Tolstoi volta a imprimir o seu cunho de mestre como leitor e crítico do ser humano, transformando "A Morte de Ivan Ilitch" numa das mais belas e comoventes obras sobre este tema.  
Aclamada como uma das maiores obras-primas sobre a temática da morte, esta é a história de Ivan Iliitch, um juiz respeitado que, apercebendo-se da morte próxima, se interroga sobre as suas escolhas, percurso de vida e a mentira em que vive.

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