Sinopse:
Quando um grupo de feiticeiros renegados decide despertar uma personagem maldita da história portuguesa para cumprir uma profecia de séculos, Baltazar Mendes (investigador policial a quem acusaram de loucura!) vê-se envolvido contra sua vontade num conflito mortal em que nem todos os oponentes são humanos. Tudo dependerá de si porque, se a profecia se cumprir e o desejado regressar, o fim chegará numa manhã de nevoeiro. Uma aventura frenética, metade thriller, metade fantasia, que apresenta uma nova e talentosa voz do fantástico nacional.
Acontecem coisas sinistras pelas ruas de Lisboa. Coisas que nos escapam ou que preferimos ignorar por falta de explicação. Também Baltazar Mendes as ignoraria, se pudesse, e talvez assim não se visse tristemente reduzido de inspector policial a sujeito compulsivo de uma avaliação psiquiátrica para determinar se é ou não um louco assolado por delírios mirabolantes e um perigo para a sociedade. Mas sabe bem que não são delírios. A culpa é do Sr. Salcedo, um investigador paranormal que insiste em arrastá-lo para um submundo de que não quer fazer parte. E tudo porque Baltazar tem um dom. Ou uma maldição...
Opinião:
O género da Fantasia Urbana tem vindo a crescer até mesmo em Portugal, se
bem que lentamente (pelo menos em comparação com estrangeiro). Apesar de já
termos alguns exemplos mais genéricos, Renato Carreira usou o modelo mais
'conhecido' nos USA, como sendo, um mundo muito semelhante ao nosso, onde seres
sobrenaturais vivem mais ou menos escondidos dos comuns mortais, envolto numa
trama de mistério/policial que tanto pode ser lido como stand-alone (história
independente) ou como parte de uma série (perdoem-me a definição um pouco genérica).
Nesse contexto o autor saiu-se bem. Temos um mistério intenso (se bem que
em alguns momentos bastante previsível), uma excelente exposição de um mundo
credível com criaturas de toda a espécie e bem enquadradas. Neste último ponto,
devo dizer que fiquei bastante agradada, não só pela diversidade mas também pela forma
como nos foram apresentados os diferentes seres sobrenaturais e como se
enquadraram na sociedade.
A nível de personagens também as temos para todos os gostos. No entanto
sinto que quase nenhuma foi explorada para mostrar todo o seu potencial, muito
menos o detective Mendes, que apesar de ser o protagonista e narrador ficou-se
apenas pelo superficial. O que o motiva? Do que gosta, do que não gosta? Qual o
seu passado? Nada disto é respondido e somos apresentados apenas
superficialmente a uma personagem que poderia ter várias camadas de interesse,
mas que no fim parece não ter grande profundidade (talvez isto seja esclarecido na prequela?).
O mesmo sucede com quase todas as restantes personagens, exceptuando talvez
o Acúrcio e o vampiro-chefe, Zacuto (não me recordo ao certo do nome), assim como o
colombiano cujo nome se me escapa de momento também (eu sou péssima com nomes).
Pois apesar de muito ficar por contar em relação a estes também, o que nos foi
demonstrado é interessante o suficiente para os destacar mesmo em relação ao
protagonista.
O que não quer dizer que não existam mais personagens curiosas (a senhoria, por exemplo :),
simplesmente não marcam tanto.
O enredo em si é interessante e tem vários pontos bons como algumas pistas
bem colocadas, que de início parecem insignificantes mas mais tarde se mostram
importantes e no geral a trama tem um compasso excelente que mantém o leitor
agarrado ao livro.
No entanto também é um pouco previsível. E se em certos momentos isto se
nota ser propositado, noutros não. Isto deve-se um pouco também ao
estilo narrativo da obra. Directa, sem grandes floreados, mas também sem grandes
emoções que não o sarcasmos que escorre um pouco por todas as páginas (e que
muito me agradou).
As cenas de (suposto) romance estavam cruas e frias, quase se pode mesmo
dizer que 'sem sal'. Não digo que isto não tenha sido propositado, mas tornou
demasiado óbvio o desfecho de tal 'relação'.
Por outro lado, algumas das
cenas de acção estavam escritas num compasso estranho e perdiam aquela sensação
quase sufocante que deveriam transmitir. Muito disto se devia ao facto de o
narrador ter pensamentos bastante extensos a meio de ditas cenas. Claro que
todos sabemos que um humano pensa mais rápido do que fala, daí que seja
plausível ter um certo número de pensamentos enquanto corremos pelas nossas
vidas, mas até criar um monólogo interior longo vai um grande passo e
simplesmente não parece credível. Isto, felizmente, não
acontece sempre, mas das vezes que aconteceu quebra a 'adrenalina'.
Fora isso, todas as cenas de acção estão muito interessantes (tanto a nível
de desenvolvimento como de execução) e algumas destacam-se positivamente.
A prosa do autor é, por um lado excelente (o sarcasmo e uma certa
desconexão em relação aos acontecimentos são fantásticos) e por outro muito ...
distante. Parece que estou a contradizer-me, mas uma coisa é distanciar a
narrativa o suficiente para não ser demasiado carregada de emoções e outra
coisa é retirar as emoções de todo, criando uma prosa, em certa medida, carente
de carisma.
Directa e ainda assim rica (especialmente nas descrições e explicações, que
não são monótonas), este é um livro que se lê com ligeireza, mas que tinha potencial
para ser ainda melhor se o autor não fizesse da prosa algo tão desassociado dos
acontecimentos.
Em suma, é um livro que vale a pena ler, com uma história curiosa, boa
exploração do conceito e dos 'mitos', assim como uma prosa sarcástica e adequada
ao estilo da trama. Fica a vontade de ver uma sequela publicada em breve e
também de ler a prequela que o autor disponibiliza gratuitamente no seu site
(O Indescritível Sr. Salcedo).
Capa (Tiago da Silva), Design e Edição:
Não é segredo que gosto muito dos trabalhos do Tiago da Silva e esta capa não é excepção. Acho que está em perfeita harmonia com o tom do livro, embora a inclusão da rapariga na capa (apesar de interessante) ser ... supérfula, ou não fosse ela uma das personagens menos integrantes na trama.
Como a editora nos têm habituado, o design interior está simples e eficiente, assim como a edição, sendo que não notei gafes no livro.
Nota: Este livro foi-me emprestado pela Ana Filipa Dias (Adeselna Davies). Obrigada!
As pessoas devem estar a pensar "Esta arranjou cunha com a Adeselna XD Deve estar a pagar-lhe bem" Sinto-me tão famosa!
ResponderEliminarNão me importava nada de ter muitas cunhas para arranjar livros. XD (não que me possa queixar porque já me deram às dezenas e emprestaram muitos)
ResponderEliminarE obrigada pelo empréstimo. Espero que desfrutes dos que te emprestei.
Gostei muito do livro, precisamente por causa do sarcasmo. E porque foi o primeiro do género que li, a minha estreia em fantasia urbana =)
ResponderEliminarOlá!
ResponderEliminarSe não lesse a tua opinião nunca pegava no livro. Acho que vou ler a prequela no site do autor e depois pego neste.
(tenho uma tag para ti-> http://chmeianoite.blogspot.pt/2012/03/tag-11-perguntas.html)
bjs**
Sim a capa é muito gira :)
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