domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Vingança do Lobo

"A Vingança do Lobo (Crónicas Obscuras 1), de Vitor Frazão (Chiado Editora)

Sinopse:
No Parque Nacional de Olympic, sobre um crepúsculo enublado, dois campistas são atacados. Dias depois, em pleno Parque Central de Nova York, três corpos aparecem mutilados, alimentando a imaginação dos media. O que eles não sabem é que ambos os crimes são mais do que aparentam. Dez anos após ter desertado do seu clã, Lance "Meia-Raça" Fenrison, um lobisomem híbrido, volta à cidade Nova York para se vingar do homem que lhe matou a mulher e a filha. No outro lado do espectro está Isabel Martínez, uma agente da polícia, que ao encontrar-se acidental com Lance é atirada de cabeça para uma realidade que nem sonhara existir, levando-a a duvidar da própria sanidade. O mero regresso de Lance à Grande Maçã acaba por ter mais repercussões do que este poderia imaginar e, sem dar por isso, o licantropo vê-se alvo não só dos Obliteradores, uma sociedade dedicada ao extermínio de todas as criaturas paranormais, como do seu próprio clã. Vale-lhe uma inesperada e invulgar aliada, Eleanora "Lâmina Sangrenta" Reeve, uma vampira atípica, que tem uma única e ambiciosa missão: unir todas as divergentes espécies de Ocultos, o nome colectivo dados aos seres sobrenaturais, contra os Obliteradores que insistem em caçá-los. Uma obra com sentimentos profundos, quem sabe apaixonante para quem lê. Palavras de Amor são um capítulo de uma vida... Obliteradores obcecados e inflexíveis; lobisomens belicosos e tribalistas; vampiros inteligentes e intriguistas; feiticeiros poderosos e vulgares humanos que vivem as suas vidas, ignorando que em plena Nova York do século XXI o sobrenatural continua tão forte como em qualquer supersticioso e atrasado canto do mundo medieval.

Opinião:
Demorei quase um mês a ler este livro, mas não porque ele seja chato ou moroso, bem pelo contrário. O problema foi mesmo a falta de tempo para ler e o facto de que quando lia estava cansada demais para conseguir ver mais que dois capítulos.
Mas falando no livro, este primeiro volume, do que promete ser uma saga, apresenta-nos um mundo onde os Ocultos (seres sobrenaturais) vivem entre os humanos sem que estes saibam da sua existência, e são caçados, como animais, pelos Obliteradores.

A nível de enredo, temos uma história bem encadeada, com várias tramas paralelas que acabam por convergir. O livro tem muita acção, o que certamente agradará a alguns. Pessoalmente não desgostei, até porque o autor tem queda para escrever cenas de acção, sem se estender demasiado. No entanto a trama em si é bastante previsível, muito por culpa do estilo narrativo do autor, que não deixa nada por dizer o que faz com que o leitor consiga ver o que está para vir muito antes do momento crucial. Isto não me agradou especialmente, pois gosto de ser surpreendida e que o autor assuma que o leitor é esperto e não precisa que lhe digam tudo para perceber.
Por outro lado o autor apresenta-nos um mundo pensado ao pormenor. A nível de world-build (construção do mundo) está excelente e o leitor consegue realmente compreender como funcionam as coisas para os Ocultos. Só faltava um pouco mais de conhecimento sobre a comunidade dos Obliteradores.
No entanto muita informação foi mal entregue acerca do 'mundo', quase como info-dump (despejo de informação) sob a forma de monólogo de algumas personagens. Não aconteceu muitas vezes, mas das que aconteceu, sentiu-se.

Neste livro são-nos apresentadas dezenas de personagens e todas parecem relevantes, pois partilham do mesmo foco. Se por um lado isto é excelente pois temos oportunidade de conhecer diferentes personalidades, também acontece de nenhuma se sobressair. Não que isto seja mau, até porque as personagens são sem dúvida o ponto forte do livro. Temos-las para todos os gostos, de todos os feitios.
Os meus favoritos acabaram por ser a Eleanora Reeve e o Vik Fenrissky, mas como disse, vários foram os que tiveram um destaque igual.
Não temos personagens perfeitas, o que é excelente para as tornar mais credíveis, no entanto no lado dos vilões foi-nos apresentada uma personagem completamente maléfica, o que a tornou uni-dimensional em relação às restantes. Refiro-me ao Logan (e também ao Wendigo, em parte). Nesse aspecto acabou por não ter tanto impacto como, por exemplo, o Paul (que apesar de ser uma besta mostrava outra faceta com o melhor amigo, Green). Fora esses, achei que a nível de personagens temos "pano para mangas".

Em relação à prosa do autor, devo dizer que é bastante efectiva, especialmente nas cenas de acção, mas também nos diálogos. Contudo, houveram duas coisas que me incomodaram ao longo de todo o livro: 1) A não linearidade do tempo narrativo (na mesma frase usava o presente e o passado); 2) O uso de tanto o nome próprio como o sobrenome e ainda alcunhas em quase todas as personagens. Em diálogo é normal que diferentes pessoas tratem a mesma personagem de diferentes formas, mas na narrativa o autor deve usar sempre o mesmo nome, especialmente quando tem tantas personagens, para não alienar o leitor.
Por vezes também aconteceu de achar que o autor usava muito o "tell"(diz) e pouco o "show"(mostra), ou seja, em vez de mostrar emoções, dizia-as, o que dificultava a assimilação. Não foi algo que acontecesse constantemente, mas em determinadas situações isso impunha-se.

Em suma, foi um primeiro livro bastante competente a nível narrativo, com excelentes personagens e um 'mundo' muito bem pensado e apresentado. No entanto há também muito a melhorar e não é possível terminar sem dizer que, uma revisão mais atenta e cuidada, assim como um par de bons beta-readers teriam feito maravilhas a este livro, fazendo-o talvez suplantar-se ao pouco mais de mediano que acabou por ser.
Fica ainda a vontade de ler a sequela, agora que tantas personagens interessantes me foram apresentadas.

Capa (Rui Gaiola), Design e Edição:
Gosto muito da capa. Apesar de genérica é bastante apelativa e transmite bem o tema do livro.
A nível de design interior, nada a apontar contra. Trabalho limpo e eficaz.
O grande senão deste livro está na edição. Mais concretamente na falta dela! Não houve, claramente, editor algum a rever este texto. Isto porque, qualquer leitor (praticado ou não) poderia apontar os muitos erros que mancham as páginas deste livro. Mesmo sabendo à partida que o livro tinha muitos erros, e dessa forma estando já mentalizada para os ignorar, foi de todo impossível fazê-lo. Erros esses que seriam facilmente corrigidos por um editor que se prestasse a ler o texto. Maioritariamente palavras separadas por hífen que nunca deveriam ter um hífen e claro, o problema acima mencionado sobre os tempos verbais incongruente ao longo do texto. Não há desculpa possível para a quantidade de erros ortográficos que a editora (mas antes disso, também o autor) deixou passar para a impressão. O leitor quando lê um livro quer focar-se na história e nas personagens, não nos erros. E como disse, qualquer leitor poderia ter apontado os erros. Porque foi então um editor deixar isso passar em branco?

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Nota: Este livro foi-me enviado pelo autor, Vitor Frazão.
Nota 2: Amanhã (13-02-2012) vou publicar no meu blog Asas da Mente alguns desenhos que fiz de personagens deste livro. Passem por lá!

Booktrailer:

1 comentário:

  1. Ana,
    já tinha este livro na minha lista de compras...
    Agora fiquei com mais vontade de o ter!
    ;)

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