Sinopse:
O primeiro contacto com a
prosa eficiente e económica, directa, de Telmo Marçal introduz-nos de,
forma imediata, nas regras do mundo em que viemos cair: Estamos
realmente na jaula da fera encurralada, mas eis que, afinal, somos nós
essa fera.
(…) Há, no entanto, um motivo legítimo para entrarmos assim incautos: não temos por hábito encontrar este tipo de prosa esta forma de pensarmos o mundo, na nossa literatura portuguesa.
(…) Somos perfeitos na caricatura mordaz. Mas quando se trata de construir mundos racionais, ainda que fechados e claustrofóbicos como os que aqui encontrarão, de imaginar uma alternativa ao nosso presente ou mesmo ao passado histórico idolatrado por este povo (ainda que não passe de uma versão expurgada dos pecados cometidos), quando, afinal, nos negam o romance das coisas não temos grande experiência… A nossa ficção científica, quando se manifesta, apropria-se normalmente de universos alheios que encontrara nas leituras dos romances estrangeiros; quando em raras ocasiões se aventura no caminho da especulação social, fá-lo timidamente ou assente em abordagens subjectivas ou puramente pessoais.
(…) em Telmo Marçal a opressão é total, implacável, e não há forma de escapar à intensidade ao que o momento presente nos impede de olhar para o futuro e nos força a sobreviver, a não ser pela ocasional ironia.
(…) Há, no entanto, um motivo legítimo para entrarmos assim incautos: não temos por hábito encontrar este tipo de prosa esta forma de pensarmos o mundo, na nossa literatura portuguesa.
(…) Somos perfeitos na caricatura mordaz. Mas quando se trata de construir mundos racionais, ainda que fechados e claustrofóbicos como os que aqui encontrarão, de imaginar uma alternativa ao nosso presente ou mesmo ao passado histórico idolatrado por este povo (ainda que não passe de uma versão expurgada dos pecados cometidos), quando, afinal, nos negam o romance das coisas não temos grande experiência… A nossa ficção científica, quando se manifesta, apropria-se normalmente de universos alheios que encontrara nas leituras dos romances estrangeiros; quando em raras ocasiões se aventura no caminho da especulação social, fá-lo timidamente ou assente em abordagens subjectivas ou puramente pessoais.
(…) em Telmo Marçal a opressão é total, implacável, e não há forma de escapar à intensidade ao que o momento presente nos impede de olhar para o futuro e nos força a sobreviver, a não ser pela ocasional ironia.
Opinião:
Este livro é uma antologia de contos do autor, por isso antes de tudo fica uma opinião separada de cada uma das histórias curtas.
Os virtuosos
Está aqui a prova que em poucas palavras se podem mostrar personagens tão reconhecíveis quanto originais. Usando de estereótipos e de sarcasmo literário, é-nos contada uma história aparentemente simples, através da vida das mais diversas personagens.
Um excelente início para a antologia.
O paciente
A forma como nos foi apresentado o sistema dos hospitais, foi bastante efectiva e a visão do contraste a meio do conto, fez-me rir por mostrar que, quando habituados ao pior, se enfrentarmos logo melhor a nossa primeira reacção é estranhar e até rejeitar. O autor conseguiu mostrar bem alguns dos pilares da sociedade que apresenta, em poucas palavras.
O pico de Hubert
Gostei muito das histórias individuais, mas faltou-lhes algo. No geral não foi tão bom conto como os anteriores, talvez pela frontalidade narrativa.
O desbocado
Todos os contos do livro tê uma forte 'crítica' social, mas talvez este seja o mais directo. É impossível não reconhecer neste uma verdade da politica (quer nacional, quer internacional). Dá que pensar.
A saga do homem cavalo
Uma história brilhante cujo final não podia ser mais perfeito. Afinal, um cão açoitado dificilmente se afastará da casa dos donos quando a corrente se quebra e a liberdade está ao alcançar de uma 'pata'.
A amizade
Não foi dos meus favoritos, talvez por parecer, em momentos, divagar um pouco, mas não deixou de ser uma boa leitura com uma personagem central bem explorada e um fim mais que merecedor.
Os cofres de Kalvbard
Uma história inteligente e perpicaz, mas cuja primeira parte não encaixa com as restantes, parecendo 'saída do nada' e sem grande impacto no resto da história (apesar de, autonomamente, ser interessante).
Eu sou um carrasco
Apesar de ter gostado da voz narrativa, achei a história em si um pouco fraca, apesar de curiosa e, mais uma vez, com um final merecedor.
Um homem de carreira
Com uma boa sequência de acções, temos uma história muito curiosa e mais uma vez certeira na sua 'crítica'. O final deixou-me um pouco intrigada, mas foi satisfatório.
Reconversão de excedentes
Apesar de a trama ser interessante e o desenrolar das cenas ser mais que bem conseguido, o fim não me soou tão verossímil como os restantes. Daí que apesar de bom, este conto deixou um pouco a desejar no final (para mim, talvez a outros agrade).
Homem das cavernas
As descrições do sistema das cavernas esteve bastante bem conseguido, mas as personagens não me chamaram tanto como outras e a história foi um pouco fraca, muito por culpa da pressa em que nos é contada. Um conto mais longo teria talvez funcionado um pouco melhor.
Herói da causa
Este conto, mais do que os outro, pareceu misturar um pouco de toda a informação que os anteriores tinham providenciado. nesse aspecto foi bastante bem conseguido, mas em termos de personagens nenhuma se sobressaiu, de tal forma que a certa altura as confundia todas (até porque alguns nomes eram bastante parecidos) e nem eram assim tantas. No entanto, mais uma vez temos um fim brilhante!
Em suma, gostei bastante desta antologia e terei todo o gosto em seguir outras publicações do autor.No entanto tenho de dizer que, a partir do meio do livro, algo me começou a incomodar: O autor usa o mesmo 'tom' em todas as histórias, quase sem fazer grande diferenciação entre as personagens ou a própria história enquanto 'voz'. Daí que, ao fim de alguns contos a prosa se torne um pouco monótona e previsível. Certamente se tivesse lido os contos esporadicamente isto não me afectaria, mas lido seguido isto nota-se e torna-se restrictivo, especialmente quando o autor consegue brilhar no seu 'sarcasmo' e especialmente nos seus finais.
Outra coisa que não gostei particularmente foi o uso de palavras e coloquialismos que, vistas num cenário de ficção científica futurista, simplesmente não encaixam. As expressões mudam com o tempo, especialmente as mais 'banais' quase da gíria popular, por isso é difícil 'acreditar' que num cenário como o que nos é apresentado, as personagens usassem certas expressões correntes.
Fora isto é um bom livro e aconselho os fãs de ficção científica a lê-lo e mesmo os que olham para o género 'de canto' talvez seja uma boa aposta, sendo que os temas aqui retratados são bastante actuais (ou poder-se-á dizer intemporais)
Capa, Design Edição:
Quando vi a capa pela primeira vez, gostei bastante e continuo a gostar mas agora que li o livro não sei até que ponto se encaixa bem na antologia. Não que não faça sentido, mas havia tanto a explorar no mundo que o autor nos apresenta, que esta capa parece ... pouco.
O design interior é singelo mas eficaz, sem nada de gritante a apontar. a edição também parece competente, embora logo nas primeiras páginas tenha um pequeno erro.
Nota: Este livro foi-me emprestado pela Ana Ferreira. Obrigada!