"Os guardiães da noite (Mundo dos Guardiães 1)" de Serguei Lukianenko (Editorial Presença)
Sinopse:
Este é o primeiro volume de uma trilogia cuja trama se desenrola em Moscovo sobre uma raça de seres sobrenaturais, com um tipo de magia necromante, que habita lado a lado com os humanos. Dentro desta raça de feiticeiros podemos distinguir as Forças da Luz e as Forças do Mal que se digladiam na conquista da cidade. Anton, dedicado guardião da Noite, patrulha a capital, tentando protegê-la das trevas e é então que se apaixona por Svetlana, uma jovem médica que vive sob uma maldição. De que lado ficará este jovem com poderes especiais: do lado da luz ou das trevas? Três histórias sequenciais contadas com a mesma personagem principal dão colorido a um texto original, que faz uso do nonsense e de variantes fantásticas que elegeram a obra e o filme ao estatuto de bestseller na Rússia.
Opinião:
Desde que este livro foi editado em Portugal, que tinha muita vontade de o ler. Felizmente, a simpática e talentosa AnaCSilva (tem um nome muito semelhante ao meu), ofereceu-me o livro durante uma das nossas NaNo-meets. [Obrigada!]
Confesso que no início da leitura senti um certo desconforto que não conseguia perceber na totalidade. Penso que tenha sido da tradução, que nas primeiras páginas era verde e insegura, o que me impediu de gostar logo à partida deste livro. Só que, à medida que a leitura foi avançando, comecei a gostar mais e mais das personagens, do mundo fabuloso que o autor criou, de uma infinidade de pequenas coisas que tornaram a leitura exigente, mas prazerosa.
O que mais gostei neste livro foi sem dúvida a ambiguidade Bem vs Mal. Logo no início percebemos que existem duas facções de Seres Diferentes (pessoas com poderes, capazes de entrar na Penumbra e de viver virtualmente para sempre), mas o que me atraíu foi o facto de o lado do Bem não ser totalmente desprovido de culpa e de, por vezes, parecer mais cruel e sem escrúpulos que o próprio Mal. Posso até dizer que, se tivesse de escolher, possivelmente ia para o lado do Mal, já que o Bem se rege por mentiras e dissmulações.
Adorei as jogadas inteligentes do autor e especialmente as muitas dúvidas que assolam o Anton, que é umas das personagens mais interessantes que já tive oportunidade de ler. A verdade é que ainda não sei se amo ou odeio o Anton. Não consigo justificar muito do que ele faz e pensa, mas ao mesmo tempo consigo entendê-lo e até apoiá-lo. O autor fez um excelente trabalho na personagem dele e nas restantes, que conseguem ser muito bem desenvolvidas e intrigantes.
Uma personagem que que não gostei foi a Svetlana, especialmente durante a terceira estória. Aliás, o relacionamento entre o Anton e a Svetlana não me soou a amor verdadeiro, mesmo depois de tudo o que ele fez por ela (a culpa é dos dois). Diria mesmo que o romance do Guesser e da Olga foi o mais verdadeiro do livro, embora tenha sido pouco desenvolvido.
Noutra nota, há ali no meio um capítulo que fez rebolar a rir. Ri-me tanto que as pessoas que estavam comigo no café ficaram a olhar-me como se eu fosse meia doida. Depois, mais tarde, percebi que aqueles momentos mais relaxantes, augoravam algo de muito mau para o Anton (que foi o centro das situações caricatas: uma envolvendo champanhe e o chefe nu, outra envolvendo uma troca de corpos e o conhecimento dos homens sobre o uso de pensos higiénicos. XD )
É difícil dar uma classificação a este livro, pois deixou-me com sentimentos mistos, no entanto posso dizer que o autor criou um mundo soberbo, dando também a conhecer um pouco da Rússia e dos seus costumes. Com personagens únicas e que marcam, deu voltas e reviravoltas que me surpreenderam uma e outra vez (algo que eu tenho dificuldade em encontrar, recentemente), deu-me que pensar e fez-me amar, odiar e sonhar. Um excelente livro de Fantasia Urbana, que nunca se torna simples nem monótono. Só tenho pena de não ter conseguido desfrutar dele tanto quanto sei que poderia ter feito.
Tradução de Natália Vakhmistrova
Capa de Ana Espadinha
Nota: Será que alguém me pode explicar porqué é que o nome do autor está Serguei (português) e Sergei (inglês), quando o original é Sergey (como comprovado no site do autor)? Qual foi a ideia? Eu muito gosto quando "traduzem" os nomes dos autores ...
Outra coisa ... mas será possível justificarem preços destes? 20€ por livro? Assim nunca mais vou poder ler a sequela (se calhar o remédio é mesmo ler em inglês). E já agora, quando pretendem editar o quarto livro (Last Watch)? É que já lá vão 2 anos desde "Os guardiães do Crepúsculo".
Já ando atrás deste livro há imenso tempo. Por uma série de razões, ainda não consegui "agarrá-lo". No entanto, depois desta tua opinião, vou torná-lo numa prioridade. Agora seria interessante veres o filme para comparares as duas versões =D
ResponderEliminarFábio,
ResponderEliminarÉ mesmo isso que pretendo fazer. Devo ver o filme ainda esta semana e assim que vir, vou colocar aqui a opinião e uma comparação.
Aconselho-te a lê-lo pois é certamente um livro muito bom, eu é que não estive tão na disposição como gostaria, mas mesmo assim adorei.
Já estive mais perto de o adquirir, mas nunca o cheguei a fazer. Ultimamente também me anda a conhecer rir-me enquanto leio, por uma ou outra cena específica. É engraçado, e é a prova do poder dos livros :)
ResponderEliminarTiago
Comecei a ler este livro na Bertrand, e só as partes das pragas apaixonou-me. Para minha grande infelicidade e extrema desgraça, a biblioteca só tem o segundo livro. Mas enfim, é uma biblioteca que tem umas quatro edições do D. Quixote, e no entanto não há uma única primeira parte disponível. O que o Cervantes não tem, um obscuríssimo escritor lá desse planeta que é a Rússia também não tem direito a ter, suponho.
ResponderEliminarA reler "Os Maias"? (Ou foste daquelas que no 11º não se aguentaram com ele? É que se sim, deixamos aqui de nos falar, que eu estou em luta aberta contra o cronista da SuperInteressante, para provar que o raio é que os estudantes de 17 anos não conseguem ler Os Maias.)
Rekoa, acredita que não é só a tua biblioteca que tem esse tipo de coisas, a mim aconteceu-me o mesmo cenário com os livros da Juliet Marillier, que eu queria ler, mas eles só tinham o segundo volume da triologia Seven Waters. Bummer!
ResponderEliminarQuanto aos Maias, estou a LER, porque confesso que durante a leitura obrigatória, não consegui passar do primeiro capítulo, por duas razões:
1) Achei as descrições tão enfadonhas,m que ficava com alergias só de pensar em lê-lo;
2) Uma colega fez o favor de saltar para o fim do livro e depois contar a toda a gente como terminava. Eu ODEIO spoilers!
E prontos, é isso, mas sinceramente, acho que mesmo que a 2ª razão nunca tivesse ocorrido, eu não ia desfrutar muito do livro. É maçudo demais para aquela idade e sinceramente, não são fã de críticas sociais, mas como é clássico português, vou lê-lo.
Confesso que já tinha visto esta obra nas livrarias mas que nunca me tinha chamado a atenção, e muito menos sabia que existia um filme do mesmo. No entanto, agora espero lê-lo, não para já, mas ainda este ano.
ResponderEliminarEm relação a"Os Maias", consegui lê-lo até o final (aliás, fui o único da turma a consegui-lo), mas acredita: não gostei, nada.
Tanta, tanta descrição não faz o meu género...
Obrigado pela passagem pelo meu blog, já sou teu seguidor ;)
Eu tenho este livro e outros, pois são três cá em casa mas ainda não os li.
ResponderEliminarMas com o que li aqui da tua opinião ainda fiquei mais curiosa.
Obrigada pelo comentário no nosso blog.
Beijinhos
De facto, não se entende porque raio a Presença não avança e traduz a Last Watch (ou Final Watch, dependendo da editora). Já não é a primeira vez que a colecção Via Láctea (que de resto é um excelente colecção), desilude com opções editoriais instáveis, ou começam séries no fim, como a Série Drenai, ou não lhes dão continuidade.
ResponderEliminarQuando aos livros de Lukianenko apenas tenho a dizer que o homem é um génio. A sua abordagem de seres sobrenaturais é completamente diferente da minha, por exemplo, eu jamais descreveria vampiros como ele o faz, porém, mesmo assim conseguiu conquistar-me.
Excelentes personagens, num misto de banal, quase humano, e extraordinário, entre drama e humor, no meio do qual apreendemos um pouco sobre a Rússia pós-queda da URSS.
Quanto a que lado escolheria tenho de concordar contigo, Ana, as Trevas em vez da Luz. Não tanto pelas falhas da guarda Diurna, mas antes pelo que ela representa, moralismo, enquanto a guarda Nocturna é pela liberdade.
Não obstante, a minha personagem favorita é o Semion.