"As Velas Ardem até ao Fim", de Sandór Márai (Dom Quixote)
Já há uns anos que tinha vontade de ler este livro, pois tinha escutado muito boas opiniões acerca dele. E como foi uma das escolhas do Clube de Leitura de Braga acabei por ter a desculpa perfeita para finalmente o ler.
As Velas Ardem até ao Fim conta-nos a história, ou trechos da vida de um homem que esperou anos para confrontar o seu antigo melhor amigo sobre o que se passou no dia que marcou a vida de ambos e as mudou para sempre.
O melhor e, ao mesmo tempo, o pior deste pequeno romance é a sua narrativa unilateral e focada, que nos mostra somente o que o narrador uno sabe, sente e assume. Não temos acesso às outras personagens, às suas circunstâncias, aos seus sentimentos, senão através dos olhos do próprio narrador. E apesar de o narrador parecer querer esclarecer o que realmente se passou tantos anos antes, o que realmente se desenrola acaba por ser uma espécie de chapada virtual na cara do leitor, pois nunca sabemos a verdade. Apenas sabemos a verdade dele.
Por esta razão o narrador é a única personagem que realmente o leitor conhece a fundo, conhece bem, entende, ama ou odeia. Mas apesar de não nos conseguirmos ligar a outras personagens, a verdade é que a narração nos leva a querer conhecê-las, a querer saber o que as move, o que realmente se passou.
O leitor é então levado a imaginar o que terá acontecido e acredito que cada pessoa vá imagina uma coisa diferente.
A prosa é muito boa e este livro tem trechos lindíssimos, que merecem ser relembrados, e só tenho pena de não ter uma cópia minha (requisitei o livro na biblioteca). Certas linhas fazem-nos realmente reflectir sobre a vida. Algumas das minhas partes favoritas do livro foram a divagação e o diálogo sobre a amizade e o seu significado. No entanto também existem momentos mais maçadores e por vezes o narrador divaga demais, mesmo para um livro tão curto.
Em suma, é-me difícil dizer se adorei o livro pois se é verdade que amei certos trechos e a forma como o autor geriu a narrativa e a sua visão unilateral, também é verdade que eu estava desejosa de saber a verdade da boca do amigo, e que algumas partes narrativas se esticavam demasiado. Por isso gostei e recomendo mas estou dividida, ao contrário do protagonista que sabia muito bem qual era a sua verdade. :)
Podem ver a minha opinião em vídeo AQUI.
Sinopse:
Um pequeno castelo de caça na Hungria, onde outrora se celebravam elegantes saraus e cujos salões decorados ao estilo francês se enchiam da música de Chopin, mudou radicalmente de aspecto. O esplendor de então já não existe, tudo anuncia o final de uma época. Dois homens, amigos inseparáveis na juventude, sentam-se a jantar depois de quarenta anos sem se verem. Um, passou muito tempo no Extremo Oriente, o outro, ao contrário, permaneceu na sua propriedade. Mas ambos viveram à espera deste momento, pois entre eles interpõe-se um segredo de uma força singular...
domingo, 30 de agosto de 2015
Drácula
"Drácula", de Bram Stoker (Europa-América)
Opinião:
Já não era a primeira vez que começava a ler Drácula mas a experiência foi totalmente diferente, o que, de certa forma, prova que o nosso estado de espírito e a experiência são determinantes para o quão desfrutamos de um livro, ou não.
Acredito que outra situação que beneficiou também esta segunda leitura foi o facto de ter lido o livro bastante devagar, entre outras leituras que ia fazendo. Creio que se o tivesse lido todo de uma vez o fosse achar mais maçador.
Provavelmente quase toda gente conhece a premissa base para este livro, mas para quem possa não saber Drácula começa quando Jonathan é enviado à Transilvânia para tratar de facilitar a mudança de um riquíssimo e temido conde para Londres. Dito conde esconde muitos mistérios e a vida de Jonathan e amigos nunca mais será a mesma. Ora, nem preciso mencionar que existem vampiros, pois não? :)
A história deste clássico é bastante fácil de adivinhar, embora certos momentos, como a perseguição do Conde de volta a casa, tenham sido diferentes do que esperava, assim como também o cativeiro de Jonathan e o jogo psicológico que o antecedeu. Esta parte, em especial, foi muito do meu agrado pois transmitiu verdadeiro terror e fascínio. Depois a história muda-se para Londres e é aí onde a repetitividade se começa a assentar e os erros de algumas das personagens chegam a irritar. Quando Lucy começa a ficar doente e Van Hellsing finalmente faz a sua entrada triunfal, os homens são tão imbecis que, uma e outra vez, deixam a rapariga sozinha de noite, ou nas mãos de gente incapaz de permitir que ela fique pior. Isto irritou-me sobejamente porque não foram duas mas três vezes que isto aconteceu e como é possível o leitor acreditar na inteligência de Van Hellsing quando ele comete erros tão básicos? Esta foi, sem dúvida, a parte que menos gostei do livro.
Fora isso gostei de quase tudo, especialmente da amizade da Lucy com a Mina, o amor entre Mina e Jonathan, a amizade dos cavalheiros e o desfecho da história.
E apesar do excessivo machismo presente na obra, sem dúvida fruto da sua época, a verdade é que adorei a obra e esse machismo apenas me fez rir, porque quando Van Hellsing se vira para a Mina e lhe diz que vai ter de lhe pedir para se manter afastada deles, mantendo-a fora dos seus segredos, porque ela é demasiado frágil para toda aquela aventura, só me apeteceu rir.
E compensação o elo de amizade que nasceu entre os quatro homens foi uma coisa bonita de se ver.
Já o Drácula foi uma personagem muito misteriosa ao longo de todo o livro. Frio e distante, manipulador e menos carismático do que esperava, mas cruel ao ponto certo. os seus poderes realmente apanharam-me de surpresa, mas foi uma boa surpresa. Realmente temos no livro um Drácula bem diferente do do filme Drácula de Bram Stoker o que é estranho, tendo em conta o título do filme (permissão para revirar olhos).
Quanto à prosa devo dizer que a abordagem tipo diário conseguiu cativar-me e funcionou bem para a história. o autor descreve as paisagens e locais, em especial, funciona muito bem e não chega a aborrecer. As diferentes abordagens nos diferentes diários também estavam bem conseguidos.
Em suma, para mim Drácula é um clássico inconstestável, que me trouxe algumas surpresas, apesar de alguns trechos serem demasiado descritivos e haver lugar a muitas repetições que poderia ter sido eliminadas sem que nada de importante se perdesse da história.
Com personagens muito interessantes e um grande foco nas relações entre elas, Drácula traz-nos uma personagem sobre quem já tanto se escreveu (nos séculos que seguiram a publicação deste mesmo), e que ainda assim tanto tem para nos mostrar. Recomendo!
Opinião em vídeo pode ser vista AQUI.
Sinopse:
Drácula é um dos
melhores clássicos de terror de sempre. Bram Stoker maravilha com a sua
descrição dos lugares e dos pontos de vista de cada uma das personagens.
O livro está estruturado na forma de vários diários escritos pelos
protagonistas (à excepção do próprio Drácula), oferecendo uma
perspectiva única da experiência individual.
Links Relacionados: Ebook no Project Gutenberg - Livro na Wook 1 - Livro na Wook 2 - Ebook no Bookdepository - Ebook na Amazon.com
sábado, 1 de agosto de 2015
A Guerra dos Mundos
"A Guerra dos Mundos", de H.G. Wells (publicado por várias editoras em Portugal)
A Guerra dos Mundos é um clássico por boas razões. Apesar de ter sido escrito em finais do século XIX, a verdade é que o livro não está nada datado. Nada mesmo!
Esta opinião vai ser curtinha porque, sinceramente, não tenho quase nada de mal a apontar ao livro e são só coisas boas. :)
A história, como devem saber, retrata uma invasão alienígena, pelos olhos de um homem que presencia tudo desde o início, na primeira pessoa.
A imaginação por detrás desta história é excelente, mesmo agora quando se pode dizer que já vimos de quase tudo. As descrições do autor são muito visuais e é fácil o leitor sentir que está lá, ao lado do narrador. E pode-se dizer que o livro é tanto sobre a guerra e as suas consequências, como sobre um homem que apenas quer reencontrar a família. Há um equilíbrio entre os dois.
As personagens que o protagonista vais conhecendo acabam por perder-se no mar de caos, mas todas têm suficiente 'polpa' para serem mais que figuras perdidas no texto. E o protagonista, claro, é o mais bem explorado de todos e os seus sentimentos pela família são quase palpáveis.
Por seu lado a prosa consegue dar uma imagem muito boa ao leitor e o texto é muito acessível e cheio de energia, mesmo na versão original (que podem ler gratuitamente através do Project Gutenberg). A única falha que tenho a apontar é que, apesar de o livro estar todo contado na 1ª pessoa, e por isso só devermos ter acesso ao que o protagonista vê e sente, existem algumas cenas que o protagonista claramente não presenciou mas que são ainda assim narradas com todos os detalhes. Mesmo que alguém lhe tivesse contado o sucedido, nunca seria com tanto pormenor, e isso distraiu-me um pouco, mas não muito.
Em suma, A Guerra dos Mundos é um clássico rico, acessível e que merece ser lido por todos. Recomendo!
Sinopse:
Publicado pela primeira vez em 1898, essa obra-prima de ficção especulativa de H.G. Wells aterrorizou e divertiu gerações de leitores, gerou inúmeras imitações e serviu de inspiração a mestres como Orson Welles e Steven Spielberg.
Por tempos, os homens foram estudados à distância pelos marcianos, que nos observavam como quem analisa micróbios por um microscópio. No final do século XIX, entretanto, eles partem para a Terra e aterrissam nos arredores de Londres. À primeira vista, os marcianos parecem risíveis: mal conseguem se mover, e não saem da cratera criada pelo pouso de sua espaçonave. Mas, conforme seus corpos começam a se acostumar com a gravidade terrestre, eles revelam também seu verdadeiro poder. Os marcianos são máquinas biomecânicas assassinas com mais de 30 metros de altura, que destroem tudo a sua volta. Aniquilando toda tentativa de retaliação do exército britânico, eles rapidamente eles chegam à capital britânica, que é evacuada às pressas por uma população desesperançada.
A Guerra dos Mundos é um clássico por boas razões. Apesar de ter sido escrito em finais do século XIX, a verdade é que o livro não está nada datado. Nada mesmo!
Esta opinião vai ser curtinha porque, sinceramente, não tenho quase nada de mal a apontar ao livro e são só coisas boas. :)
A história, como devem saber, retrata uma invasão alienígena, pelos olhos de um homem que presencia tudo desde o início, na primeira pessoa.
A imaginação por detrás desta história é excelente, mesmo agora quando se pode dizer que já vimos de quase tudo. As descrições do autor são muito visuais e é fácil o leitor sentir que está lá, ao lado do narrador. E pode-se dizer que o livro é tanto sobre a guerra e as suas consequências, como sobre um homem que apenas quer reencontrar a família. Há um equilíbrio entre os dois.
As personagens que o protagonista vais conhecendo acabam por perder-se no mar de caos, mas todas têm suficiente 'polpa' para serem mais que figuras perdidas no texto. E o protagonista, claro, é o mais bem explorado de todos e os seus sentimentos pela família são quase palpáveis.
Por seu lado a prosa consegue dar uma imagem muito boa ao leitor e o texto é muito acessível e cheio de energia, mesmo na versão original (que podem ler gratuitamente através do Project Gutenberg). A única falha que tenho a apontar é que, apesar de o livro estar todo contado na 1ª pessoa, e por isso só devermos ter acesso ao que o protagonista vê e sente, existem algumas cenas que o protagonista claramente não presenciou mas que são ainda assim narradas com todos os detalhes. Mesmo que alguém lhe tivesse contado o sucedido, nunca seria com tanto pormenor, e isso distraiu-me um pouco, mas não muito.
Em suma, A Guerra dos Mundos é um clássico rico, acessível e que merece ser lido por todos. Recomendo!
Sinopse:
Publicado pela primeira vez em 1898, essa obra-prima de ficção especulativa de H.G. Wells aterrorizou e divertiu gerações de leitores, gerou inúmeras imitações e serviu de inspiração a mestres como Orson Welles e Steven Spielberg.
Por tempos, os homens foram estudados à distância pelos marcianos, que nos observavam como quem analisa micróbios por um microscópio. No final do século XIX, entretanto, eles partem para a Terra e aterrissam nos arredores de Londres. À primeira vista, os marcianos parecem risíveis: mal conseguem se mover, e não saem da cratera criada pelo pouso de sua espaçonave. Mas, conforme seus corpos começam a se acostumar com a gravidade terrestre, eles revelam também seu verdadeiro poder. Os marcianos são máquinas biomecânicas assassinas com mais de 30 metros de altura, que destroem tudo a sua volta. Aniquilando toda tentativa de retaliação do exército britânico, eles rapidamente eles chegam à capital britânica, que é evacuada às pressas por uma população desesperançada.
I am the Messenger
"I am the Messenger", de Markus Zusak (ainda não publicado em Portugal)
Depois de ler A Rapariga que Roubava Livros do mesmo autor, mesmo sabendo que I am the Messenger tem uma premissa completamente diferente, a vontade de ler mais do autor era muita e esta livro tinha-me sido já muitas vezes recomendado (especialmente a Carla do Cuidado com o Dálmata).
Este livro conseguiu cativar-me logo no primeiro capítulo, que adorei. Tanta personalidade e uma prosa sarcástica e divertida que me agarrou logo nos primeiros instantes e me manteve envolvida até ao fim.
I am the Messenger conta a história de Ed, um rapaz normal, taxista, incapaz de se confessar à rapariga de quem gosta, com uns amigos fantásticos e um cão adorável. Mas Ed não está contente com a vida que tem, ele quer alo mais, mas quando algo inesperado lhe acontece, será que ele está preparado para fazer que for necessário?
É-me difícil falar deste livro porque não posso falar muito sem fazer spoilers, mas vou tentar.
A trama é inesperada a cada viragem. O tema geral pode até ser previsível mas a forma como nos é entregue surpreende e testa tanto o Ed como o leitor. por exemplo, na primeira missão que o Ed tem, ele vacila e não faz nada, numa situação que é limite e que o leitor sente que deveria haver intervenção. Mas isso apenas serve para mostrar-nos do que o Ed é feito e como ele pode mudar e agir, quando assim tem de ser.
Há muitas cenas poderosas no livro, muitas lições que se podem tirar daqui, mas o autor nunca dá sermões, nunca espeta as lições na cara do leitor. Elas são óbvias, mas não impostas. Cada um tira delas o que bem entender.
Só houve uma coisa que não gostei assim muito no livro todo: o final. Não gostei da revelação de quem estava por detrás de tudo. Não gosto quando os autores fazem este tipo de revelações intrusivas. Mas não posso dizer que foi isso que me fez gostar menos do livro.
As personagens são todas fenomenais e cheias de camadas. Especialmente o Ed, o Marvin e o Ritchie. A Audrey, talvez por ser o alvo da maior atenção do Ed, a mim pareceu-me mais insípida. Mas gostei mesmo foi da Milla e da sua história comovente e da sua interacção com o Ed. Também achei muito interessante a interacção do Ed com a família. Afinal todas as famílias são complicadas.
A escrita do autor é sarcástica, acutilante e por vezes bem divertida. Mas também séria e realista. Gostei muito!
Em suma, I am the Messenger foi uma bela surpresa de um autor cujo trabalho pretendo seguir com atenção daqui para a frente. Uma história com muitas histórias, muitas emoções e personagens marcantes. Recomendo!
Nota: Esta opinião baseou-se na versão audiolivro (listening Library), narrada por Marc Aden Grayy, que eu recomendo especialmente pelo sotaque do narrador que dá um toque ainda mais especial ao livro.
Sinopse (edição brasileira, pela Intrínseca):
Venha conhecer Ed Kennedy. Dezenove anos. Um perdedor.
Seu emprego: taxista. Sua filiação: um pai morto pela birita e uma mãe amarga, ranzinza. Sua companhia constante: um cachorro fedorento e um punhado de amigos fracassados.
Sua missão: algo de muito importante, com o potencial de mudar algumas vidas. Por quê? Determinado por quem? Isso nem ele sabe.
Markus Zusak, autor do best-seller A Menina que Roubava Livros, nos fornece essas respostas bem aos poucos neste incomum romance de suspense, escrito antes do seu maior sucesso. O que se sabe é que Ed, um dia, teve a coragem de impedir um assalto a banco. E que, um pouco depois disso, começou a receber cartas anônimas. O conteúdo: invariavelmente, uma carta de baralho, um ou mais endereços e... só. Fazer o que nesses lugares? Procurar quem? Isso ele só saberá se for. Se tentar descobrir. E, com o misto de destemor e resignação dos mais clássicos anti-heróis, daqueles que sabem não ter mesmo nada a perder nesse mundo, é o que ele faz.
Ed conhecerá novas pessoas nessa jornada. Conhecerá melhor algumas pessoas nem tão novas assim. Mas, acima de tudo, a sua missão é de autoconhecimento. Ao final dela, ele entenderá melhor seu potencial no mundo e em que consiste ser um mensageiro.
Booktrailer:
Depois de ler A Rapariga que Roubava Livros do mesmo autor, mesmo sabendo que I am the Messenger tem uma premissa completamente diferente, a vontade de ler mais do autor era muita e esta livro tinha-me sido já muitas vezes recomendado (especialmente a Carla do Cuidado com o Dálmata).
Este livro conseguiu cativar-me logo no primeiro capítulo, que adorei. Tanta personalidade e uma prosa sarcástica e divertida que me agarrou logo nos primeiros instantes e me manteve envolvida até ao fim.
I am the Messenger conta a história de Ed, um rapaz normal, taxista, incapaz de se confessar à rapariga de quem gosta, com uns amigos fantásticos e um cão adorável. Mas Ed não está contente com a vida que tem, ele quer alo mais, mas quando algo inesperado lhe acontece, será que ele está preparado para fazer que for necessário?
É-me difícil falar deste livro porque não posso falar muito sem fazer spoilers, mas vou tentar.
A trama é inesperada a cada viragem. O tema geral pode até ser previsível mas a forma como nos é entregue surpreende e testa tanto o Ed como o leitor. por exemplo, na primeira missão que o Ed tem, ele vacila e não faz nada, numa situação que é limite e que o leitor sente que deveria haver intervenção. Mas isso apenas serve para mostrar-nos do que o Ed é feito e como ele pode mudar e agir, quando assim tem de ser.
Há muitas cenas poderosas no livro, muitas lições que se podem tirar daqui, mas o autor nunca dá sermões, nunca espeta as lições na cara do leitor. Elas são óbvias, mas não impostas. Cada um tira delas o que bem entender.
Só houve uma coisa que não gostei assim muito no livro todo: o final. Não gostei da revelação de quem estava por detrás de tudo. Não gosto quando os autores fazem este tipo de revelações intrusivas. Mas não posso dizer que foi isso que me fez gostar menos do livro.
As personagens são todas fenomenais e cheias de camadas. Especialmente o Ed, o Marvin e o Ritchie. A Audrey, talvez por ser o alvo da maior atenção do Ed, a mim pareceu-me mais insípida. Mas gostei mesmo foi da Milla e da sua história comovente e da sua interacção com o Ed. Também achei muito interessante a interacção do Ed com a família. Afinal todas as famílias são complicadas.
A escrita do autor é sarcástica, acutilante e por vezes bem divertida. Mas também séria e realista. Gostei muito!
Em suma, I am the Messenger foi uma bela surpresa de um autor cujo trabalho pretendo seguir com atenção daqui para a frente. Uma história com muitas histórias, muitas emoções e personagens marcantes. Recomendo!
Nota: Esta opinião baseou-se na versão audiolivro (listening Library), narrada por Marc Aden Grayy, que eu recomendo especialmente pelo sotaque do narrador que dá um toque ainda mais especial ao livro.
Sinopse (edição brasileira, pela Intrínseca):
Venha conhecer Ed Kennedy. Dezenove anos. Um perdedor.
Seu emprego: taxista. Sua filiação: um pai morto pela birita e uma mãe amarga, ranzinza. Sua companhia constante: um cachorro fedorento e um punhado de amigos fracassados.
Sua missão: algo de muito importante, com o potencial de mudar algumas vidas. Por quê? Determinado por quem? Isso nem ele sabe.
Markus Zusak, autor do best-seller A Menina que Roubava Livros, nos fornece essas respostas bem aos poucos neste incomum romance de suspense, escrito antes do seu maior sucesso. O que se sabe é que Ed, um dia, teve a coragem de impedir um assalto a banco. E que, um pouco depois disso, começou a receber cartas anônimas. O conteúdo: invariavelmente, uma carta de baralho, um ou mais endereços e... só. Fazer o que nesses lugares? Procurar quem? Isso ele só saberá se for. Se tentar descobrir. E, com o misto de destemor e resignação dos mais clássicos anti-heróis, daqueles que sabem não ter mesmo nada a perder nesse mundo, é o que ele faz.
Ed conhecerá novas pessoas nessa jornada. Conhecerá melhor algumas pessoas nem tão novas assim. Mas, acima de tudo, a sua missão é de autoconhecimento. Ao final dela, ele entenderá melhor seu potencial no mundo e em que consiste ser um mensageiro.
Booktrailer:
O Último Adeus
"O Último Adeus", de Lí Marta (Edições Vieira da Silva)
Este livro é uma espécie de memória recontada, não da autora, mas de seus familiares, num tempo em que ela ainda não era nascida. Histórias passadas recontadas em família e alteradas na ficção apenas o suficiente para não ferirem susceptibilidades. E, parece-me, aí reside o maior problema do livro, no seu cuidado por não ferir os sentimentos das pessoas nele retratadas. O que de certa forma se entende, por serem família, mas não se compreende pois o leitor procura verdade não editada em memórias (mesmo quando estas se assumem como semi-ficção).
O romance conta-nos a história de um casal apaixonado que vive muitas dificuldades para sobreviver e criar os filhos, mas que são felizes até ao momento em que uma trágica doença leva o marido para longe.
O romance é bastante bonito e não demasiado lamechas, o que é bom. Há sentimento, tanto entre as personagens como, claramente, no próprio modo de prosa que o conta. No entanto achei que aquelas cenas que aconteceram, quando o homem já estava doente e a mulher o foi visitar, foram demasiado inverossímeis. Julgo que esta foi uma das partes ficcionais do livro e se não o foi peço desculpas mas a improbabilidade de a mulher não ter ficado com a doença (altamente contagiosa) depois de tudo aquilo era bastante improvável e pareceu muito onírica. Bela, sem dúvida. Romântica, com certeza. Verossímil, dificilmente.
Quanto às personagens, fora o casal principal e mais uma ou outra, a maioria passou-me ao lado. As mulheres normalmente eram definidas primariamente pela sua beleza física (da qual elas nunca estavam conscientes), mas os poucos homens pareceram ter mais consistência. Outra coisa que senti, especialmente no fim do livro, foi que a autora tinha receio de dizer mal das personagens. Todas elas eram razoavelmente boazinha. Não havia conflito!
A prosa é bonita mas usa muito da exposição narrativa e deixa pouco ao leitor para descobrir por si mesmo. É muito literal, quase jornalística, o que será bom para quem goste mais desse tipo de escrita.
Também usa muito de diálogos para se fazer explicar, para desenrolar os momentos, para mostrar as personagens, o que é excelente, mas alguns diálogos não são fluídos e mais parecem mecanizados.
Em suma, O Último Adeus é um leitura leve, com um tema pesado e um grande respeito pelas pessoas nele retratadas. O romance é tocante e o leitor preocupa-se com as personagens centrais. No entanto o respeito da autora pelas personagens fez com que a prosa se tornasse demasiado simples, sem camadas, e a história falhasse em mostrar conflito. Dito isto, julgo que o livro irá agradar a fãs de memórias e de romances.
Este livro foi a leitura de Outubro 2014 do Clube de Leitura de Braga.
Sinopse:
Baseado numa história verídica, vivida entre os distritos de Viseu e Aveiro. Passamos por localidades como Tondela, Caramulo, Sernancelhe, Moimenta da Beira e Águeda. Três gerações de primogénitas vivem grandes histórias de amores inesquecíveis.
Dionora vive pobremente mas feliz com António. Até ao dia em que descobrem a doença fatal vivida nos anos cinquenta, a tuberculose. Com a morte do marido, Dionora deixa de ter forças para viver.
Luzita, a primogénita de Dionora, terá de lutar pelo primeiro amor da sua vida, um homem de classe ligeiramente superior à dela. Só que o destino salpicou-lhe a vida de negro.
Lídia, a primogénita de Luzita, vive também um grande amor. Mas fica nas suas mãos dar continuidade ao último adeus. Será que é capaz?
Este livro é uma espécie de memória recontada, não da autora, mas de seus familiares, num tempo em que ela ainda não era nascida. Histórias passadas recontadas em família e alteradas na ficção apenas o suficiente para não ferirem susceptibilidades. E, parece-me, aí reside o maior problema do livro, no seu cuidado por não ferir os sentimentos das pessoas nele retratadas. O que de certa forma se entende, por serem família, mas não se compreende pois o leitor procura verdade não editada em memórias (mesmo quando estas se assumem como semi-ficção).
O romance conta-nos a história de um casal apaixonado que vive muitas dificuldades para sobreviver e criar os filhos, mas que são felizes até ao momento em que uma trágica doença leva o marido para longe.
O romance é bastante bonito e não demasiado lamechas, o que é bom. Há sentimento, tanto entre as personagens como, claramente, no próprio modo de prosa que o conta. No entanto achei que aquelas cenas que aconteceram, quando o homem já estava doente e a mulher o foi visitar, foram demasiado inverossímeis. Julgo que esta foi uma das partes ficcionais do livro e se não o foi peço desculpas mas a improbabilidade de a mulher não ter ficado com a doença (altamente contagiosa) depois de tudo aquilo era bastante improvável e pareceu muito onírica. Bela, sem dúvida. Romântica, com certeza. Verossímil, dificilmente.
Quanto às personagens, fora o casal principal e mais uma ou outra, a maioria passou-me ao lado. As mulheres normalmente eram definidas primariamente pela sua beleza física (da qual elas nunca estavam conscientes), mas os poucos homens pareceram ter mais consistência. Outra coisa que senti, especialmente no fim do livro, foi que a autora tinha receio de dizer mal das personagens. Todas elas eram razoavelmente boazinha. Não havia conflito!
A prosa é bonita mas usa muito da exposição narrativa e deixa pouco ao leitor para descobrir por si mesmo. É muito literal, quase jornalística, o que será bom para quem goste mais desse tipo de escrita.
Também usa muito de diálogos para se fazer explicar, para desenrolar os momentos, para mostrar as personagens, o que é excelente, mas alguns diálogos não são fluídos e mais parecem mecanizados.
Em suma, O Último Adeus é um leitura leve, com um tema pesado e um grande respeito pelas pessoas nele retratadas. O romance é tocante e o leitor preocupa-se com as personagens centrais. No entanto o respeito da autora pelas personagens fez com que a prosa se tornasse demasiado simples, sem camadas, e a história falhasse em mostrar conflito. Dito isto, julgo que o livro irá agradar a fãs de memórias e de romances.
Este livro foi a leitura de Outubro 2014 do Clube de Leitura de Braga.
Sinopse:
Baseado numa história verídica, vivida entre os distritos de Viseu e Aveiro. Passamos por localidades como Tondela, Caramulo, Sernancelhe, Moimenta da Beira e Águeda. Três gerações de primogénitas vivem grandes histórias de amores inesquecíveis.
Dionora vive pobremente mas feliz com António. Até ao dia em que descobrem a doença fatal vivida nos anos cinquenta, a tuberculose. Com a morte do marido, Dionora deixa de ter forças para viver.
Luzita, a primogénita de Dionora, terá de lutar pelo primeiro amor da sua vida, um homem de classe ligeiramente superior à dela. Só que o destino salpicou-lhe a vida de negro.
Lídia, a primogénita de Luzita, vive também um grande amor. Mas fica nas suas mãos dar continuidade ao último adeus. Será que é capaz?
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