quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Jesus Cristo bebia berveja

"Jesus Cristo bebia cerveja" de Afonso Cruz (Alfaguarra)


Sinopse:
“Parece que a morte vem sempre à tona da água.”, frases como estas marcam o tom do novo e esperado romance de Afonso Cruz.
Com a originalidade que o caracteriza, Afonso Cruz, constroí uma narrativa de personagens singulares e marcantes, numa terra quase imaginária, que é o Alentejo.
Uma pequena aldeia alentejana transforma-se em Jerusalém graças ao amor de uma rapariga pela sua avó, cujo maior desejo é visitar a Terra Santa. Um professor paralelo a si mesmo, uma inglesa que dorme dentro de uma baleia, uma rapariga que lê westerns e crê que a sua mãe foi substituída pela própria Virgem Maria, são algumas das personagens que compõem uma histórica comovente e irónica sobre a capacidade de transformação do ser humano e sobre as coisas fundamentais da vida, como o amor, o sacrifício e a cerveja.
Este livro inclui a oferta do mini-western A morte não ouve o pianista.


Opinião:
Apesar de já ter lido alguns contos e um livro do autor, não sabia muito bem o que esperar deste "Jesus Cristo bebia cerveja", já que era o primeiro trabalho de Afonso Cruz que leio sem ter fantasia pelo meio. É ficção na mesma, mas num registo um pouco diferente.

No início adorei este livro; a forma como estava escrito, as suas personagens e as suas mentalidades de habitantes de aldeia (fora os que se armavam em filósofos); mas depois, aos poucos, o livro foi descendo de nível até se tornar num estudo de sexismo e mentalidade retrógrada. Isto teria sido bem mais interessante se não fosse levado a extremos.
A cerne da história é boa, o seu início é fabuloso e o seu fim é mais que digno (excepto aquele último capítulo que foi um pouco demais). Por outro lado, do meio para a frente, a história tornou-se banal e revoltante. Uma revolta que não é das boas.
Lembro-me que foi mais ou menos este o sentimento com que fiquei em relação a Os Livros que Devoraram o Meu Pai, do mesmo autor, o que poderá indicar um padrão, para mim enquanto leitora.

Em relação à personagens, as pequenas coisas que as distinguiam no início do livro, foram-se perdendo lá pelo meio, até que, já muito perto do final, elas se foram misturando e transformando numa massa indistinta de homens tarados e mulheres badalhocas (perdoem-me os termos). Mas, tal como em relação à trama, também no fim muitas das personagens se redimiram e voltaram a separar-se da personalidade una.

Uma coisa que me incomodou um pouco ao longo do livro, foi a falta de definição temporal. Por um lado temos coisas bastante modernas e, por outro, as personagens comportam-se como se fossem dos anos 60 ou antes. Não parece verossímil que seja moderno mas também não parece ser de há umas décadas atrás e essa indecisão não joga a favor do livro.
A escrita do autor agradou-me, pois é crua, por vezes até desconfortável, mas também muito própria. No entanto acho que divagou demasiado em filosofias e os diálogos transformavam-se quase sempre em monólogos existencialistas, fosse qual fosse a personagem em cena, o que era no mínimo estranho.

O pequeno conto que acompanha o livro, e cuja edição foi um pequeno mimo, está engraçado e lê-se bem depois de saber a influência que teve no livro principal. Contudo foi um pouco curto demais.

Em suma, este livro leu-se muito bem e teve momentos absolutamente excepcionais, mas também teve alguns que me fizeram bradar aos céus. É um livro interessante, mas não é tão bom como o início prometia, nem tão bom como o final merecia.

Capa, Design e Edição:
A capa parece ter sido propositadamente criada para chamar a atenção. Em conjunto com o título (que, aliás, pouco tem a ver com a história, o que acaba por ser negativo), acaba por ser um chamariz ao debate. Não sou fã da capa, mas também não desgosto.
No interior temos letras bem granditas, num livro que se lê muito bem. o trabalho de design não é digno de nota mas também não merece reprovação.

Nota: Já repararam que o título pode ser diminuído para Jesus Cristo b.c. (before christ)? Hehe! Terá sido propositado? E como notou o Manuel Cardoso no encontro do Clube de Leitura de Braga, Afonso Cruz fica a.c., o que é ainda mais curioso.

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