Opinião:
Antes de mais, acho que devo dizer que esta opinião não abrange todos os contos da antologia original. Li a versão audiolivro que, só mais tarde percebi, não continha todos os contos. Tem cerca de metade. No entanto penso que será igualmente interessante dar a minha opinião sobre os contos que li.
Alguns dos contos que li são verdadeiramente interessantes e percebo porque terão sido considerados de entre "os melhores". No entanto, e isto é tudo uma opinião pessoal, poucos me marcaram de tal forma que possa dizer que ficaram sendo dos meus contos favoritos de todos os tempos. Além disso parece-me impossível não notar que, de todos os contos que li, nenhum era de ficção especulativa (ou pelo menos não o era de forma clara). Por isso seria mais correcto chamar esta uma antologia de ficção geral/normal e não simplesmente uma antologia dos melhores contos americanos, sendo que vários géneros foram deixados de fora (incluindo a não ficção). Será que os contos que não li da antologia abrangem outros géneros que não a ficção geral/história? Se algum de vocês souber digam nos comentários.
Mas deixando de lado estas questões a verdade é que gostei de alguns dos contos e recomendo esses. Não recomendo no entanto a versão áudio deste livro (Isto é raro acontecer!). A versão audiolivro conta com narradores muito variados, alguns dos quais talentoso mas a maioria dos quais parecem amadores sem grande interesse pelo trabalho que estão a fazer ou pelas histórias que estão a narrar. Foi-me, por vezes, realmente difícil abstrair do narrador e forcar na história. E isso é o pior que um narrador de audiolivros pode fazer.
Os meus contos favoritos foram: "The German Refugee", Bernard Malamud; "The Shawl", Cynthia Ozick; "How To Win", Rosellen Brown; "Proper Library", Carolyn Ferrell
Ficam abaixo as minhas opiniões conto a conto, com uma classificação que vai de 0 a 10 pontos.
"The Other Woman", Sherwood Anderson
Uma ideia simples, sobre um homem que parece ter tudo para ser feliz, mas que mina a sua própria felicidade por razões que nem ele entende. Gostei da auto-negação presente em todo o texto mas a história em si não teve nada de original.
Nota: 5,5
"Theft", Catherine Ann Porter
A narradora audio deste conto não o favoreceu nada.
Gostei do texto, de todo o visual narrativos e dos diálogos. Aquele final foi tão surreal quanto natural, no contexto do resto da história.
Nota: 6
"Crazy Sunday", F. Scott Fitzgerald
A prosa é lindíssima, bem como o ambiente glamouroso em que as personagens se inserem. no entanto as personagens não me cativaram. Em uma ou outra situação gostei mas no geral achei-as plácidas demais.
Nota: 5
"Gold Coast", James Alan McPherson
No início tive mesmo muita dificuldade em entender o que o narrado estava a dizer. Tem um ... bem ... não sei se é sotaque ou se é mesmo a sua forma de falar, mas parecia que comia sílabas e era muito difícil seguir o que estava a dizer. Depois de me habituar foi fácil mas ... foi um início confuso.
Tirando isso, acho que temos aqui o caso de uma personagem que floresce e prospera no formato conto. Uma história banal que nos narra uma parte da vida de um homem que começa a trabalhar com todo o entusiasmo do mundo e que depois, aos poucos, se vai deixando afectar pelo negativismo dos outros e quando termina pouco resta do seu eu inicial. Temos também aqui umas críticas sociais muito interessantes e dolorosas.
Nota: 6,5
"The Interior Castle", Jean Stafford
Auch! Só de pensar em algumas das descrições desta narrativa já fico com dores no nariz. Este conta-nos a história de uma mulher, que ninguém sabe muito bem quem é, e que sofreu um terrível acidente automobilístico que a desfigurou. Ela não recebe visitas e mostra-se apática durante toda a sua estadia no hospital. E se isso a princípio levava a que muitos tivessem pena dela, cedo isso se alterou. A relação dela com o médico que lhe vai operar o nariz é linda de se ler. Não é que fiquemos a saber muito sobre ela, a acidentada, mas é impossível largar o conto. Gostei!
Nota: 7
"The German Refugee", Bernard Malamud
Um conto envolvente, que nos leva a conhecer um jovem que sobrevive dando explicações linguísticas a recém-chegados aos Estados Unidos da América, e a sua vivência com um refugiado alemão, durante a segunda guerra mundial. O conto não se foca na guerra, mas sim na deterioração do personagem do refugiado, sozinho, longe de tudo o que conhece, e consumido por uma culpa que não é perceptível até quase o final. Adorei a escrita e as personagens.
Nota: 8
"The Shawl", Cynthia Ozick
Uma história que me deixou angustiada, tanto porque, ao longo de todo o texto, realmente não sabemos ao certo onde as personagens estão nem o que realmente se está a passar (podemos pressupor, mas há tantas opções), como pela escrita que sufoca. É muito directa, curta, simples, acutilante. Gostei muito!
Nota: 8
"How To Win", Rosellen Brown
Um dos melhores contos da antologia. Com umas reflexões muito interessantes sobre a parentalidade e o matrimónio, o que realmente faz com este conto se destaque é o facto de, no início parecer que nos vai levar numa direcção (a mãe que não suporta mais o temperamento louco do filho) e no fim ... BAM ... levamos um estalo na cara, tal e qual como ela. Adorei!
Nota: 8,5
"I Want To Live", Thom Jones
As descrições dos processos da doença tocaram-me profundamente, bem como a solidão que a personagem sentia, embora estivesse sempre rodeada de amigos. Há aqui momentos muito intensos e com os quais qualquer pessoa se poderá relacionar, mas também achei que, por vezes, se estendia demasiado numa direcção menos interessante e o final desiludiu-me. Ainda assim, acho que toca o tema do cancro, do seu tratamento e da sua angústia, de uma forma crua e que vale a pena ler.
Nota: 6,5
"Birthmates", Gish Jen
Uma lindíssima história sobre um homem cujo casamento terminou após vários abortos. Um homem que trabalha numa indústria em extinção e que, parece também ele, pronto a extinguir-se. A sequência de acção desta história e a forma como ele vai-se recordando da vida com a esposa, dos momentos da gravidez, e de tudo o que poderia ter feito de diferente, é impossível não sentir uma ligação com ele. Gostei muito!
Nota: 7,5
"Wild Plums", Grace Stone Coates
Nem sei bem o que diga deste conto. Tão depressa começa como acaba e, no fim, fiquei sem perceber se ele tem algo a dizer. É suposto ser uma metáfora a alguma coisa? É que se sim não foi nada perceptível.
Nota: 4
"Here We Are", Dorothy Parker
Neste conto seguimos as primeiras horas (ou minutos) da vida de casados de um homem e uma mulher que não se entendem nem por nada. Ela, a típica mulher que nunca sabe se quer uma coisa ou outra (estereótipo ao extremo), ele o típico homem que concorda com ela só para a calar. Gostei da dinâmica dos diálogos mas não da história nem dos estereótipos.
Nota: 4
"Christmas Gift", Robert Penn Warren
Há tanto por dizer nesta história! Adorei a escrita, as personagens, e os mistérios que rodeiam a vida do rapaz que foi à vila, a meio da noite, em busca do médico para assistir ao parto da sua "prima". Muito é dito. Muito fica por dizer. E o final é tão aberto mas o mesmo tempo tão acertado para a história, que não sei se fiquei satisfeita ou não.
Nota: 7,5
"The Hitch-Hikers" Eudora Welty
Eu gostei deste conto sobre o encontro entre um condutor que já conhece meio mundo, por viajar tanto, e dois "hitch-hikers" a quem ele dá boleia e sobre quem ele pouco ou nada sabe, o que torna a tragédia que acontece ainda mais intensa.
Nota: 7
"The Second Tree From The Corner", E.B. White
Esta história segue a sequência de pensamentos de um paciente numa (e várias) consultas de psiquiatria. Este conto consegue ter uma prosa interessante, mas a história em si não me agarrou.
Nota: 5
"Gesturing", John Updike
Este conto cativou-me de uma forma estranha. Fala-nos de um homem que se separa da esposa, com quem mantinha um relacionamento liberal que lhe permitia ter amantes e que dava à sua esposa a possibilidade de fazer o mesmo. A forma como os dois encaram esta relação, de forma plácida, quase automática, é o mais estranho de tudo, e por isso mesmo cativante. A obsessão dele com um edifício feito totalmente de espelhos, e a apatia com que segue com a vida, é também fascinante.
Nota: 7,5
"A City Of Churches", Donald Barthelme
Uma história estranha que parece meia ficção científica meia alucinação. É bastante curta mas nem fi pela sua dimensão que não me interessei pelo conto, mas antes porque além do cenário, não havia muito de interessante no texto ou na história.
Nota: 4
"The Things They Carried", Tom O'Brien
Um texto bem diferente, que nos narra histórias de guerra acompanhadas de intensas listas de itens que os soldados carregam consigo e que, em última instância, nos dizem muito sobres esses soldados. Foi uma leitura muito interessante mas, mais uma vez, o final deixou bastante a desejar.
Nota: 6
"Where I'm Calling From", Raymond Carver
Cheio de personagens super-interessantes cujas histórias de vida o protagonista absorve e quase que torna suas. A vida dele confunde-se, ao longo da narrativa, com a dos outros homens internados para tratamento de alcoolismo, muitos deles reincidentes que arruinaram as vidas familiares à custa da bebida, e não só. Gostei muito deste texto, excepto pelo final.
Nota: 7
"You're Ugly Too", Lorrie Moore
Uma história muito estranha, que parece mundana e que segue a linha de pensamento de uma protagonista muito pessimista e que parece não ver nada de bom no mundo, mas que na verdade parece nem ter grandes razões para ser assim. Só parece, a principio, porque depois vamos conhecendo um pouco melhor. No entanto não gostei do tom da história nem dos diálogos que ele teve com outras personagens. Pareceu tudo bizarro demais.
Nota: 5
"Proper Library", Carolyn Ferrell
Esta é uma das melhores histórias deste livros. Começa de uma forma muito estranha e, sinceramente, deixou-me bastante confusa quanto ao género da personagem principal bem até meio do conto (o facto de o narrador audio ser do sexo oposto também não ajudou muito a dissipar as dúvidas). É uma história crua, directa, sem mais palavras, que fala da vida de uma personagem que parece deixar-se levar pela corrente dos acontecimentos, a quem nada parece afectar de verdade, mas que no fundo se deixa afectar por tudo. Em poucas palavras aborda temas como o bullying, o racismo e preconceito e a homossexualidade.
Nota: 8
"The Best Girlfriend You Never", Pam Houston
Este conto foca-se em duas personagens que têm tido, ao longo da vida, experiências de romance e "amor" bastante doentias. A intensidade das memórias da personagem principal é fantástica, especialmente pela calma com ela as transmite, apesar de serem situações muito abusivas, por vezes. Gostei bastante deste conto.
Nota: 7,5