"O Quinto Mandamento (John Rain 2)", de Barry Eisler (Saída de Emergência)
Sinopse:
John Rain só quer desaparecer para sempre. Mas um antigo némesis no FBI japonês quer que ele lhe faça um último favor: eliminar um assassino que mata sem remorsos e usa métodos semelhantes aos de Rain. Há demasiadas coisas em jogo - inclusive a vida dos poucos amigos que Rain tem e, especialmente, a vida de uma paixão do seu passado. Protegê-los implica mergulhar no meio de uma guerra entre
a CIA e a máfia japonesa, na qual as diferenças entre amigos e inimigos, a verdade ou a mentira, são tão obscuras como as ruas regadas pelas chuvas nocturnas de Tóquio. Será que Rain tem a frieza necessária para derrotar um inimigo que parece pensar como ele?
Opinião:
Em Fevereiro de 2011 (quase um ano atrás), li o
excerto deste livro, que a editora
disponibiliza online. As mais de oitenta páginas que li, abriram-me o apetite de ler o resto do livro, mas só no final do ano passado pude adquirir o volume para assim o ler. Escusado será dizer que o li assim que pude, ou não tivesse eu ficado curiosa depois de ler o
excerto.
O problema é que a 'separação' não deve ter sido das melhores, pois ao voltar à leitura, o sentimento já não era o mesmo. Será por culpa da minha disposição, ou terão os meus gostos mudado entretanto? Não saberia dizer, mas aqui fica a opinião sobre o livro completo.
A história é a de um assassino, daí que não se pode esperar acção amena, nem cenas censuradas. Aqui morre muita gente e as balanças bem/mal estão distorcidas. Isso não me incomoda num livro, desde que o autor não tente dar ao leitor lições de moral. E isso, em grande parte, não acontece neste livro, mas (há sempre um mas) de vez em quando o autor insere uns diálogos que nada mais parecem que sermões político-sociais sobre os seus pontos de vista em relação ao sistema do Japão. No início isto não me incomodou, mas mais no final já começou a irritar um pouco, apesar de não chegar ao ponto de me fazer fechar o livro. Um pouco menos de 'sermões' teriam sido apreciados.
Em termos de enredo, temos conspirações políticas,
yakuza (máfia japonesa), espiões, agências internacionais (CIA), combates ilegais,
hackers, prostituição, e um sem fim de coisas semelhantes, juntos numa massa consistente e interessante, sem sobrecarregar o leitor. Gostei da trama no geral, embora me parecesse que as resoluções para certos problemas fossem um pouco simples de mais.
A nível de personagens, o que mais gostei foi o Tatsu. No caso do Rain, é-me difícil apreciá-lo enquanto personagem, ou não fosse o seu carácter tão frio e calculista (apesar de ter rasgos de humanidade, mais parece uma máquina), o que não é de todo estranho, pois a personagem em si está muito bem estruturada. Simplesmente me parece difícil para o comum leitor associar-se e mesmo entender certas acções dele.
As restantes personagens também foram bem expostas, mesmo os criminosos (ou será melhor dizer, os do outro lado da justiça, pois aqui todos são um pouco criminosos), no entanto não posso deixar de referir que notei que os homens foram bastante mais estruturados e verossímeis do que as (poucas) mulheres que tiveram impacto na trama. Enquanto leitora feminina, senti isto, mas não ao ponto de me estragar a leitura.
A escrita do autor é muito acessível e ele tem o cuidado de explicar tudo o que seja provável não peretencer ao conhecimento geral. Isto é um bónus, pois ficamos muito mais informados e não com aquela cara de parvos a ter que ir fazer pesquisa (como acontece noutros livros). Nesse aspecto o autor ganhou muitos pontos, pois nota-se que faz um esforço para que o leitor saiba tudo o que é pertinente e o compreenda minimamente, sem que isso interrompa o desenvolvimento da trama. Isto é bom quando entramos num ambiente cultural diferente, como o Japão, e mesmo quando somos apresentados a técnicas de luta e segurança que não são tão conhecidos.
Ainda neste tema, devo dizer que adorei a forma como o autor descreveu Tóquio e arredores. O leitor consegue quase visualizar as ruas, as lojas, os habitantes e toda a envolvente da história. No entanto tenho também de dizer que em certas (poucas) ocasiões, o autor exagerava nas descrições, dando ao leitor pormenores que nada interessavam ou traziam de valor ao cenário ou à história.
Tenho ainda de referir que os diálogos são bons (fora os que no final começam a ser mais sermões que diálogos), assim como a prosa mas, tanto as cenas de acção como as de sexo são apenas medianas. Não se tornam aborrecidas, mas falta-lhes o seu quê de interessante. Nas cenas de acção isto acontece porque o autor é bastante técnico, como um militar, o que faz sentido na história, por isso não é necessariamente mau.
Em suma, este é um livro interessante, com um enredo complexo, personagens sólidas e ambíguas, prosa muito apelativa e atenção à informação distribuída, mas que no geral não surpreende como seria de esperar. É um livro que se lê muito bem e que consegue ser bastante informativo,
sem ser aborrecido, além de entreter durante umas boas horas.
Vale a pena ler, para fãs de acção, thrillers, conspirações políticas e mafiosas e eu pretendo ainda ler mais deste autor.
Tradução (Luís Coimbra):
Uma tradução cuidada, que se notou. Não apanhei erros de maior e só tenho que dar os meus parabéns ao tradutor pelo bom trabalho neste livro.
Capa, Design e Edição:
A capa é do mais generalista que pode existir para definir um livro que se passa no Japão e tem máfia envolvida. Pessoalmente, não me apela em absoluto e não tem quase nada a ver com a trama principal. A mulher não me parece ser nenhuma das que entram na história, o templo não tem qualquer relevância no enredo, a única coisa realmente semelhante a algo mencionado no livro é a sombra do homem a caminhar pelas ruas nocturnas.
O design interior está bastante cuidado, à semelhança do que a editora nos habituou e a edição parece também ter sido cuidada, já que não notei qualquer tipo de incongruências ao longo do livro. No geral, uma edição que vale a pena.
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