"O Décimo Terceiro Conto", de Diane Setterield (Editorial Presença)
Sinopse:
Vida Winter passou quase
seis décadas a iludir jornalistas e admiradores acerca das suas origens,
mantendo oculto o seu passado enigmático, tão enigmático como a sua
primeira obra, intitulada Treze Contos de Mudança e Desespero, e que
continha apenas doze. Porém, tudo isto pode estar prestes a mudar quando
Margaret Lea, biógrafa amadora, recebe uma carta da famosa escritora
convidando-a a redigir a sua biografia. Pela primeira vez, Vida Winter
vai contar a verdade, a verdade acerca de uma família atormentada por
segredos e cicatrizes. Mas poderá Margaret confiar totalmente nela? E
terá sido ela eleita depositária das confidências por um motivo
inocente? Um romance assombroso, que se tornou um bestseller imediato e
que será publicado em mais de trinta línguas.
Opinião:
Já há alguns anos que este livro estava na minha estante, à espera de ser lido. Reeditado recentemente, a minha edição é ainda a primeira, com a capa mais bonita (a dos livros).
O Décimo Terceiro Conto, ao contrário do que o título e a capa possa sugerir, não é um livro sobre livros. É antes um livro sobre uma escritora e a sua verdadeira história, e também de uma leitora, mas não tanto sobre os livros que elas lêem ou que marcaram as suas vidas.
A trama é surpreendente, na medida em que leva o leitor a acreditar numa coisa e depois, de forma muito brilhante, revela que, afinal de contas, não era bem como se esperava. Adorei a reviravolta final e não me senti atraiçoada pela obra. Afinal as pistas estavam lá. Bastava olhar com um pouco de mais atenção.
Contando a história de uma família muito disfuncional, numa casa que se torna, também ela, anormal. Desde o início que sabemos que esta história será uma sucessão de tragédias e, efectivamente, esse é tanto o ponto forte, como o ponto fraco do livro. A autora consegue fazer o leitor sentir mas não há nada de bom no meio, para compensar. Essa falta de felicidade torna a obra muito pesada, em determinados momentos e no geral. Só mesmo no fim temos um vislumbre de possível mudança, mas é tão breve que não chega para quebrar a fatalidade de toda a história.
Só achei duas coisas mal no desfecho: o facto de nunca se descobrir o que aconteceu a Emmeline/Adeline, ou seja, quem sobreviveu; o facto de não haver qualquer razão para a Vida ter abandonado o Ambrose, depois de ter apregoado o quanto o amava e sentia que ele era parte dela.
A nível de personagens, Vida é, sem sombra de dúvida, a alma do livro. Ou não fosse esta a sua história. Por outro lado, Lea é das protagonistas mais aborrecidas que conheci. No início era interessante, com o seu amor por livros, a sua família em cacos, e uma curiosidade nata. No entanto, à medida que o livro ia avançando, ela tornou-se mais e mais repetitiva, mais e mais uma espectadora cuja presença passou a ser quase banal, inconsequente. Não fosse o facto de ela ser o elo com o Ambrose, eu diria que ela se tornou prescindível. E já que falo no Ambrose, aí está outra personagem que me cativou, apesar de achar que merecia mais páginas.
Ainda assim, Vida foi soberba. A sua dor, a sua relutância em contar a verdade. Tudo foi muito bem conseguido, envolvendo o leitor até ele se sentir parte do seu relato.
A prosa da autora é muito rica e detalhada, dando vida a um role de personagens interessantes e a uma mansão que parecia, ela própria, uma personagem. A forma como leva o leitor a crer numa coisa, ignorando todos os sinais de outra coisa, é fascinante. Gostei muito da escrita, tendo marcado várias passagens.
Contudo, achei que podiam ter ligado melhor a história de vida da autora com a
sua obra. Fazia mais sentido, tendo em conta o título do livro.
Em suma, O Décimo Terceiro Conto é uma belíssima obra, uma história que merece ser apreciada, devagarinho. Só me arrependo de não o ter lido antes.
Nota: O Décimo Terceiro Conto foi a leitura de Março/Abril 2014, do Clube de Leitura de Braga.
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