quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Como água para chocolate

“Como água para chocolate” de Laura Esquível (Biblioteca Sábado)

Sinopse:
Toda a trama narrativa roda em torno da cozinha e de um certo número de elementos culinários. Cada capítulo abre com uma receita fora do comum (mas ao mesmo tempo perfeitamente realizável), a pretexto e em volta da qual não apenas se juntam os comensais, mas também se “cozem” e “temperam” amores e desamores, risos e prantos, e se celebra o triunfo da alegria e da vida sobre a tristeza e a morte.

Opinião:

Começo por dar-lhe pontos pela criatividade, pelo retrato da sociedade mexicana do início do século XX, pela paixão, pelo conhecimento de receitas antigas e formas de fazer coisas como fósforo e chocolate (que eu não fazia ideia de como se produzia) e pela originalidade.
Mas os pontos bons param mais ou menos por aí!
Para começar, no início, a escrita é enfadonha, infantil e no caso das receitas absolutamente insuportável. É do tipo: “Coloca isto na bacia e depois isto e depois isto e depois isto e depois isto …”. Percebem onde quero chegar? Sem dinâmica, sem apelo, sem … nada!
Felizmente isto muda nos capítulos seguintes e elas começam a ser mais variadas e a escrita mais razoável, sem nunca deixar de ser algo enfadonha.
As únicas alturas em que a escrita apressa o passo é nas partes em que se descrevem os resultados das receitas. Mais propriamente nas descrições de reacções eróticas.
Mas voltando às receitas … aquelas traduções estão de pôr os cabelos em pé! O que é uma Onça? Colher de quê? Sopa, chá, café, pau? Já para não falar das receitas que nem quantidades têm. Bem … sem comentários…
Mais uma coisa que me deixou de olhos esbugalhados foi o termo “Generala” que aparecia em itálico várias vezes no texto. Que raio é isso? As fêmeas são Generais na mesma, não são Generalas! (Ou eu é que estou confusa?)
Algo que também me fez desgostar do livro foram as personagens.
Odeio o Pedro, de morte! Ele foi um covarde, um estúpido e um abusador de primeira. Já mencionei covarde não já? Medricas!
A Rosaura era outra besta, mas nem tanto como a Tita, personagem da qual eu gostei a maior parte do livro, mas que assim que decidiu começar a ir para a cama com o Pedro, desceu na minha consideração. Ela devia respeitar a irmã, que estava casada com ele, mesmo estando os dois apaixonados. Ele casou-se com a Rosaura e por isso tinha responsabilidades para com ela. A Tita devia ter tido mais juízo e casado-se com o John que era um homem às direitas (e rico por sinal).
Claro que o mal veio de raiz e a culpa principal foi da Mamã Elena que era uma besta quadrada, mas prontos, eles os dois podiam-se ter limitado a fugir (porque afinal não perdiam nada com isso) e escusávamos de andar o livro todo a ver os dois a encornarem a Rosaura e o John.
Desculpem-me lá, mas traição para mim não vai lá, nunca!
Tenho que admitir que o facto de o livro ser “demasiado” fantasioso não me cativou. Sei que a fantasia era uma forma de expressar o amor, a paixão e os sentimentos, mas chegava a ser muito exagerado. Quer dizer … já foi ridículo o facto da Gertrudis “pegar fogo” ao chuveiro e ter de ser prostituta durante uns tempos para apagar o fogo do seu corpo, mas mais ridículo ainda foi o final do livro, em que os dois amantes, literalmente, incendiaram com a sua paixão.
Um livro que, a meu ver, está altamente sobrestimado.

Primeiramente publicado no Caneta, Papel e Lápis (2009/05/06).

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