quinta-feira, 30 de abril de 2015

A Cada Dia (Every day)

"A Cada dia (Every Day 1)", de David Levithan (Topseller)

A premissa deste livro foi o que mais atenção me chamou. Uma pessoa (não identificável como homem ou mulher) que acorda num corpo diferente todos os dias. Não é intrigante?

A, como gosto de ser chamado o protagonista, é uma personagem que aprendeu a viver com a sua condição desde bebé, possivelmente desde o seu primeiro dia de vida, e por isso mesmo não se vê nem como rapaz nem como rapariga, o género é-lhe indiferente, o que acaba por ser a sua melhor qualidade.

Mas apesar da premissa e apesar do A, eu estive mesmo, mesmo, mesmo para desistir do livro, logo no início. E porquê? Porque o livro começa com a mudança, sem nos mostrar a normalidade primeiro.
Deixem-me explicar: o A supostamente viveu os seus 16 aninhos a saltar de corpo em corpo todos os dias, sem se ligar verdadeiramenet a ninguém mas desfrutando do que tinha no presente e seguindo uma série de regras feitas por si, que incluem o tentar minimizar o seu impacto na vida da pessoa cujo corpo está a habitar, ou seja, evitar conflitos e acções fora do normal para a dita pessoa.
Ora, tudo isto nos é contado de forma relâmapago, mas nunca chegamos a ver isto em acção. Nunca vemos um A que segue as regras, pois logo no início ele começa a quebrá-las todas assim que conhece a  Rhiannon.
Isto criou um fosso entre mim, enquanto leitora, e a suposta premissa de mudança. Como posso aceitar a mudança se não a li? Enfim, o insta-romance também não ajudou nada, até porque no livro todo achei a  Rhiannon uma personagem insípida.

O enredo em si é aquele que fala na sinopse e pouco mais. Embora ali no meio o A cometa um erro que só praticamente no final vai ter reais repercursões, que parecem cair um pouco do nada, sinceramente (aparece o 'inimigo' e ao mesmo tempo a 'esperança' para poder haver sequela). Mas realmente essa nem é a parte mais interessante do livro. O melhor é ver o A a tentar agarrar-se a todo o tempo que pode roubar da  Rhiannon, com isso esquecendo as suas regras todas (que, como já disse, nós nunca chegamos a ver em acção). Mas mais interessante ainda são as vidas das pessoas cujos corpos o A habita à vez. E rapidamente é notório que o autor usou este livro também como uma forma de mostrar a sua posição em relação à homossexualidade, ou melhor, à comunidade LGBT. E é interessante ver como se foca no amor que estes encontram e a felicidade que eles sentem. Não esperem ler sobre a felicidade de um casal hetero aqui. Acho que não me lembro de nenhum (ou talvez um apenas).
Ei, se outros autores podem escrever um livro só com casais homossexuais, porque não pode o David Levithan fazer o oposto?


As personagens secundárias na verdade foram as mais ricas, depois do A. A Rhiannon, que deveria ser o outro pilar da história, fica bem atrás do Nathan em termos de interesse. Parece uma folha branca em termos de personalidade. Não gostei, sinceramente, ela ia com o vento e só mostrou um pouco de iniciativa bem no fim, e mesmo assim não o suficiente porque aceitou logo o 'arranjinho' que o A fez para ela não ficar só.
Oh, e o tema da solidão amorosa é tão exaustivo aqui! Eu bem sei que os jovens pensam assim, mas
tudo se resumia a quem ficava com quem, quem ia para a cama com quem, quem amava quem. E supostamente só têm 16 anos!

Mas não quero falar mais nisso que me enerva. Por isso falo agora da escrita do autor que me deixou um pouco decepcionada. Não é má mas também não é boa. É feita para um público jovem, e isso vê-se. Não é particularmente eloquente ou evocativa. Mas houve algo que me irritou na escrita, e foi o facto de apesar de o texto estar totalmente na voz de A e de este apenas ter acesso às mesmórias das pesssoas que visitava (seu corpo), ele falar como estivesse na cabeça das pessoas à sua frente. Especialmente dos/as namorados/as. A sério! Houve ali um episódio entre duas raparigas em que ele falava como se fosse a outra. Muito mau! Eu não gosto desses saltos de proximidade que não fazem sentido na narrativa escolhida.

Em suma, A Cada Dia foi um livro que me decepcionou, de certa forma, por não aproveitar bem as suas personagens, embora tenha usado bem a premissa. Por outro lado o final foi suficientemente conclusivo para não me deixar insatisfeita. No entanto, por todas as razões aqui apresentadas não tenho intenção de ler os livros seguintes.

Sinopse:
A cada dia, A acorda no corpo de uma pessoa diferente. Nunca sabe quem será nem onde estará. A já se conformou com a sua sorte e criou regras para a sua vida:
Nunca se apegar muito. Evitar ser notado. Não interferir.
Tudo corre bem até que A acorda no corpo de Justin e conhece Rhiannon, a namorada de Justin. A partir desse momento, as regras de vida de A não mais se aplicam. Porque, finalmente, A encontrou alguém com quem quer estar a cada dia, todos os dias.

Booktrailer:

4 comentários:

  1. Olá Ana,

    A premissa do livro também me chama a atenção. Mas estou um pouco hesitante em o ler precisamente pelas razões que mencionaste. Não quero que seja mais uma decepção.

    Beijinhos e boas leituras

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    1. Olá, Isaura!
      Eu não gostei mas pareço estar em minoria, se fores a ter em conta as opiniões na web. Não o recomendo mas podes sempre experimentar ler uma amostra (50 páginas ou assim) e acho que em menos que isso percebes se é ou não o tipo de livro que possas vir a gostar.

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  2. Olá,
    Ando à procura deste livro e não há meio de o encontrar em lado nenhum.
    Boas leituras.

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    1. Esgotou? É que há umas semanas atrás vi-o nas Bertrands, mas agora não sei.

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