quinta-feira, 26 de maio de 2011

A Filha da Floresta

"A Filha da Floresta (Sevenwaters 1)", de Juliet Marillier (Bertrand Editora)

Sinopse:
Passada no crepúsculo celta da velha Irlanda, quando o mito era Lei e a magia uma força da natureza, esta é a história de Sorcha, a sétima filha de um sétimo filho, e dos seus seis irmãos.
O domínio Sevenwaters é um lugar remoto, estranho, guardado e preservado por homens silenciosos e Criaturas Encantadas que deslizam pelos bosques vestidos de cinzento e mantêm as armas afiadas. O maior perigo para este idílio vem de dentro: Lady Oonagh, uma feiticeira, que casou com o pai de Sorcha, senhor de Sevenwaters. Frustrada por conseguir encantar todos menos a enteada, Oonagh lança um poderoso feitiço sobre os irmãos da rapariga, que só Sorcha poderá conseguir quebrar. Porém, a meio da pesada tarefa de libertar os irmãos, Sorcha é raptada por um grupo de salteadores, e ver-se-á dividida entre o dever de salvar a vida dos irmãos e um amor cada vez maior, proibido, pelo senhor da guerra que a capturou.


Opinião:
É-me um pouco difícil expressar correctamente o que senti com a leitura deste livro. Parece-me que comecei a lê-lo no momento errado da vida (com a minha mãe doente), mas ainda assim consegui admirá-lo e, a certa altura, adorá-lo. Li-o devagar ... muito devagar. Sem pressas de qualquer espécie, de tal forma que por vezes até me irritava com a minha vagareza, mas a verdade é que é um livro que me pareceu que merecia ser lentamente apreciado. E apesar dos imensos elogios que sempre ouvira relativamente a esta obra, tentei começar a leitura sem expectativas (embora na verdade nunca o consigamos, quando todos nos dizem que é bom). Por isso deixo aqui o agradecimento às muitas pessoas que me 'pressionaram' para ler o livro. Valeu a pena, e aqui ficam algumas das razões porquê:


O que mais gostei no livro, foi sem dúvida o foco na união familiar. Adorei a relação entre os irmãos, e como estes se apoiavam mesmo em situações que pareciam duvidosas, e nunca parecendo forçado. É lindo ver uma relação assim e só tive pena de não ter tido mais páginas para conhecer ainda melhor todos seis irmãos (espero que isto seja mais aprofundado nos próximos volumes). Em cada diálogo e em cada descrição que a Sorcha fazia dos momentos que tinha com os irmãos, notava-se o amor e o elo que os unia.
Também no caso do Simon e do Red isto se notou, embora de forma um pouco menos notória, mas não menos interessante. A forma como Red partiu, sozinho, em busca de Simon, mostrou definitivamente que os receios do Simon em relação ao amor da família não tinham fundamento.


A caracterização das personagens está fabulosa. Todas têm vida própria e têm bastante profundidade, distinguindo-se umas das outras e tornando a narrativa muito mais interessante. Sorcha destaca-se por razões óbvias, pois além de ser a protagonista, tem uma personalidade excelente e todas as suas acções ao longo do livro comprovam o que o leitor assume logo desde o início da narrativa: que a Sorcha pensa mais nos outros do que em si mesma e é capaz de dar a vida pelos irmãos 8além de ser bastante ingénua em certas situações).
Mesmo as personagens secundárias conseguiam destacar-se por serem bastante independentes.
Quanto aos vilões, achei que a maioria deles foram pouco caracterizados, também por culpa de a Sorcha ter pouca interacção ter com eles (sendo ela a narradora é natural que a sua visão seja limitada). Oonagh pareceu-me muito interessante e promete ainda muitos sarilhos, mas infelizmente o Richard, enquanto vilão, deixou muito a desejar, especialmente quando começou a divulgar os seus planos (está certo que ele só o fez porque pensou que a Sorcha nunca falaria, mas ainda assim ...).

Gostei muito do final, pelo que representou para Sorcha e Red, no entanto achei que todos em Sevenwatres aceitaram o novo 'estado das coisas' um pouco depressa demais (em relação à Sorcha). Claro que nós, enquanto leitores, sabíamos que era o mais acertado, mas a família da Sorcha, depois de tudo o que se passou, não deviam aceitar tão ... facilmente toda a situação.

Adorei também todas as Lendas e Fábulas que nos eram apresentadas ao longo da narrativa, e claro não me escapou (assim como também Sorcha se apercebeu) que a história deles dava também uma dessas narrativas heroícas, e que a autora conseguiu transmitir da melhor forma.

A autora é uma contadora de histórias nata, e isso percebe-se em cada linha. Adorei a narrativa e achei que a escrita estava extremamente cuidada, no entanto, parece-me que ela falhou em certos momentos cruciais, pecando pela falta de detalhes. Refiro-me concretamente a dois momentos: 1) quando Sorcha vê pela primeira vez Oonagh, em que a autora nos diz de imediato que ela é má, mas o problema é que a autora se esquece de descrever porque é que Sorcha achou isto desde o primeiro momento em que a viu. Tem de haver uma razão, certo? E ao não explicar, ficamos simplesmente com a ideia que a Sorcha não tem razões para a odiar (pelo menos não até mais tarde);  2) Quando os irmãos são amaldiçoados. A autora escolheu descrever a transformação apenas numa curta frase, e quando terminou eu nem tinha percebido o que se tinha passado, pois foi muito curta e pouco explicativa. Parece-me que um momento alto da trama como aquele, merecia mais atenção e descrição.
Em contrapartida, a autora tem descrições maravilhosas das florestas, das lendas e até do passado das personagens, mas em situações como as acima referidas, fica a dever muito à narrativa, fazendo com que estes momentos percam força.

No geral, esta foi uma história excelente, que me manteve colada às páginas quase desde o início, e que me apresentou personagens fabulosas que adorei (especialmente Sorcha, Finbar, Red e Simon), que me fez chorar várias vezes mas que também me aqueceu o coração em vários momentos. Adorei! E embora a história termine de uma forma semi-satisfatória, a verdade é que há ainda muito para contar e mal posso esperar para regressar a Sevenwaters.
Parece-me que a saga Sevenwatres tem sérias hipóteses de se vir a tornar uma das minhas favoritas, se os restantes livros forme tão bons ou melhores que este.

Tradução:
Apesar de a tradução estar bastante boa, ao longo da leitura reparei em alguns erros, por vezes de fraseamento, outros de tradução. Foram muito poucos, e não incomodaram a leitura, por isso não lhes prestei grande atenção, mas foi impossível não reparar.

Capa, Design e Edição:
Apesar de não ser o tipo de capa que me chama à primeira vista, confesso que me 'afeiçoei' a ela ao longo da leitura. Retrata bastante bem o ambiente do livro e um pouco da história central.
Tenho que fazer também um comentário à impressão, pois encontrei muitas páginas onde algumas letras estavam 'apagadas', não por ser uma edição antiga, mas possivelmente por um defeito de impressão. Era sempre no fundo das páginas, e embora se percebessem as palavras por conjugação, a verdade é que era chato estar a ler e faltarem letras.

10 comentários:

  1. deste-me ainda mais vontade de ler este livro. obrigada pela opinião.

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  2. :D Mais uma fã da Juliet. Agora ao ler a tua opinião até tive um bocadinho de inveja por ainda não ter lido esta série. :P

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  3. Agora que li a tua opinião estou cheia de vontade de reler o livro! O problema é que não o tenho aqui... :'(
    A Juliet Marillier é das minhas autoras preferidas. Concordo com muitas das coisas que disseste, relativamente a coisas que faltaram na obra ou podiam ter sido desenvolvidas de forma a dar mais qualidade ao livro. Mas, mesmo assim, eu gostei tanto!!! =D Fico contente por teres gostado também.

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  4. A capa é mto gira. Adorei a opinião, fiquei com imensa vontafe de ler este livro! :)
    Beijinhos,

    Renata Leite
    www.pedacinholiterario.com

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  5. Aah... O maravilhoso momento em que lemos Juliet pela primeira vez :)
    Já disse a outras pessoas, e volto a dizê-lo, sinto sempre uma satisfação e orgulho especiais quando vejo alguém a descobrir Juliet pela primeira vez, esse primeiro livro que não se esquece :)
    A Juliet é a minha escritora favorita há anos, e apesar de ir lendo outros autores que acabam por chegar ao mesmo nível, tem um valor emocional para mim que impossibilita que seja destronada como principal favorita!

    Concordo com todas as apreciações que referiste, sem bem que não achei muito forçado, quer a aceitação do Red, quer a caracterização da Lady Oonagh quando a Sorcha a viu, e as duas coisas pela mesma razão: a fortíssima componente de intuição e de aceitação do "não visível" que está patente nesta família, devido às fortes tradições do folk irlandês. Principalmente Sorcha, bastante mais sensível neste aspecto, sentiu imediatamente o "lado negro" da Lady Oonagh. Eu pelo menos interpretei assim, mas já li há tanto tempo e tantas vezes (sim, reli esta trilogia várias vezes :P) que é possível que a minha apreciação esteja toldada.

    Além disso, não desvalorizando essa tua avaliação, mas desculpando um pouco estas falhas, este foi o primeiro livro da Juliet, que nunca tinha escrito nenhum romance antes. Infelizmente para nós só começou aos 50!

    Fico muito contente que tenhas gostado, espero que leias o resto da trilogia em breve.
    As melhoras para a tua mãe.

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  6. "A Filha da Floresta" foi o primeiro motivo pelo qual Marillier se tornou a minha autora favorita, opinião reforçada por muitas outras obras dela. Adoro o modo como ela constrói as personagens a nível psicológico e o sofrimento que lhe causa (ser "herói" num livro de Marillier é penar para merecer tal título).

    Quanto à cena da transformação, a primeira vez que li também tive dificuldade em entender o que acontecera, contudo, creio que a ideia da autora seria mesmo criar confusão, da mesma maneira como Sorcha deve ter achado a situação caótica.

    Sobre a aceitação de Red, no segundo livro verás que não foi tão rápida quanto isso, muito pelo contrário nas cenas finais do primeiro livro os irmão estão a testar o valor dele. Não obstante, muita dessa aceitação veio da história que ele contou, sem grande talento, mas expondo o coração, sendo que naquela família contar histórias é algo muito importante e profundo. E claro não nos podemos esquecer que a justeza com que Lord Colum trata Red reflecte a recuperação do primeiro, após ter perdido a sua anterior sabedoria.

    Espero que leias os seguintes em breve :)

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  7. (Já consigo comentar, thanks blogger!)

    Ninguém constrói personagens como a Juliet, ou consegue contar tão bem uma história, she's The Master! Este é o meu preferido dela, mas cheira-me que às tantas vais gostar mais do segundo volume Ana. Já que tens lá um vilão mais...grrrr.
    Concordo plenamente ali com o Vitor, todos os heróis e heroínas desta autora sofrem bastante antes do happy ending, de uma maneira ou de outra, e a Sorcha é um bom exemplo disso. É impossível não ficar com o coração apertadinho durante todo o livro, com medo do que lhe possa acontecer a seguir.

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  8. Bem, parece que é desta que vou deixar de adiar a leitura desta autora. :)

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  9. Ainda bem que gostaste :D Estás a ver, nós faziamos tanta pressão por alguma razão. A escrita da Juliet transporta-nos a sério para o mundo que descreve.

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  10. Boas! Alguém que já tenha lido 'A Filha da Floresta' está interessado em vender o livro?
    Obrigada :3

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